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Guillermo Almeyra

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Cuba: duas opções falsas e uma recusada

Guillermo Almeyra - Publicado: Segunda, 13 Dezembro 2010 01:00

Guillermo Almeyra

A estatização da economia não é sinónimo de socialismo.

 

 

Guillermo Almeyra

a estatização da economia não é sinónimo de socialismo. Este requer a participação valente, ardorosa, consciente, dos trabalhadores, e uma modificação profunda nas relações na sociedade e no poder entre os que mandam e os que obedecem, de modo de ir debilitando o velho Estado e reforçando e criando um novo, democrático. A alternativa à estatização não é também não a economia de mercado, nem sequer o mercado controlado pelo Estado sobretudo quando este não tem a capacidade técnica de criar pólos econômicos de ponta e de controle sobre os demais setores.

Tinha outra opção, ou seja sincerar faz decenios a situação econômica, expor os problemas reais ante todos, buscar que todos os trabalhadores e a população em general estivesse informada, fosse protagonista. Essa opção foi descartada e a imprensa e os meios de informação cubanos ocultaram sistematicamente os problemas e a magnitude dos mesmos durante anos. A crença de que a União Soviética e os países de Europa oriental eram socialistas e, ademais, durariam eternamente, não só levou a imitar métodos desastrosos senão também a manter a Cuba numa situação de exportadora de açúcar, níquel e trabalhadores, dependente do CAME ou Comecon, retardando eternamente a adoção de medidas de fundo para evitar os erros iniciais, como a estatização de todas as empresas minúsculas e os serviços e o ocultamiento da desocupação inflando as plantillas, para que todos tivessem como se ganhar a vida. A via da participação, da democracia social, da autogestión social generalizada, jamais se praticou, um pouco pela imposição de centralismo, para se defender da guerra que livra contra Cuba o imperialismo, outro pouco por erros políticos evitables.

A direção cubana, nascida de uma revolução democrática e antimperialista, não claudicó ante o imperialismo e com valentia defendeu a independência da ilha e por isso tem consenso maioritário, mas a descomposição da economia baixo o impacto dos furacões e da crise mundial desenvolveu no seio da alta burocracia e nas camadas privilegiadas da sociedade tendências ao acomodamiento com o capitalismo mundial e ao desenvolvimento do mercado. O setor do governo que quer hoje iniciar um caminho "chinês" (abertura ao mercado controlado pelo Estado e um partido forte) livra um combate contra essa tendência claudicante, que tem por trás de si todo o peso do capitalismo e do mercado mundial e que se apoia na desilusión de vastas camadas da população cubana.

A batalha não está ganhada de antemão porque em Cuba, a diferença de China, há muito poucos camponeses, a população é mais velha, não existem capitais cubanos no exterior que, por nacionalismo, invistam na ilha, não há, tradicionalmente, uma cultura da inovação e do trabalho como no país asiático e a productividad é baixa não só porque os salários são simbólicos senão também porque muitas fábricas têm uma tecnologia obsoleta de origem soviética, costosa em energia e em reparos.
As decisões adotadas a costas dos trabalhadores, as regras e normas que todo mundo sabe que são diariamente violadas porque não há outro modo de subsistir, as desigualdades propostas pelo sistema de duas moedas e pelos privilégios relativos de setores da burocracia, desgraçadamente reduziram a capacidade de reação e de intervenção dos trabalhadores, os desgastaron e desmoralizaron. O resultado é que o mesmo governo tem que advertir que se poderá falar "sem temor a represálias" ao convocar a uma discussão ampla das decisões (por outra parte já adotadas e que figuram na Gaceta Oficial desde outubro).

Sabendo que não tem muito sentido discutir o já resolvido e temendo abrir a boca, nas assembléias de "discussão" reina o silêncio, se vota por unanimidade, e poquísimos intervêm. Há realmente "unanimidade" ante as drásticas medidas ou o governo enfrenta uma mistura de resignação, impotencia e protesto mau digerida? O setor "chinês" poderá impor-se mas ao espreito estão os burócratas precapitalistas ou candidatos a ser capitalistas, como os da ex União Soviética, porque não há um controle e uma pressão de massas que façam possível a direção dos primeiros e que impeça ao mesmo tempo o desenvolvimento e o sabotagem dos que recebem fôlego do mercado para afirmar seus privilégios.

Por suposto, quando o barco faz água não é o momento adequado para discutir por que se está nessa situação e de quem é a responsabilidade principal senão que há que se dedicar a fazer possível e pouco costosa em termos políticos inclusive a menos pior das opções para sair do trance, a militar-tecnocrática "chinesa". Há que evitar o agravamiento da crise econômica cubana e sua transformação em crise política porque conquanto hoje não há uma participação em massa e decidida na proposta de soluções nem confiança na propor, na luta nas cimeiras do aparelho estatal e partidário entre as duas tendências mencionadas, a nacionalista antimperialista tenderá possivelmente amanhã a se apoiar em algum momento nos trabalhadores. O grave, até agora, é que as novas medidas que estão sendo aplicadas golpeiam sobretudo aos setores mais pobres e débis, que são a base de apoio da Revolução. Uma política de grande austeridad, que comece por reduzir salários e privilégios de setores burocráticos, civis e militares, nas instituições e as empresas, poderia demonstrar à população que as medidas adotadas, em general, são uma imposição da crise e que o governo fará de modo de que esta não afete só aos pobres. Se há uma mudança na política das informações, poderia reconstruirse em parte a credibilidade das afirmações oficiais.Cuba: duas opções falsas e uma recusada

 

Este requer a participação valente, ardorosa, consciente, dos trabalhadores, e uma modificação profunda nas relações na sociedade e no poder entre os que mandam e os que obedecem, de modo de ir enfraquecendo o velho Estado e reforçando e criando um novo, democrático. A alternativa à estatização também não é a economia de mercado, nem sequer o mercado controlado pelo Estado, sobretudo quando este não tem a capacidade técnica de criar pólos econômicos de ponta e de controlo sobre os outros setores.

