De seguida, a aposta de que a aliança parlamentar ia falhar. Mais tarde, a esperança no chumbo do Orçamento pelo Eurogrupo.
Este rogar de pragas prossegue agora na “previsão” de que a devolução de vencimentos, a subida do salário mínimo, etc. são o caminho do desastre económico — se não para já, lá mais para diante — e que paira no ar novo resgate.
Servem ao coro as críticas ao projecto do OE feitas pela UTAO e o CFP (entidades ditas independentes, mas que sempre apoiaram as medidas de austeridade), como servem os avisos em jeito de ameaça do senhor Schäuble.
O capital, que tinha em Passos Coelho o chefe de governo conveniente para proceder ao esmagamento das classes trabalhadoras — numa época, que se adivinha prolongada, de crise económica e de retrocesso — não admite afrouxamento na linha dos quatro anos passados. Vai portanto conspirar por todos os meios para revirar a situação actual — ou convertendo Costa à austeridade plena, ou fazendo cair o governo.
O seu maior aliado são as instâncias da própria UE que, mesmo não estando interessadas em provocar crises políticas desvantajosas, não deixarão de exercer todas as pressões possíveis para repor a “normalidade”, segundo o prisma da Alemanha e do Eurogrupo.
Para barrar caminho a este regresso ao passado não bastam à esquerda ganhos eleitorais acrescidos, como se viu no fracasso da “experiência grega”. É decisivo que a acção dos trabalhadores ganhe força e independência política na frente interna; e ganhe apoio prático e solidariedade organizada na frente internacional, a começar com os trabalhadores espanhóis e gregos.