Na ocasião, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que a miséria que sofrem vários países africanos, como Serra Leoa, Libéria, Guiné-Bissau e Congo, herança do escravismo e do colonialismo de 500 anos, é "caldo de cultivo" para que se reproduzam enfermidades. No enfrentamento do vírus, Maduro chamou a atenção para a necessidade de informação e educação sobre o tema. "É sumamente importante que se conheça mais além do alarme e do espetáculo televisivo, que se possa levar às escolas, às universidades, ao campo, às comunidades", enfatizou o bolivariano.
Para o presidente de Cuba, Raúl Castro, o combate contra o alastramento do vírus deve ser feito a partir de ações da comunidade internacional em conjunto, sob a condução da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Missão das Nações Unidas para o Enfrentamento de Emergência do Ebola. Castro destacou que na população da região latino-americana e caribenha "corre sangue africano". "Aportado por quem lutou pela independência e contribuiu para criar a riqueza de nossos países e de outros, incluindo os Estados Unidos".
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Castro afirmou que se deve evitar qualquer politização do problema que possa desviar as nações do objetivo principal de ajuda no enfrentamento da pandemia na África e sua prevenção em outras regiões. "Cuba está disposta a trabalhar lado a lado com todos os países, incluindo os Estados Unidos", expressou o presidente.
No último dia 18 de outubro, o líder da Revolução Cubana e ex-presidente da nação caribenha Fidel Castro ofereceu a ajuda de Cuba aos EUA para evitar que a enfermidade altamente letal se propague pela América Latina. "Prazerosamente, cooperaremos com o pessoal norte-americano nessa tarefa, e não em busca da paz entre os dois Estados, que têm sido adversários durante tantos anos, mas pela paz para o mundo, um objetivo que pode e deve ser tentado", expressou o revolucionário em artigo publicado pela imprensa oficial cubana.
Repercussão na imprensa estadunidense
Também no último dia 20 de outubro, o jornal estadunidense The New York Times, veículo que integra grande conglomerado da mídia capitalista, destacou em editorial a colaboração internacional cubana no enfrentamento do vírus. "A enorme contribuição de Cuba, sem dúvida, faz parte de seus esforços para melhorar seu statusno cenário mundial. Ainda assim, deve ser aplaudida e imitada", escreveu o jornal.
O periódico enfatizou que, ainda que os EUA e outros países ofereçam sua disposição para contribuir com dinheiro, somente Cuba e algumas poucas organizações não governamentais proporcionam o que se necessita com maior urgência: médicos dispostos a atenderem pacientes.
"É lamentável que Washington, o principal contribuinte financeiro na lua contra o Ebola, não tenha vínculos diplomáticos com Havana, uma vez que Cuba poderia terminar desempenhando o trabalho mais vital. Nesse caso, a inimizade tem repercussões de vida ou morte, já que as duas capitais não têm mecanismos para coordenar seus esforços em alto nível", publico o jornal. "Para a administração de [Barack] Obama, esse dilema tem que enfatizar a ideia de que os frutos de normalizar a relação com Cuba comporta muito mais benefícios do que riscos".
Exemplo cubano
Cuba foi o primeiro país do mundo a anunciar sua disposição em ajudar as nações africanas afetadas pelo vírus, contando com a disponibilidade de mais de 15 mil profissionais da saúde para o trabalho. Nesta terça-feira, 21, mais duas brigadas sanitárias da ilha partiram para a Libéria e Guiné para unirem-se aos outros profissionais que já colaboram na luta contra a doença em 32 países africanos.
Durante o encontro da Cúpula da Alba, o secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, apelou à comunidade internacional que seguisse o exemplo da ALBA-TCP no enfrentamento do Ebola, destacando o trabalho de Cuba e da Venezuela. David Nabarro, representante especial da ONU para o Ebola, destaca os 255 profissionais de alto nível que já foram enviados pelo governo cubano à África Ocidental. "Isso é mais do que o enviado pelos Médicos Sem Fronteiras ou pela Federação Internacional da Cruz Vermelha, é mais do que enviaram os EUA ou o Reino Unido, mais do que enviou a China", comparou.
De acordo com a OMS, o Ebola já matou, desde o início do ano, 4,5 mil pessoas e infectou mais de 9,2 mil. O alastramento do vírus na África Ocidental é considerado a emergência médica mais grave que já se viu na atualidade. Mais de 400 profissionais da saúde já foram infectados e mais da metade deles morreram.
Marcela Belchior é jornalista da ADITAL.