António Barata
O desastre humanitário provocado pelo terramoto que arrasou o Haiti, largamento coberto pelas televisões portuguesas, pôs a nu os preconceitos e a ignorância que inquinam a comunicação social portuguesa. Foram disso triste exemplo (entre outros) os comentários de Márcia Rodrigues e as reportagens de José Rodrigues dos Santos que, com ar sabedor, iam debitando baboseiras sobre o “Estado falhado” e a incapacidade dos haitianos de se governarem, sempre envolvidos em golpes e contragolpes de Estado, ao ponto de obrigarem a “comunidade internacional” a intervir para pôr alguma ordem num país que só sobrevive à custa da ajuda internacional.
Como se os pobres fossem os culpados da sua pobreza! Cegos pelos seus preconceitos eurocêntricos e primeiro-mundistas, a estes jornalistas não lhes ocorreu perguntar o que andaram e andam fazem quase 20 mil militares americanos no Haiti, já que quem vimos a resgatar pessoas dos escombros foram os próprios haitianos e as equipas de todo o mundo, menos as dos EUA. Porque não foram capazes de relacionar as sucessivas intervenções armadas dos EUA no Haiti (depondo, trocando, ou raptando os seus presidentes) e a protecção que deram durante décadas à sangrenta ditadura dos Duvalier com o atraso e miséria do Haiti, um povo que, apesar de todas as desgraças, revela capacidades culturais e artísticas mundialmente reconhecidas?
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