CNE informou o resultado da votação em que a direita opositora conseguiu maior número de assentos na Assembleia Nacional. Foto: AVN
De acordo com os dados do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), com o 96,03% dos votos contabilizados, o GPP (Grande Polo Patriótico), liderado pelo PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela), elegeu 46 deputados, 24 deles eleitos como representantes nominais e 22 por lista.
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A direita unificada na MUD (Mesa da Unidade Democrática) elegeu 99 deputados, 72 deles eleitos como representantes nominais e 27 por lista.
O abstencionismo foi de 25,5%.
O discurso dos setores mais radicais da direita, como o da esposa de Leopoldo López, Lilian Tintori, foi de reconciliação, de paz, de cumprimento da Constituição.
Esses resultados colocaram em xeque o chavismo, que encabeçou a presente onda do nacionalismo burguês latino-americano.
A análise do chavismo, e principalmente da crise atual do chavismo, representa uma das tarefas fundamentais para o entendimento do estágio atual da luta de classes na América Latina.
E agora?
O percentual de participação nas eleições legislativas foi muito superior aos tradicionais 40% que, no caso das eleições presidenciais, é de aproximadamente 20%.
A conjuntura atual se tornou mais difícil para o chavismo por causa da guerra econômica promovida pela direita e pelo aprofundamento da crise capitalista. A Venezuela é um pais dependente do petróleo.
Com a perda do controle da Assembleia Nacional, a direita poderá encaminhar um referendo revogatório no próximo ano contra o governo do presidente Nicolás Maduro.
O que está colocado é a contenção do aprofundamento da crise para salvar os lucros dos grandes capitalistas. A inflação é a maior do mundo e supera os 150%. A desvalorização do bolívar impactou em cheio o poder de compra por causa de dependência dos produtos importados. O salário mínimo, incluindo os benefícios, é de US$ 20 mensais, no mercado paralelo. O desabastecimento faz parte da guerra econômica e também da paralisia das empresas públicas. Os programas sociais consomem mais de 40% do orçamento público.
Na Venezuela, está colocada a mesma política que o imperialismo tenta impor para toda a América Latina, um plano de ajuste contra as massas trabalhadoras e a entrega do petróleo para os monopólios.
A pressão sobre o chavismo deverá se intensificar e a tendência será a rachar. A ala que busca o acordo com a direita poderá ser o eixo para criar uma frente única para o ajuste. É exatamente a mesma política que vemos na Argentina, com Macri, ou no Brasil, na imposição dos ataques contra as massas. Essa política não foi imposta por meio de um golpe de Estado, mas por meio da política da “contrarrevolução democrática” de Obama na América Latina.
A direita buscará impor o ajuste usando a receita do neoliberalismo. Mas depende do controle das massas, o que, neste momento, é impossível sem uma frente única com setores do chavismo. Ao mesmo tempo, essa política tende a fortalecer a ala revolucionária do chavismo, principalmente a ala ligada aos movimentos sociais.
Questões que serão analisadas em matérias específicas
- Os mecanismos eleitorais chavistas;
- O “socialismo do século XXI”;
- O nacionalismo burguês latino-americano;
- A crise capitalista na Venezuela;
- Nascimento, evolução e crise do chavismo;
- Derrota do chavismo e golpe de Estado;
- O chavismo e o PSUV;
- O PSUV e o movimento de massas
Direita internacional viola lei eleitoral na Venezuela
[Alejandro Acosta, de Caracas. Atualizado às 20:30 (Brasília) de 6.12.2015] O presidente da Assembleia Nacional de Venezuela, Diosdado Cabello, acabou de aparecer na Televisión Oficial de Venezuela apoiando a medida tomada pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral) retirando a condição de observadores do processo eleitoral venezuelano aos ex presidentes Andres Patrana (Colômbia), Jorge Quiroga (Bolívia) e Laura Chincilla (Costa Rica).
Disdado Cabello. Foto: ANTV
A partir de um centro eleitoral da direita venezuelana eles disseram que o horário eleitoral deveria ser finalizado imediatamente, contra a orientação do CNE de que todas as pessoas que estiverem nas filas poderiam votar, mesmo após as 18:00, como já aconteceu nas eleições anteriores.
Segundo o regulamento do CNE, os observadores nacionais e acompanhantes internacionais não podem emitir opiniões antes do término do processo eleitoral nem induzir, persuadir ou orientar o eleitorado. Também é proibido exercer uma função que corresponde apenas ao CNE e a seus órgãos subordinados, como o aviso de finalização da votação - coisa que os sujeitos citados fizeram.
Cabello ainda pediu a expulsão dessas pessoas. Alertou o povo venezuelano sobre o tumulto do processo eleitoral pela direita.Este seria o fato mais relevante das eleições até o momento, a menos de uma hora do fechamento. Não se reportaram conflitos.Ainda não há visão sobre os resultados que serão anunciados à noite pelo CNE.Os institutos de pesquisas dão a vitória da direita por 20% a 30% de diferença. Mas o estado que se observa, pelo menos nas ruas de Caracas, é de polarização.
Eleitores vão às urnas na Venezuela
[12:00 de Brasília de 6.12.2015] Hoje, domingo 6 de dezembro, as votações para as eleições legislativas começaram cedo em toda a Venezuela, às seis da manhã. Apesar do voto não ser obrigatório, podiam ser vistas filas em praticamente todos os centros de votações que percorri no Município El Libertador, a cidade de Caracas.
