Após a retirada da alça nas passagens de ônibus no Rio de Janeiro e São Paulo -que, segundo avisaram autoridades do regime, será repassada indiretamente para o povo trabalhador, via cortes em saúde, educação e outros investimentos-, ontem as manifestações no Brasil levaram ainda mais pessoas para as ruas. Mais de um milhão de pessoas paralisaram as principais cidades do país na quinta-feira à noite. Só no Rio de Janeiro cerca de 300.000 pessoas participaram, o triplo da passeata de segunda-feira. Em São Paulo foram 110.000; em Recife, 52.000.
E no meio a isso tudo a estratégia da ultradireita passou de pegar carona dos protestos a levar a iniciativa.
A escalada golpista promovida pela Globo manipulou o movimento com sentimentos nacionalistas, desviando as pautas dos movimentos sociais da esquerda (Copa, infraestrutura urbana e de transporte, reformas agrária e urbana, tarifas de ônibus e passe livre... e outras que inicialmente levaram trabalhadoras e trabalhadores às ruas) por pautas como "combate à corrupção", "Fora Dilma"... e outras reivindicações condizentes aos interesses da burguesia mais radical, que tenta desalojar a burocrata Dilma Rouseff da presidência.
A Rede Globo, que no quarto protesto em SP (o primeiro verdadeiramente massivo) tentou criminalizar -sem sucesso- o movimento, insiste agora que esse movimento é contra a corrupção e apartidário, e mistura o sentimento nacionalista do futebol da seleção e da Copa com os protestos, tentando transformar o movimento em qualquer classe de evento da "direita festiva". O maior grupo desinformativo do Brasil chegou mesmo a emitir um escandaloso apelo de Pelé pedindo para brasileiros e brasileiras "deixarem as manifestações" a apoiarem a sua seleção no caminho da copa, esquecendo "toda essa confusão que temos no Brasil".
O influente blogueiro Raphael Tsavkko, colaborador do Diário Liberdade, explica que "jamais pensaria que o movimento seria tomado por "caras pintadas", pela nata da burguesia fascista, pela juventude tucana, por neonazistas e provocadores de todos os tipos (...). Os fascistas saíram às ruas e são muitos, são milhares, pregando o ódio, batendo e violentando. Honestamente, prefiro apanhar da PM".
O fascismo está ganhando destaque, e aliado à direita, arrastando consigo uma classe média despolitizada (que com certeza serão massa de manobras para grupos de direita) e com a ajuda de uma Rede Globo que já não tenta criminalizar os protestos, mas sim desviá-los, pode levar as revindicações e os protestos a uma via fascista. Segundo denunciam repórteres participantes nas manifestações, elementos dos grupelhos fascistas estarão infiltrados no movimento nadando de braçada com infiltrados policiais.
O Movimento Passe Livre (MPL) já se manifestou a favor da presença de partidos e contra a "pauta conservadora" e disse que não vai convocar mais protestos, dado que "houve uma hostilidade com relação a outros partidos por parte de manifestantes, e esses outros partidos estavam desde o início compondo a luta contra o aumento e pela revogação", afirmou Douglas Beloni, do MPL. Explicou também que "nos últimos atos pudemos ver pessoas pedindo a redução da maioridade penal e outras questões que consideramos conservadoras. Por isso suspendemos as convocações".
Dilma: ultrapassada pelas manifestações primeiro e pelo fascismo depois, tenta recuperar controle
Contra qualquer prognóstico, o estado de exceção brasileiro -cuja principal missão neste momento é garantir que os megaeventos esportivos e temas relacionados decorrem segundo as hipóteses mais favoráveis para a especulação e o lucro de capitalistas- perdeu durante vários dias o controle das manifestações convocadas pelo Movimento Passe Livre.
Assim, entende-se que até agora não tenha agido contra a entrada ativa da direita nos protestos, considerando-o um mal menor e com a esperança disso servir para as reivindicações ficarem num plano superficial. Porém, agora, diante da evidente escalada golpista para a Dilma pagar o pato de todo o desgaste da democracia burguesa brasileira, a presidenta tem cancelado vários dos eventos que tinha programados e convocou uma reunião de emergência com a sua equipe para hoje, sexta-feira.
Perseguição e agressões em São Paulo a militantes de PT, PCO, PSTU e PSOL
Ontem em São Paulo os fascistas conseguiram queimar bandeiras vermelhas sem que a esquerda, num ato de cem mil pessoas, pudesse fazer nada. Esse é o estado atual das coisas.
"Em dado momento provocadores começaram a atacar ativistas do PT, PCO, PSTU e PSOL que estavam no meio da marcha. Alguns gritavam "sem violência" enquanto jogavam objetos e tentavam socar militantes partidários. Muitos ali achavam que eram todos petistas, pois gritavam slogans contra o PT enquanto queimavam bandeiras (não sei se do PCO ou PSTU)", explica Raphael Tsavkko.
Entrentanto, noutras cidades do país, como Belo Horizonte (MG) movimentos de esquerda conseguiram conter a situação sem que houvesse acosso da direita extrema.