Em vermelho, região em disputa do Esequibo, que ocupa mais da metade do território da Guiana e é reivindicado pela Venezuela. Foto: Telesur.
De acordo com a chanceler, em entrevista à RT, a companhia – que anunciou recentemente a descoberta de jazidas de petróleo em águas em disputa territorial – “sempre buscou a maior reserva petrolífera do planeta”, referindo-se às diversas tentativas de se apoderar dos recursos naturais venezuelanos, tanto dentro desse país como na zona em conflito (a Exxon Mobil tem recebido concessões do governo da Guiana para exploração no Esequibo).
Segundo ela, essa nova investida faz parte do lobby dos EUA, buscando uma escalada contra a paz na Venezuela, por meio de um conflito entre esse país e a Guiana. Ela vê como “ameaça” e “pretensões imperialistas” a intromissão de Washington nos assuntos bilaterais entre Venezuela e Guiana.
Leia também:
EUA repetem na Venezuela a guerra econômica que executaram contra Allende no Chile
Prêmio Nobel da Paz denuncia e repudia interferência dos EUA na Venezuela
Guerra econômica dos EUA busca repetir na Venezuela o golpe contra Allende no Chile
Em março deste ano, o Encarregado de Negócios dos EUA Bryan Hunt disse que Washington reconhece a autoridade da Guiana para outorgar concessões na área em conflito e defende o direito da Exxon para executar a concessão recebida.
“O objetivo do novo governo da Guiana é transnacionalizar o conflito [territorial], levando isso a terceiros”, disse Delcy, recordando que, com a eleição em maio do novo presidente guianense, esse país começou uma “campanha de descrédito contra a Venezuela e seu povo”. De fato, as relações entre os dois países eram amistosas, mesmo com a disputa territorial.
Com as operações da Exxon Mobil em andamento, o governo venezuelano enviou um comunicado à companhia alertando que não se poderia explorar o território em disputa, segundo acordos internacionais. Caracas, desde o princípio, busca resolver esse problema pela via diplomática, mas a multinacional e o governo da Guiana não estão cooperando, segundo o Executivo venezuelano.
Na semana passada, em entrevista à Telesur, o presidente Nicolás Maduro afirmou que a exploração do Esequibo por parte da empresa estadunidense é ilegal, e isso constitui o financiamento de uma campanha de desestabilização econômica e geopolítica contra a Venezuela. Ele fez uma grave denúncia de que “a Exxon Mobil financiou a campanha do presidente David Granger” para o governo da Guiana, e agora este governo estaria recompensando a transnacional com a concessão para explorar petróleo.
Maduro gerencia a política atual sobre os assuntos limítrofes, e tem apoio do Parlamento, do Tribunal Supremo e da Procuradoria-Geral da República na defesa pela via pacífica e diplomática diante dos organismos internacionais do direito ao território do Esequibo.
A Venezuela seguirá, segundo o governo, defendendo seu direito ao território porque é legal, vigente e está regido por mecanismos da ONU (Organização das Nações Unidas).
O Esequibo é um território de cerca de 160 mil km² que conta com grandes reservas de petróleo e gás, além de ouro, diamante e urânio. Quando o continente ainda era colonizado pelos espanhóis, a Holanda aproveitou-se das turbulências e fragilidades do império espanhol e se apoderou da Guiana. Em 1814, os holandeses venderam parte do território à Inglaterra, que começou a ocupá-lo, apesar do reconhecimento por parte de Portugal, Espanha e Brasil do território entre os rios Esequibo e Orinoco pertencer à Capitania Geral da Venezuela. Após a ocupação total do território pela Grã-Bretanha, a Venezuela rompeu relações com este país.
No final do século XIX, os Estados Unidos se aliaram à Grã-Bretanha e fizeram com que a Venezuela assinasse um acordo em que o país sul-americano perdia a posse do Esequibo. No tratato, no entanto, não havia nenhum representante venezuelano.
A Guiana conquistou sua independência em 1966, mas continuou sob forte influência britânica e estadunidense. Neste mesmo ano, foi assinado o Acordo de Genebra entre a Grã-Bretanha e a Venezuela, que argumentou na ONU que havia sido excluída das negociações territoriais do final do século XIX. As negociações entre Guiana e Venezuela estão vigentes até os dias de hoje, buscando uma solução para a disputa territorial.