Foto de Llibertat - Artur Mas apresenta ontem perante milhares de assistentes o roteiro face a independência.
Dito roteiro implica converter as eleições autonómicas em plebiscitáries -dada a proibição reiterada de Madrid para que os e as catalãs se expressem via referendo-, mas apenas caso todos os partidos que apostam pela independência compartilharem programa e listagem. Também deixou a porta aberta a não encabeçar a lista e afirmou que depois disto, não se apresentará.
Segundo Mas, a listagem conjunta estaria formada por partidos e pessoas reconhecidas da sociedade civil, que teriam o compromisso de não voltar a se apresentar às eleições. Esse é, precisamente, um dos requerimentos que chegavam de alguns setores da sociedade civil catalã, que consideravam que isso ajudará a quem quiser votar pela independência não ter reticências por não se identificar com algum dos partidos nessa listagem.
Se a listagem independentista obtiver maioria absolula, Mas calculou que em 18 meses se poderão fazer as negociações oportunas para estabelecer o quadro do novo estado independente. Paralelamente, pode-se adiantar, segundo Mas, a redacção de uma constituição. Após esse período, o Povo Catalão votará em referendo a Constituição e eligiria o primeiro Parlamento do novo país.
Todo isto, poderá variar caso do Governo espanhol chegar uma oferta de referendo legal ou outro aparelho de decisão formal e legalizado, mas os precedentes em Madrid não apontam nessa vontade democrática. Ao longo do seu discurso, Mas deu algumas ideias sobre como seria uma Catalunha independente, sempre num quadro social-democrata.
Aliás, sobre o Presidente catalão Artur Mas pairam várias denúncias de setores extremistas do nacionalismo espanhol e mais das instituições do regime espanhol, através do seu procurador Torres-Dulce, que tencionam a sua inabilitação pela celebração da consulta popular sobre a independência, à revelia da proibição de Madrid. Tem havido auto-inculpações e mobilizações para protestar por este novo obstáculo à democracia.
Unidade de ação após 9N
O processo participativo de 9N chegou com a unidade de ação, não isenta de alguns desacordos, entre os partidos pró-consulta democrática na Catalunha, nomeadamente CiU, ERC, ICV e CUP. Desde 9N até ontem (dia em que fechou o processo participativo em algumas mesas do país), dita unidade permaneceu em suspenso e, aliás, não houve ações adicionais de qualquer tipo.
Com o roteiro apresentado por Mas ontem, o processo põe-se em andamento de novo e um dos vários reptos à frente é verificar se se poderá fazer também com unidade de ação. Das entidades da sociedade civil catalã, e sobretudo da Assembleia Nacional Catalã (ANC), que está a liderar o movimento social face à independência, exigiu-se ontem essa unidade.
Por enquanto, ICV -filial da espanhola IU que, no entanto, apoiou em todo o momento o processo democrático- já ameaça sair-se, porquanto exige um referendo legal que, aliás, sabe perfeitamente impossível no quadro legal espanhol. Será difícil, portanto, contar com ICV nesta fase.
A esquerda independentista das CUP não respondeu ainda as palavras de Mas, mas a sua participação será chave para a consecução de uma maioria absoluta independentista.
Já ERC é, enfim, o partido que neste momento tem a iniciativa: com o oferecimento de Mas, uma resposta positiva dos social-democratas independentistas porá automaticamente em andamento o processo. O oferecimento de Mas para não ser cabeça da listagem deixa fácil ERC aceitar a candidatura unitária, tendo em conta que as últimas sondagens davam a essa formação fortes possibilidades de vitória em caso de eleições neste momento. Saberemos alguma coisa provavelmente já na semana que vem, quando o porta-voz da ERC, Oriol Junqueras, poderá aproveitar vários atos públicos que tem previstos para dar resposta ao presidente catalão.