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merkelAlemanha - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] De acordo com os dados oficiais, mais de três milhões de trabalhadores vivem abaixo da linha oficial de pobreza. A situação afeta principalmente os imigrantes que hoje representam a décima parte da população, ou aproximadamente oito milhões de pessoas.


Chanceler alemã Angela Merkel. Foto: Christliches Medienmagazin pro (CC BY-SA 2.0)

Estabilidade na contagem regressiva?

A estabilidade econômica e política da Alemanha tem sido estruturada em cima do controle da Europa. Conforme a crise tem se acentuado na periferia, a Alemanha tem sido obrigada a aplicar políticas para contê-las, e principalmente para evitar a bancarrota dos monopólios. Mas a crise está longe de ter sido contida. Muito pelo contrário, o mundo avança para um novo colapso capitalista mundial de proporções ainda maiores que o de 2008.

A eficiência da produção alemã está montada em cima das peças e serviços produzidos nos países da Europa Oriental, em primeiro lugar. A isso se somam crescentes mecanismos parasitários, pois, conforme a indústria entra em recessão, os capitais excedentes são aplicados diretamente na especulação financeira.

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Como sintomas do desenvolvimento da crise, no último período um número crescente de greves têm acontecido na Alemanha. Apesar de terem sido greves localizadas, muitas delas aconteceram em setores onde não havia tradição grevista. Os setores de ponta ainda não entraram em movimento, principalmente os metalúrgicos, que contam com mais de dois milhões de filiados no IGMetall, o poderoso, e ultra pelego, sindicato da categoria. Mas eles têm recebido aumentos salariais acima da média, além de outros privilégios. A burocracia sindical tem uma alta integração com o regime, mas para se manter no controle mantém os privilégios de camadas dos trabalhadores. Até que ponto esses esquemas conseguirão ser mantidos dependem da profundidade da crise capitalista que avança a todo vapor.

Com o objetivo de conter o movimento grevista, no mês de janeiro, o governo federal estabeleceu um novo salário mínimo nacional, que veio após uma década do anterior. Apesar dos salários dos trabalhadores alemães terem sido corroídos pela crise nos últimos anos, ainda são superiores aos salários da maioria dos países da União Europeia.

A crise econômica se reflete na crise do regime político. O aliado da CDU (União Democrática Cristã), de Angela Merkel, nem sequer conseguiu se manter no parlamento nas eleições de 2013. O SPD mantêm seu poder eleitoral por meio do controle dos sindicatos e, fundamentalmente, por meio do controle da burocracia sindical.

A população tem sido mantida pacificada por meio de uma relativa “bonança econômica” enquanto o restante da União Europeia avança para o buraco. Por meio da absorção de parte da mão de obra excedente dos países em crise, também tem ajudado a impedir implosões sociais nesses países. Mas por trás da “relativa bonança” a crise se desenvolve na Alemanha, no coração do capitalismo europeu, por meio do contágio a partir da periferia.

Até quando a Alemanha continuará sendo o reduto da estabilidade de Europa e um dos redutos do capitalismo mundial? Depende do aprofundamento da crise capitalista mundial.

Novo salário mínimo após 10 anos. Por quê?

O principal ponto colocado como eixo para o estabelecimento da Grande Coalizão, em 2013, pelo SPD (Partido Social-democrata Alemão), foi a volta do salário mínimo, que, segundo o governo, custará aos cofres públicos € 23 bilhões por ano. O SPD, que representa a ala esquerda do imperialismo alemão, tenta evitar a crise política que levou à Grande Coalisão de 2005-2009.

O novo salário de € 8,50 a hora não tem saído do papel, em grande medida. A norma é que os trabalhadores trabalhem sem contrato e por salários muito menores, que no geral não passam de € 5 a hora. As informações sobre esta situação são públicas e abundantes. 

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A burguesia não conseguiu estruturar uma nova política econômica, alternativa ao neoliberalismo, após o colapso de 2008, devido à falta de uma base material que a viabilize. Por esse motivo, as políticas neoliberais, os crescentes ataques contra os trabalhadores, dominam em escala mundial.