Tinha uma outra opção, ou seja, revelar faz decénios a situação econômica, expor os problemas reais ante todos, buscar que todos os trabalhadores e a população em geral estivesse informada, fosse protagonista. Essa opção foi descartada e a imprensa e os meios de informação cubanos ocultaram sistematicamente os problemas e a magnitude dos mesmos durante anos. A crença de que a União Soviética e os países de Europa oriental eram socialistas e, além disso, durariam eternamente, não só levou a imitar métodos desastrosos, como também a manter Cuba numa situação de exportadora de açúcar, níquel e trabalhadores, dependente do CAME ou Comecon, retardando eternamente a adoção de medidas de fundo para evitar os erros iniciais, como a estatização de todas as empresas minúsculas e os serviços e o ocultamento da desocupação sobrelotando os quadros de pessoal, para que todos tivessem como ganhar a vida. A via da participação, da democracia social, da autogestão social generalizada, nunca se praticou, um pouco pela imposição de centralismo, para se defender da guerra que livra contra Cuba o imperialismo, outro pouco por erros políticos evitáveis.

A direção cubana, nascida de uma revolução democrática e anti-imperialista, não claudicou ante o imperialismo e com valentia defendeu a independência da ilha e por isso tem consenso maioritário, mas a descomposição da economia sob o impacto dos furacões e da crise mundial desenvolveu no seio da alta burocracia e nas camadas privilegiadas da sociedade tendências ao acomodamento com o capitalismo mundial e de desenvolvimento do mercado. O setor do governo que quer hoje iniciar um caminho "chinês" (abertura ao mercado controlado pelo Estado e um partido forte) livra um combate contra essa tendência claudicante, que tem por trás de si todo o peso do capitalismo e do mercado mundial e que se apoia na desilusão de vastas camadas da população cubana.

A batalha não está ganha de antemão porque em Cuba, diferentemente da China, há muito poucos camponeses, a população é mais velha, não existem capitais cubanos no exterior que, por nacionalismo, invistam na ilha, não há, tradicionalmente, uma cultura da inovação e do trabalho como no país asiático e a produtividade é baixa não só porque os salários são simbólicos como também porque muitas fábricas têm uma tecnologia obsoleta de origem soviética, custosa em energia e em arranjos.

As decisões adotadas de costas aos trabalhadores, as regras e normas que todo mundo sabe que são diariamente violadas porque não há outro modo de subsistir, as desigualdades propostas pelo sistema de duas moedas e pelos privilégios relativos de setores da burocracia, infelizmente reduziram a capacidade de reação e de intervenção dos trabalhadores, os desgastaram e desmoralizaram. O resultado é que o mesmo governo tem que advertir que se poderá falar "sem temor a represálias" ao convocar uma discussão ampla das decisões (por outra parte já adotadas e que figuram na Gazeta Oficial desde outubro).

Sabendo que não faz muito sentido discutir o já resolvido e temendo abrir a boca, nas assembléias de "discussão" reina o silêncio, se vota por unanimidade, e pouquíssimos intervêm. Há realmente "unanimidade" ante as drásticas medidas ou o governo enfrenta uma mistura de resignação, impotência e protesto mal digerido? O setor "chinês" poderá impor-se, mas à espreita estão os burocratas pré-capitalistas ou candidatos a ser capitalistas, como os da ex União Soviética, porque não há um controle e uma pressão de massas que façam possível a direção dos primeiros e que impeça ao mesmo tempo o desenvolvimento e o sabotagem dos que recebem fôlego do mercado para afirmar seus privilégios.

Certamente, quando o barco mete água não é o momento adequado para discutir por que se está nessa situação e de quem é a responsabilidade principal pois há que se dedicar a fazer possível e pouco custosa em termos políticos inclusive a menos pior das opções para sair do buraco, a militar-tecnocrática "chinesa". Há que evitar o agravamento da crise econômica cubana e sua transformação em crise política porque ainda que hoje não haja uma participação em massa e decidida na proposta de soluções nem confiança na propor, na luta nas cimeiras do aparelho estatal e partidário entre as duas tendências mencionadas, a nacionalista anti-imperialista tenderá possivelmente amanhã a se apoiar em algum momento nos trabalhadores. O grave, até agora, é que as novas medidas que estão sendo aplicadas batem sobretudo nos setores mais pobres e fracos, que são a base de apoio da Revolução. Uma política de grande austeridade, que comece por reduzir salários e privilégios de setores burocráticos, civis e militares, nas instituições e as empresas, poderia demonstrar à população que as medidas adotadas, em geral, são uma imposição da crise e que o governo fará de modo de que esta não afete só os pobres. Se houvesse uma mudança na política das informações, poderia reconstruir-se em parte a credibilidade das afirmações oficiais.
Fonte: La Jornada.
Tradução: Diário Liberdade.

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