No início de setembro, Edwin Chota Valera (foto), Leoncio Quintisima Melendez, Francisco Pinedo Ramírez e Jorge Ríos Pérez, todos dirigentes da comunidade, saíram em viagem para participar de reunião com os asháninkas brasileiros, do outro lado da fronteira, quando foram abordados e mortos. No momento, os quatros haviam se separado do restante do grupo de indígenas para descansar e, depois, seguir viagem. Dando-se conta da demora dos companheiros em alcançar o grupo, um dos membros da comunidade retrocedeu caminho e encontrou os corpos, que não davam sinais aparentes das causas da morte.
Ao receber a notícia dos assassinatos, os membros de Saweto fugiram, apavorados. As quatro viúvas — geralmente as mulheres asháninkas não viajam sozinhas —, uma delas com sete meses de gestação, com seus sete filhos pequenos, empreenderam, então, viagem de bote até a cidade de Pucallpa para avisar as autoridades sobre o ocorrido. A travessia leva três dias e elas o fizeram quase sem comida.
Ergilia Ríos, Julia Pérez, Juanita Ríos e Lita Rojas chegaram ao município no último dia 8 de setembro e passaram a se proclamar publicamente representantes da comunidade. Elas demandam das autoridades justiça e reparação imediata, uma vez que, pela divisão de tarefas tradicional da cultura asháninka, uma mulher sem companheiro não tem como conseguir pesca nem caça, estando condenada ao desamparo.
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As viúvas dos dirigentes também exigem presença policial permanente, negando-se a retornar ao seu território até que sua segurança esteja garantida. As indígenas também requerem a titulação oficial de seu território, argumentando que seus companheiros foram assassinados pela defesa de seu território para toda a comunidade e gerações futuras. Além disso, demandam das autoridades adequada implementação da integração transfronteiriça para combater o narcotráfico na região.
Segundo membros da comunidade, a presença estatal na região se limita a um posto de saúde e uma escola. Próximo a Saweto existe também uma base militar, que inclusive conta com aeródromo, mas as instalações foram abandonadas anos atrás. O único meio de comunicação da área é o rádio, que acaba sendo inseguro, porque seu sinal pode ser captado por qualquer interessado, inclusive por traficantes.
Nesse contexto, os líderes comunitários, encabeçados pelo seu presidente, Edwin Chota, vinham demandando a presença de autoridades estatais encarregadas de fiscalizar a extração de madeira, sem retorno. Além disso, estavam recebendo reiteradas ameaçadas por parte dos extrativistas ilegais e traficantes de drogas. (Com informações da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos do Perú).
Foto: Povo indígena ashaninka.
Providências do governo peruano
Após o crime, o governo peruano anunciou que deverá tomar uma série de medidas para combater o desmatamento ilegal, designando o general César Fourment como Alto Comissionado no enfrentamento da prática. Em nota divulgada no último dia 23 de setembro, a Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos do país avaliou que a providência é positiva na medida em que expressa a determinação do Estado contra esse tipo de crime, que atenta contra a biodiversidade e contra o direito das pessoas, em especial os povos indígenas e seus territórios.
"Além disso, abrange casos de tráfico de pessoas, evasão tributária, entre outras atividades delitivas, e uma competição desleal com as atividades de manejo florestal formal", destaca a Coordenadoria. O órgão público ressalva que, para encarar de maneira eficiente o tráfico de madeira, não basta estratégia militar e repressiva, mas o fortalecimento da institucionalidade florestal em nível nacional, regional e local, com ações de fiscalização e incentivo do manejo florestal sustentável, além da valorização dos povos indígenas e camponeses.