A burguesia estabeleceu o salário mínimo nacional para manter uma certa estabilidade do regime no cenário de crise. Ou seja, uma migalha para garantir a “tranquilidade” interna enquanto continua saqueando os países da região em larga escala.

A ala direita do PSD se encontra tão próxima à CDU que o líder do Partido, Peer Steinbrück, conduziu uma campanha tão ruim, nas eleições de 2013, que viabilizou a vitória de Merkel.

Na Alemanha, as novas vagas dos empregos criados têm sido fundamentalmente de período parcial, sem direitos sociais. Os “bons empregos” têm desaparecido do mapa.

O consumo tem caído enquanto enormes volumes de capitais têm sido “desviados à periferia”, aplicados na especulação imobiliária ou concedendo crédito fácil e barato para favorecer as exportações alemãs. Uma boa parte desses “desvios” têm ido parar diretamente nos cofres dos bancos e das grandes empresas em geral, que têm visto os lucros caírem. O superávit nas contas correntes alemão continua positivo, mas ao custo de ter gerado gigantescas bolhas financeiras e o colapso dos demais países da Zona do Euro e da União Europeia. Os principais bancos alemães, com o Deutsche Bank e o Commerze Bank à cabeça, se encontram fortemente contaminados por títulos podres, públicos e imobiliários. O BCE (Banco Central Europeu), que é controlado pelo Bundesbank (banco central alemão), acumula crescentes recordes históricos de títulos podres.

O 'neoliberalismo' contra os trabalhadores

Um choque neoliberal foi aplicado na Alemanha no início da década passada pelo SPD, que ficou à cabeça do governo entre 1998 e 2005, com Gerhard Schröder como chanceler. O objetivo principal era atacar em cheio os salários e continuar desmontando os programas sociais, o chamado “estado de bem-estar social”.

Os salários deviam ser mantidos o mais baixos possíveis para que, supostamente, as empresas pudessem contratar mais trabalhadores.

Por causa do descontentamento gerado pela aplicação destas políticas, o SPD foi derrotado nas eleições de 2005 pela coalisão CDU (União Democrata Cristã) / CSU (o CDU da Baviera), liderada por Angela Merkel. O SPD passou a integrar a chamada “Grande Coalisão” encabeçada por Merkel.

A crise do regime político ficou colocada novamente a partir do colapso capitalista de 2008. Novas versões da “Grande Coalisão” foram montadas em 2009 e 2013. Mas todos os principais cargos têm sido controlados por reconhecidos direitistas. A partir de 2013, além de Merkel, Wolfgang Schäuble ficou como ministro da Fazenda, Thomas de Maizière no Ministério do Interior e Ursula von der Leyen no Ministério da Defensa.

A vitória da CDU, em 2013, foi uma manobra que reverteu a tendência ao colapso da direita parlamentar na Alemanha. A CDU tinha sofrido seis derrotas eleitorais nas sete eleições regionais, nos Lands, realizadas em 2011 e 2012. A tendência à esquerda era muito clara e se expressou, além das derrotas eleitorais, no colapso do FDP, o aliado direitista da CDU. O triunfo relativo também se expressou na necessidade de recorrer a uma nova “grande coalisão” por causa da crise que atingiu o regime burguês de conjunto.

O FDP, o partido neoliberal que tinha sido o principal aliado do governo da CDU, devido a não ter alcançado os 5% do total dos votos válidos, perdeu todos os deputados, os 93 deputados federais, e mais de 600 funcionários.

O uso direto da carta do PSD ficou difícil de ser viabilizado pela burguesia devido ao enorme desgaste sofrido após a derrota de lavada para a CDU nas eleições gerais de 2009.

A Grande Coalisão significa que a burguesia já não consegue governar por meio dos mecanismos de alternância no poder tradicionais. A direita não consegue mais governar sozinha por causa do desgaste provocado pelo aprofundamento da crise capitalista. A burguesia foi obrigada a elevar a chanceler Angela Merkel a uma posição bonapartista, por cima dos principais partidos políticos burgueses, com o objetivo de garantir uma certa estabilidade do novo governo. Mas se trata de uma solução de crise e, como tal, está com os dias contados.

Alejandro Acosta está atualmente na Alemanha.


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