Foto de Assemblea.cat (CC by-nc/2.0) - Manifestação de 11 de setembro em Barcelona pela independência
Proibições, ameaças e desinformação do regime espanhol têm mediado desde que o Presidente da Generalitat da Catalunha, Artur Mas, convocou o referendo para decidir sobre a independência da Catalunha no passado domingo (28/09).
No entanto, muito a pesar do roteiro previsto pelo governo de Madrid (espalhado acríticamente pelos meios ao seu serviço), com o reacionário Mariano Rajói à cabeça, o Povo Catalão e o próprio governo daquele país mantêm uma firme postura para celebrar uma consulta popular pela independência no próximo dia 9 de novembro. E nem só: a oposição do governo do PP a qualquer decisão democrática no âmbito da relação Catalunha - Estado espanhol tem-se revoltado contra Madrid, que ve como o seu poder sobre Barcelona é tão escasso que nem as sentenças judiciais emitidas pelos órgãos-satélite do seu regime são obedecidas, e ainda como a Catalunha recebe apoios internacionais dos meios de comunicações e ainda de organismos como a ONU.
Na passada segunda-feira, o Tribunal Constitucional espanhol (entidade cujos membros estão sob nomeamento direto dos partidos PP e PSOE, ambos os partidos atores principais na perpetuação dos princípios franquistas após a morte do ditador, entre eles o da "indisolúvel unidade da nação (sic.) espanhola") suspendia a convocatória.
Nesse mesmo dia centenares de catalães e catalãs saiam às ruas do País, e no dia a seguir tornavam-se em milhares, em todos os municípios do Principado da Catalunha. Desde essa terça-feira, mantêm-se acampamentos reivindicativos independentistas em Barcelona. É só uma das provas do maciço apoio que a consulta de 9 de novembro tem na Catalunha, onde 920 Câmaras Municipais (isso é, 96% das Câmaras Municipais catalãs, que somam 947) têm apoiado em moções o referendo e onde 1,800,000 pessoas se manifestaram no passado 11 de setembro pela independência.
Após a proibição espanhola, a reação imediata do governo de Mas foi parar a campanha da consulta. No entanto, com forte pressão popular e dos partidos políticos pro-direitos democrácitos no parlamento catalão, na quarta-feira era nomeada a Comissão de Controlo (a Junta Eleitoral) da consulta. Já na sexta-feira, a campanha face a consulta de 9N recuperava o pulso após uma longa reunião dos partidos do parlamento favoráveis ao direito a decidir do Povo Catalão (somam 2/3 das cadeiras e são CiU, ERC, ICV-EU e CUP), ao final da qual o executivo declarava, com suporte de todos os outros partidos, que a consulta continuava o seu caminho apesar da proibição do Constitucional espanhol. Da esquerda independentista catalã, o deputado da CUP David Fernàndez, disse que foi "reblindada a consulta” e que os e as deputadas assumirão as consequências das suas decisões.
Neste sábado, reiniciou-se a campanha pela consulta enquanto se solicitava ao politizado Tribunal Constitucional espanhol o levantamento da suspensão. E isso todo no meio de uns meios de descomunicação madrilenos abraiados com um roteiro que não esperavam, e um governo espanhol que a cada vez perde mais o controlo da situação.
Apoio da ONU ao processo catalão
Para desgosto de Rajói e a sua banda de ultranacionalistas espanhóis, nesta semana o próprio Secretário-Geral da ONU, Ban Ki Moon, visitava Andorra e explicava que a organização "respeita os processos de autodeterminação" e pedia "respeito" para as "aspirações genuninas das pessoas que estão afetadas". Também grande parte da imprensa burguesa internacional (e, naturalmente, a imprensa popular) apoia o referendo catalão, com a Bloomberg a criticar em um recente editorial que o governo de Rajói se tenha colocado em um beco sem saída ao manter a proibição a expressar-se como única resposta.