O ganho da atividade bancária era enorme, mas queriam ganhar mais. Afinal havia outros negócios, fora da lei, que davam mais retorno imediato.
Com a financeirização da economia, os lucros do setor financeiro nos EUA saltaram de menos de 5% dos lucros totais em 1982 para 40% em 2007, 15% de todo o valor acrescentado bruto empresarial. Em Portugal, o crédito bancário concedido ao setor privado em percentagem do PIB passou de 62,6% em 1995 para 186,6% em 2011...
A desregulação financeira abriu o caminho para o papel crescente das instituições financeiras na economia e para o aumento exponencial dos lucros. Para alimentar a concessão de crédito, que crescia 10% ao ano, era necessária liquidez. E como o chamado mercado interbancário deixou de emprestar dinheiro, veio o BCE financiar os bancos. Na zona euro, em 2008, a cedência de liquidez pelo BCE atingiu 833 mil milhões de euros. Em Julho de 2012 já era de 1.236 mil milhões de euros. Em Portugal, o recurso dos bancos ao financiamento do BCE foi, em 2009, de 5 mil milhões de euros, um número modesto quando comparado com os 60 mil milhões de euros em 2012.
Depois, foi o que se sabe. Apesar dos biliões de euros injetados, o crédito mal parado, títulos e outros produtos financeiros sem qualquer relação com a economia real originaram perdas colossais que vieram a ser suportadas pelos Estados. Formaram-se gigantescas dívidas públicas pagas pelos cidadãos com aumentos na carga fiscal e cortes escandalosos nos salários e nas pensões. Na U.E, apenas entre 2009 e 2013, o valor utilizado das “ajudas” dos Estados em garantias, apoios à liquidez, capitalização e saneamento de ativos da banca atingiu quase 12% do PIB. Em Portugal, em 2013 o valor das garantias e apoios à liquidez ultrapassou os 14 mil milhões de euros ou 8,7% do PIB.
Da financeirização da economia passou-se à financeirização da política, a finança a mandar no BCE e na Comissão Europeia. O poder e a ganância dos banqueiros ainda estão em alta. Mas a continuar assim, esta história não vai acabar bem...
Foto: Daniel Lobo.