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chaVenezuela - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta, de Caracas] O desabastecimento na Venezuela faz parte, em primeiro lugar, da campanha da direita, que conta com o apoio dos grandes capitalistas, de desestabilizar o governo chavista. Mas, ao mesmo tempo, as políticas do governo chavista fazem parte da crise.


Foto: Wikimedia Commons (Domínio Público)

O chavismo não buscou ampliar e diversificar a indústria. No processo de nacionalização das empresas privadas, faltou capacitação e falta de vontade, controladoria, apesar de, no geral, ter havido recursos, que, em grande medida, foram desviados. E principalmente, o grande capital não foi expropriado, de conjunto, além de os acordos com o imperialismo terem sido mantidos.

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Sobre o crescente descontentamento da população, por causa da crise econômica, a sociedade está se radicalizando. A política da direita busca impor uma nova onda neoliberal, um plano de ajuste. As massas se encontram controladas e mediatizadas pelas políticas chavistas.

A forte queda do preço do petróleo no mercado mundial deixou claro que a política chavista de basear o governo em programas sociais sustentados na bonança petrolífera estava com os dias contados. Era insustentável e estava esgotada, de maneira muito similar, guardadas as devidas diferenças, com o que aconteceu em relação aos países da Europa Oriental e da União Soviética.

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O chavismo chegou ao poder nas eleições de 1998. Pelo direcionamento da renda petrolífera para os programas sociais foram obtidos resultados importantes. A educação universitária gratuita contempla hoje 2,6 milhões estudantes, mais do triplo do número anterior; a saúde pública foi reforçada pela Misión Barrio Adentro, com mais de 25 mil médicos cubanos; o índice oficial de pobreza foi reduzido de 48% para 27%; o analfabetismo foi eliminado com a ajuda dos cubanos; a fome foi reduzida de 21% para 5%; as aposentadorias contemplam mais de dois milhões de pessoas, mais de sete vezes o número anterior; foram entregues 900 mil moradias mobiliadas etc.

Mas as várias tentativas de avançar no chamado “Socialismo do Século XXI” têm se enfrentado com os mecanismos sociais, políticos e econômicos capitalistas e, principalmente, com a dominação imperialista.

Socialismo sem Revolução?

O chavismo tem evoluído com base no respeito à democracia. Como não existe a democracia em abstrato, mas a democracia em benefício de determinadas classes sociais, as dificuldades para transpor as principais barreiras têm ficados impossíveis de serem superadas.

O poder do grande capital continua intacto, apesar do enfraquecimento da direita após os golpes fracassados de 2002 e de 2003 (greve golpista da PDVSA). A pressão do imperialismo é gigantesca.

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A regulação do capitalismo não conduz à destruição. Para isso, é preciso destruir o aparato do Estado burguês, em primeiro lugar, e susbtitui-lo pelo povo armado. Essa é a tarefa histórica da classe operária mundial. Hoje, justamente, está colocado a ascenção da classe operária nos países desenvolvidos, por causa do aprofundamento da crise capitalista, pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial.

As próprias leis do capitalismo geram a autorreprodução, ou seja, mais capitalismo a partir da pequena produção, por exemplo.

O chavismo tem sido um sério e pontual pagador da dívida pública que nunca foi auditada, nem questionada.

A crise capitalista na base do colapso da "Revolução Bolivariana"

A crise capitalista mundial tem atingido em cheio a Venezuela. Para este ano, se espera uma contração da economia de até 10%. A inflação, apesar de não existirem números oficiais, poderá superar os 150%, a maior do mundo. Maduro declarou em outubro que a inflação terminaria o ano em 80%.

Em 2014, esse número foi de 68,5% de acordo com os dados do Banco Central, medidos pelo INPC, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor. Em Caracas, a inflação teria sido de 64,7%.

A inflação esperada para este ano é de aproximadamente 160%, segundo analistas. Com o objetivo de compensar a queda da renda petrolífera, o governo chavista aumentou as emissões de bolívares de 1,2 trilhões no início de 2014 para 2 trilhões em janeiro de 2015 e mais de 3,5 bolívares em dezembro de 2015.

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O valor do salário mínimo é de 9.648 bolívares. Esse valor duplica com os benefícios trabalhistas. O aumento do salário mínimo na Venezuela foi de 137% neste ano, com 30% aprovado no dia 1 de novembro, um mês antes das eleições legislativas.

Os capitalistas resistem às regulações. O salário mínimo, por causa da desvalorização, caiu para cerca de US$ 20 mensais, considerando os benefícios sociais, o que impacta fortemente o consumo.

O mesmo acontece com os produtores que desviam recursos públicos para produzir produtos mais lucrativos que os produtos controlados, que estão ligados à cesta básica.

O governo “rebola” e aplica boa parte da renda petrolífera e das reservas internacionais para importar alimentos, que caíram de US$ 30 bilhões em 2012 para menos da metade. Mesmo assim, isso é insuficiente e as longas filas para comprar produtos subsidiados são enormes.

Assista documentário sobre o desabastecimento na Venezuela:

A política do governo contra os especuladores e os “desabastecedores” tem sido tímida devido às contradições existentes na própria base chavista, onde os setores mais direitistas são favoráveis às reformas e à ampliação dos acordos como imperialismo e a direita.

As empresas dos capitalistas sabotadores não têm sido expropriadas nem colocadas sob o controle dos trabalhadores. Em parte, as experiências de anteriores nacionalizações de industrias e outras empresas têm sido negativas. O burocratismo, os desvios de verbas e a falta de controle levou a que a maioria dessas empresas não tenham saído do chão.

Os capitalistas exigem aumentos dos preços monumentais. Por exemplo, os pecuaristas querem que o preço da carne seja triplicado e o do leite aumentado em dez vezes.

A especulação financeira com a política cambial é gritante. Os capitalistas obtêm dinheiro a preços baixíssimos e os vendem no mercado negro por dezenas de vezes o preço, ao invés de aplicá-lo na produção. De acordo com cálculos do governo, teriam sido desviados dezenas de bilhões de dólares dessa maneira nos últimos anos.

A queda da renda petrolífera rachou a base do chavismo. A inflação e o desabastecimento, potencializadas pelas sabotagens dos grandes capitalistas, escalaram o descontentamento da população.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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