Na chamada Operação Assistência Unida dos Estados Unidos, "nenhum (dos integrantes) dessa força militar proporcionará cuidado direto aos pacientes com ebola", disse o porta-voz de Obama, Josh Earnest. Na ilha já se sabia, no entanto, que seus enviados farão exatamente o contrário [dos soldados dos EUA] e não serão os primeiros médicos cubanos que chegam na Serra Leoa.
Lá já havia 23 colaboradores e outros 16 trabalham na Guiné, dois dos países africanos onde a epidemia se expande a cobrou a vida de mais de 4.500 pessoas, de acordo com o mais recente levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde). No total, a maior da Antilhas tem cerca de 4 mil especialistas da saúde no continente africano, dos quais mais de 2 mil são médicos.
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"Nossa participação na luta contra o ebola na África não é um fato isolado: está sustentada no princípio de compartilhar o que temos", disse em conferência de imprensa na semana passada o ministro de Saúde Pública de Cuba, Roberto Morales, na sede da OMS.
Morales aterrizou em Genebra menos de 48 horas depois da conversa que teve com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o presidente cubano, Raúl Castro, em uma operação das Nações Unidas para solicitar ajuda contra a epidemia para vários mandatários internacionais. Nesse encontro, Castro adiantou a disposição de Cuba em colaborar com todos os países, incluindo os Estados Unidos.
A brigada Henry Reeve
Os especialistas que foram para Serra Leoa fazem parte da brigada Henry Reeve, organizada em setembro de 2005 e é integrada por médicos preparados para enfrentar desastres e graves epidemias.
Este grupo, que leva o nome de um estadunidense que lutou na guerra pela independência de Cuba contra o colonialismo espanhol, tem uma história singular: foi criado pela ilha para ajudar as vítimas do furacão Katrina que devastou Nova Orleans em 2005.
Naquela ocasião, o líder cubano Fidel Castro lembrou dos princípios que movem a colaboração internacional da ilha em matéria de saúde: "Nós oferecemos a formação de profissionais dispostos a lutar contra a morte. Nós demonstraremos que há resposta a muitas das tragédias do planeta. Nós demonstraremos que o ser humano pode e deve ser melhor. Nós demonstraremos o valor da consciência e da ética. Nós oferecemos vida".
O presidente George W. Bush se recusou terminantemente a receber a ajuda humanitária cubana, a qual voluntariamente se incorporaram 10 mil médicos e enfermeiras do país caribenho, com altas capacidades profissionais. Apesar da soberba estadunidense, a brigada se manteve ativa e tem sido notícia – quase sempre local – em outras situações de desastre, como as que assolaram Paquistão, Indonésia, Bolívia, Chile e Haiti.
Os primeiros a chegar e os últimos a sair
Nessas nações, os médicos cubanos geralmente são os primeiros a chegar e os últimos a ir embora. Ao voltar do Chile no inverno de 2011, o doutor Juan Carlos Andux comentou comigo que os moradores de Rancagua e Chillán, duas das cidades mais afetadas pelo terremoto, lhe diziam: "Vocês são médicos 'piel a piel'". No começo, Andux não entendia: "Eles se referiam ao afeto, que escutávamos seus problemas. Para uma comunidade que sofre de estresse pós-traumático é essencial oferecer, além da atenção profissional, carinho, segurança, compreensão, apoio psicológico".