Filas nas ruas de Caracas. Pelo começo da manhã, 95% das mesas de votação foram abertas em todo o país. Foto: Alejandro Acosta.
Durante as primeiras horas, o clima transcorreu com tranquilidade, sem incidentes. Os canais de televisão não têm reportado anormalidades em nenhuma região do país, nem sequer nos munícipios localizados na fronteira com a Colômbia, que se encontram sob estado de intervenção.
Os candidatos do chavismo e da direita votaram cedo. Ambos têm se engajado no chamado ao povo venezuelano a votar.
Galeria fotográfica (se tem problemas para visualizar no quadro abaixo, click aqui)
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No sábado, pode ser visto um certo aumento nas filas dos supermercados, o que pode ser interpretado como um certo temor à repetição dos eventos do ano passado, 2014, quando a direita promoveu as “guarimbas”, as manifestações nas ruas de cunho fascistoide, que, em alguns lugares, chegou a deixar algumas ruas bloqueadas durante três meses.
Os observadores internacionais da Unasul e outros convidados se encontram na Venezuela como observadores. O presidente Nicolás Maduro os recebeu pessoalmente. O governo chavista não permitiu a presença de inspetores da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da União Europeia conforme a direita exigia.
Por um governo de "coalizão nacional"?
O secretário-geral da OEA, o uruguaio Almagro, fez declarações conciliadoras, chamando a manter a paz e a se focar em resolver os problemas de Venezuela. Isto acontece após ter criado um forte mal estar no governo chavista devido às críticas realizadas há algumas semanas no marco da campanha que acusa o governo como ditatorial devido à prisão de elementos da extrema direita venezuelana, como Leopoldo López, no ano passado, após as “guarimbas”.
Os chavistas pedem à direita que reconheça os resultados dos comícios, sejam quaisquer que forem. A direita nem sequer reconheceu os mecanismos colocados em pé pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).
As pesquisas eleitorais, controladas pelos grandes capitalistas, têm falado numa vitória “de lavada” da direita. O chavismo fala na sua vitória, mas apertada.
Por trás do show propagandístico há a crise econômica que avança num dos países onde a radicalização das massas tem levado o governo a direcionar nada menos que 42% do orçamento público aos programas sociais, apesar do colapso das finanças públicas devido à queda da renda petrolífera.
A Administração Obama pressiona para a integração da direita no governo, por um governo o mais de coalizão nacional possível. É a mesma política que foi aplicada no México e que acabou de ser aplicada na Argentina. A vitória de Macri tem como objetivo aplicar um ajuste econômico contra as massas trabalhadoras, e conta com o apoio direto da direita do peronismo, em geral, e do kirchnerismo e da maioria da burocracia sindical.
Um setor do chavismo busca o acordo com a direita e o imperialismo devido ao impacto do aprofundamento da crise capitalista mundial sobre a Venezuela. Mas o setor do chavismo vinculado aos movimentos sociais, que é encabeçado pelo próprio presidente Nicolás Maduro, vacila por medo à radicalização das massas.
Direita e chavistas: inimigos mortais?
No ano passado, a direita promoveu as “guarimbas”, os protestos nas ruas, promovidos em cima de setores de classe média, principalmente estudantes universitários. À cabeça esteve o Partido Voluntad del Pueblo (Vontade do Povo), liderado por Leopoldo López, que é um elemento que pertence à mesma ala do alcalde (prefeito) da Grande Caracas, Ledezma, que hoje se encontra preso, e da deputada Corina Machado. Esse partido é ligado à extrema direita norte-americana do Tea Party.
As mobilizações da direta provocaram a morte de mais de 40 pessoas, inclusive de dois membros do primeiro escalação chavista. Um deles, Robert Serra, ligado estreitamente aos movimentos sociais, foi encontrado morto com mais de 40 facadas no peito. Esse assassinato provocou um estado de comoção nacional. O governo declarou publicamente que haveria um plano, promovido por elementos direitistas, para assassinar Leopoldo López. Os chavistas fizeram um acordo com a ala de centro da MUD (Mesa de Unidad Democrática), liderada por Henrique Capriles. Leopoldo López acabou se entregando e hoje está preso, condenado a mais de 13 anos de prisão e se transformou num dos "herois" da campanha da direita mundial contra o governo chavista.
Se Leopoldo López estava ameaçado por elementos da própria direita ou pelos Coletivos ou milícias chavistas é difícil de saber. Provavelmente, estava ameaçado por ambos. Mas também é um fato que os setores hegemônicos do chavismo e a direita compartilham algum temores, principalmente a busca pela contenção dos protestos sociais.
Os resultados destas eleições legislativas marcarão o rumo das reformas sociais chavistas. E independentemente dos resultados, o mais provável é que a Revolução Bolivariana, como a conhecemos hoje, o chavismo e a própria direita já não sejam mais os mesmos. Deverá se fortalecer a tendência dos trabalhadores venezuelanos a se organizar de maneira independente pelo aprofundamento das reformas sociais, o que é impossível sem expropriar o capital, sem colocar abaixo o estado burguês e substitui-lo pelos órgãos do poder popular de cima a baixo, sem romper com as amarras impostas pelo imperialismo.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.