Protesto contra a espionagem da NSA, que atua com o apoio de empresas de serviços de Internet. Foto: Markus Winkler/Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0)
As revelações do ex-agente da CIA e da NSA, Edward Snowden, expuseram de maneira abrangente a brutal espionagem do imperialismo sobre o mundo e despiram a farsa da “democracia”. As revelações aceleraram as políticas defensivas dos principais governos nacionalistas no sentido de conter a espionagem.
O governo chinês aumentou as vantagens para os dispositivos e softwares domésticos. Um novo grupo foi criado, a Central de Segurança da Internet e Direcionamento para a Informatização, com o objetivo de trocar as tecnologias estrangeiras por nacionais, principalmente no caso dos bancos, do governo, das empresas estatais e dos órgãos de segurança e militar. Até o ano de 2019, três quartas partes do sistema financeiro deverão ter realizado a mudança.
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Grandes servidores domésticos de grande porte começaram a estreitar o mercado do quase monopólio da IBM. O Windows 8 da Microsoft foi proibido no setor público devido a que Snowden tinha revelado que o serviço Outlook.com tinha sido vinculado, por técnicos da Microsoft, diretamente à espionagem da NSA.
O que está colocado em relação à chamada ciber espionagem é a impossibilidade de detê-la. O imperialismo depende dela para manter o controle tecnológico e reduzir a velocidade do controle exercido sobre vários países. Os chineses estão longe da autonomia necessária para inovar e desenvolver os sistemas e equipamentos necessários. Os monopólios que atuam na China estão sendo obrigados a abrir partes dos sistemas e a instalar mecanismos de controle em benefício das políticas do governo.
Espionagem “orwelliana”
De acordo com Edward Snowden, a espionagem promovida pelo imperialismo norte-americano é mais ampla do que conhecemos. “Eles investigam nossas filiações políticas e demais atividades. As atividades de espionagem de Washington são mais indiscretas do que aquelas reveladas”. “Eles usam meta dados, o que os permite um conhecimento real, um registro preciso de todas as atividades das nossas vidas”. Snowden tera acessado cerca de 1,7 milhões de arquivos, entre os quais incluem-se “wikis”, bancos de dados em que analistas, operadores e outros partilhavam informações confidenciais.
Programas como o Xkeyscore usam técnicas muito sofisticadas de “data mining” (mineração de dados) para espionar e acessar trilhões de comunicações privadas. Outro dos programas, o “Shotgiant”, pretendia explorar as ligações da Huawei, que é responsável por um terço das comunicações mundiais, com o exército chinês e também acessar o equipamento vendido a outros países.
De acordo com uma publicação do jornal norte-americano The Washington Post, uma tecnologia integrada ao programa “Mystic” permite a NSA gravar todas as chamadas de voz efetuadas num país estrangeiro e guardá-las durante um mês para posterior acesso.
O programa Echelon Interception System domina os serviços de espionagem dos Estados Unidos, Grã Bretanha, Alemanha, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, pelo menos, embora haja evidência de que a colaboração com a enorme maioria dos demais serviços de espionagem seja muito intensa. Essas revelações levaram ao aumento das contradições do imperialismo norte-americano com as principais potências regionais e os demais governos nacionalistas agora também na área da chamada ciberespionagem. A China, que vinha sendo acusada pelo imperialismo de espionagem, é o país do chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) mais espionado, seguido de longe pelo Brasil e a Rússia.
"A sua privacidade é a nossa prioridade"
De acordo com uma matéria do jornal britânico The Guardian, elaborada sob a base de documentos secretos do departamento de Operações de Fonte Especial fornecidos pelo ex-consultor da CIA e da NSA Edward Snowden, A NSA (Agência de Segurança Nacional), é responsável por todos os programas que vigiam os sistemas de comunicação, a começar pelo Prisma, e conta com a cumplicidade dos monopólios que controlam o setor. “O feedback indicou que a coleta no Skype foi muito clara e os metadados pareciam completos”. “Trabalho de equipe era a chave para a adição bem-sucedida de mais um fornecedor ao sistema Prisma”.
A Microsoft permitiu à NSA interceptar os dados trocados pelos usuários, decodificando a criptografia. Especificamente, a quebra da privacidade envolve o novo portal Outlook, após o acesso amplo aos e-mails tanto do Outlook quanto do Hotmail nos serviços não criptografados. Da mesma maneira, a NSA teve o acesso liberado ao serviço de armazenamento SkyDrive, que conta com mais de 250 milhões de usuários, e ao Skype, permitindo a colheita de vídeos e áudios pelo programa de espionagem Prisma, que é acessado pela NSA, o FBI e a CIA. Desde julho de 2012, após a compra pela Microsoft do Skype, que conta com mais de 660 milhões de usuários e que é um serviço de telecomunicações de voz e vídeo por meio da Internet, a NSA aumentou em três vezes a espionagem de vídeos.
Após as escandalosas revelações, a Microsoft declarou cinicamente que só fornece dados de usuários “em resposta às demandas do governo” e que cumpre essas ordens apenas quando são relativas a “contas ou usuários específicos”, apesar de ter liberado o acesso completo a todos os dados. Também não disse nada sobre a campanha mundial de marketing, lançada em abril, sobre a farsa de “A sua privacidade é a nossa prioridade”.
Segundo o documento citado pelo jornal The Guardian, após vários meses de trabalho, o programa de vigilância Prisma conseguiu estabelecer o acesso a todo o conteúdo armazenado no SkyDrive evitando a burocracia das solicitações de pedidos especiais. “Esta nova capacidade resulta numa colheita com uma resposta muito mais completa e instantânea”. “Este sucesso é o resultado do trabalho do FBI durante muitos meses junto com a Microsoft para ter esta solução de colheita de dados funcionando”. O documento joga por terra a mentira divulgada anteriormente de que supostamente teriam sido fornecidos dados de 18 mil usuários, pontualmente, atendendo a requisições judiciais. Os direitos democráticos foram rasgados em grau tal que até os mandatos judiciais secretos podem ser facilmente burlados quando o agente da NSA tem 51% de convicção de que o alvo não é um cidadão norte-americano e que não está em solo norte-americano.
A cumplicidade com os serviços de espionagem se estende a todos os demais monopólios imperialistas de serviços Internet além da Microsoft, como Google, Apple, Facebook e Yahoo!, por exemplo, apesar das declarações mentirosas que negavam ter conhecimento da existência da espionagem e insistiam que as agências não teriam acesso aos sistemas. Os documentos da NSA revelados por Edward Snowden mostram claramente cooperação profunda e contínua.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.