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Guillermo Almeyra

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Cuba: a mudança que Atilio Borón vê

Guillermo Almeyra - Publicado: Segunda, 06 Dezembro 2010 01:00

Guillermo Almeyra

Ante as medidas drásticas propostas pelo Partido Comunista Cubano para seu VI Congresso Nacional, a se realizar em abril próximo, Atilio Borón determina que o modelo soviético de Estado e de economia baseado na estatização de todo tipo de empresas e no planejamento centralizado está "esgotado" e "já passou a melhor vida".


Dito seja de passagem, é notável que o analista em questão tenha tido que esperar até a emissão do documento partidário que dá o tiro de graça a um modelo que levava Cuba à beira da morte para dar porque qualquer coisa não andava bem num tipo de funcionamento que ele sempre elogiou como "socialista" e para ver que existiam uma série de aberrações, que descobre e enumera com assombro apesar de que qualquer cubano falava delas livremente desde faz muitos anos e de que outros estamos escrevendo sobre esse tema e a economia cubana e suas falhas desde faz uns trinta anos na imprensa de grande tiragem em espanhol.

Também dá nas vistas que, tendo caído em 1989 o chamado "modelo" burocrático soviético, nem Borón nem o Partido Comunista e o governo cubano tenham sentido até agora a necessidade de fazerem um balanço do motivo desse derrube e de quais foram as causas do mesmo, apesar de que, desde 1936, a análise marxista aplicada por Trotsky em "A Revolução Traída" dava já um diagnóstico certeiro e prévio às conseqüências do mesmo.

Perseverar durante mais de vinte anos na aplicação de um sistema de pensamento e de direção absolutamente nocivo, que ruiu em 1989 por sua podridão interna e levou os membros da direção do Partido Comunista soviético a venderem Pizza Hut ou a se converterem diretamente em capitalistas monopolistas mafiosos, é pelo menos sinal de escasso interesse pela teoria marxista.

Borón devia ter advertido, em seu momento, aos dirigentes cubanos que estavam caminhando pela corda bamba, confundindo a estatização geral da economia e o capitalismo de Estado com fortes traços burocráticos com o socialismo, ainda que isso, seguramente, teria reduzido drasticamente o número de convites a Havana. Porque reforçar e sustentar uma das principais conquistas anti-imperialistas dos últimos 50 anos -a Revolução cubana- e ajudar a sentar as bases que sejam possíveis para a construção do socialismo numa pequena ilha sem recursos nem população, que em seu momento enfrentou ainda os Estados Unidos, o governo soviético e o regime chinês, não é uma tarefa exclusiva dos cubanos. Todos os democratas e socialistas do mundo têm o dever de os ajudar com suas ideias, seus contributos, suas críticas, em vez de os deixarmos sozinhos cometendo erros para depois constatar o falhanço... e voltar a deixá-los sozinhos na hora de adotarem as decisões mais perigosas.

Borón assegura agora que os dirigentes cubanos têm as melhores intenções e desejam aplicar reformas socialistas, não a volta ao capitalismo. É muito possível. Mas também tinham boas intenções quando se lançaram à safra de 10 milhões de toneladas destruindo as bases da economia, ou quando se atrelaram à União Soviética, achando que esta seria eterna, ou apostando tudo na pura exportação de homens e de açúcar e níquel, ou quando Fidel Castro defendeu a invasão soviética da Checoslováquia e o esmagamento do partido desse país, ou quando qualificou como sendo grandes marxistas Brezhnev, o ditador etíope Haile Marian, ou o ditador somali Siad Varre, entre outros. Deixemos pois as boas intenções para os confessionários ou para os intenciómetros que teriam que ser inventados e julguemos em troca o tipo de medidas propostas e a sua dinâmica.

Há que chamar as coisas por seu nome: não vão na direção a mais justiça, mais igualdade, mais solidariedade, mais socialismo, e sim na direção contrária. Reforçam o papel do vértice do Estado que dirige o partido, e dos diretores das empresas, decidem pelos trabalhadores em vez de estabelecer mecanismos de consulta com estes e de controle por estes. Reforçam o papel central do Estado e dos aparelhos, não o da democracia. Não preparam a ninguém para o fortalecimento de uma vasta tropa de "contapropristas" dominada pelo mercado e regida pelo ânsia de consumo e que se diferenciará internamente soldando seu setor mais rico com a burocracia mais corrupta. Ignoram o peso da hegemonia cultural capitalista e do mercado mundial que dão uma forte base ao desenvolvimento de uma força capitalista em Cuba, que até agora não existia. Unem a contrarrevolução que se incuba em parte da burocracia com o capitalismo estadunidense e mundial. Golpeiam na economia, nas perspectivas, em sua imaginário mesmo, aos mais pobres, que são a base social da revolução cubana.

Se há tanto interesse popular por conhecer essas medidas é porque a gente sempre quer saber com qual molho serão cozinhadas e quem foram responsáveis do falhanço já estão a responder com medidas perigosíssimas. Oxalá que esse interesse responda também à necessidade de estudar essas medidas para contrarrestar no possível os elementos mais negativos, ainda que já tenham sido resolvidos e em parte estejam sendo aplicados. A verdade é que a mudança instaura em Cuba uma fase de grande instabilidade política, social e econômica e que o povo cubano, como quando a invasão de Praia dos Porcos, requer nossa ajuda material e teórica porque a bússola das autoridades cubanas não funciona nem funcionou muito bem, apesar do que julgam os admiradores de sempre das mesmas.

Tradução: Diário Liberdade.

Fonte: La Jornada Quincenal.


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