Por causa dos obstáculos legais e ameaças colocadas pelo governo espanhol a um possível referendo de independência da Catalunha, ou mesmo uma consulta popular sobre o tema, o presidente catalão tenta improvisar uma nova fórmula, provocando por sua vez muitas críticas internas.
Artur Mas tinha procurado esgotar as próprias vias legais espanholas para forçar uma consulta sobre a independência da Catalunha. Agora, e de forma unilateral, propõe uma consulta popular não referendária que não fique ligada à Lei de Consultas e ao decreto de convocatória, suspensos pelo Tribunal Constitucional Espanhol. Assim, Mas pretende utilizar marcos legais preexistentes para continuar à frente com uma votação, mas rebaixa à vez o seu status legal e forte carga simbólica.
O presidente declarou que seria "um instrumento para consultar o Povo da Catalunha", e que a "consulta definitiva" hão ser umas eleições ordinárias posteriores onde os partidos possam apresentar uma candidatura conjunta com um programa conjunto pela independência.
Mas acrescentou: "Se tirássemos a maioria absoluta ganharíamos [nessas eleições] o referendo e toda a gente assim o entenderia. É o instrumento final para a consulta definitiva".
Para ele o importante é que "o Governo fará tudo o que estiver na sua mão para que haja locais abertos, urnas e cédulas de votação". De facto, a Generalitat (Governo Catalão) começou a mobilizar a sua logística, sendo já uma corrida contra-relógio a menos de um mês da data marcada.
Discrepâncias
Contudo, Mas admite que as suas declarações e mudança de rumo, cedendo à legalidade espanhola e contra a vontade popular expressada nas ruas e pelos seus parceiros no Parlamento, acabaram por desfazer o consenso político existente até o momento.
Na quarta (15) viveu-se uma sessão parlamentar com muita tensão entre Mas e os outros líderes soberanistas, onde Mas defendeu que a sua era a única maneira de poder votar sem enfrentar as proibições espanholas, algo que os outros grupos viam precisamente como uma declaração de intenções.
Oriol Junqueras, líder do principal partido da oposição (ERC), acusou a Mas de rachar com a unidade antes de esgotar os limites legais, indicando que se achavam agora num "cenário não pactuado".
Igualmente, Quim Arrufat, representando o partido de esquerda independentista CUP, tachou a Mas de enganar o Povo catalão e o Parlamento, indicando que "embora podendo aceitar a alternativa para o 9-N, agora não sabemos se voltar a confiar. Como podemos?".
Vozes críticas na Catalunha qualificam a Mas de pouca valentia num momento histórico, tendo em conta também o amplo apoio popular existente. Fala-se, aliás, de oportunismo político dalguns elementos dentro do seu partido, onde é mesmo comentada nalguns sectores uma hipotética aliança com o Partido Socialista da Catalunha (filial do espanhol e portanto contrário à celebração do referendo), para simplesmente completar a legislatura.
Ao tempo, o governo espanhol anunciou a sua intenção em travar toda iniciativa para qualquer votação, mesmo se tem cobertura legal, se o objectivo final é uma "ilegalidade".
Com Llibertat e Vilaweb