Mais um tropeção para Obama – a juntar aos insucessos no Afeganistão e no Iraque – que assim se vê perante acrescidas dificuldades para a implementar a sua estratégia antiterrorista e de “pacificação” do Médio Oriente, o que o impede de concentrar meios para cercar e submeter o Irão, se necessário pela força.
Contratempo mais significativo se tivermos em conta que os Estados Unidos e Israel contaram com a boa vontade sem paralelo do presidente palestiniano Abu Mazen, disposto a mais uma vez reconhecer o Estado hebraico e a não levantar obstáculos à liquidação do governo palestiniano e do Hamas em nome da “segurança de Israel”. Ou seja, uma rendição sem condições. A troco de quê? Da promessa de um expansionismo menos agressivo de Israel e da suspensão da construção de colonatos. Quanto ao resto, continuaria a ocupação da Palestina, agora transformada e reconhecida como colónia de Israel, a existência de um “Estado” palestiniano sem continuidade territorial, murado e desarmado. A sua defesa e segurança seria assegurada pela potência colonial, tal como continuaria condicionada aos caprichos sionistas a circulação entre as pulverizadas comunidades palestinianas que, lembremos, dependem totalmente de Israel no que respeita ao abastecimento de água, produtos industriais, alimentares, etc. O que significaria também a oficialização da existência de pelo menos cinco Palestinas – Gaza, Cisjordânia, a Palestina de 1948, Jerusalém Ocidental e a dos refugiados.
Forçado a suspender as conversações, sob pena de cair no descrédito e tornar-se alvo da ira popular, o presidente da Palestina está longe de ser uma vítima das circunstâncias. Ao aceitar falar de paz com o presidente israelita, nas condições que lhe foram impostas por ele e pelos americanos, com ataques a decorrer em Gaza e Jerusalém, deixou de fora os representantes eleitos pelo povo palestiniano para os governar, a população de Gaza e o Hammas. O mínimo que se pode dizer é que é uma traição aos sacrifícios suportados pelo povo da Palestina que há 60 anos luta pelo direito à autodeterminação nacional. Este acto não se deve a um só homem, mas a uma lógica de sobrevivência da corrupta casta da burguesia palestiniana, fortemente ligada e dependente da economia e dos negócios com Israel. Se se conseguem entender nos negócios, porque razão não se podem entender noutros assuntos?
Abu Mazzem também sabia – como todos sabemos, dado que os governantes israelitas não fazem segredo disso – que a política de expansão dos colonatos é para continuar, porque ela é e sempre foi a peça essencial do plano de colonização pelos sionistas. Israel só lhe porá fim pela força.
Nada tem de novidade que Israel tenha decidido avançar com a construção de novos colonatos, depois de a ter suspendido por uns meses e por pressão norte-americana, no preciso momento em que se iniciavam os primeiros encontros. Repetiu o que sempre tem feito. Obtida a cedência (e aqui era levar a Autoridade Palestiniana a “negociar” a paz), logo fez tábua rasa das condições iniciais e avançou com novas exigências – reconhecimento prévio do Israel e não questionamento da política de expansão dos colonatos.
Como Abu Mazzem é homem de mão dos americanos, o mais provável é que daqui a uns meses as conversações sejam retomadas e em condições ainda mais gravosas. O que se perfila é nova tragédia palestiniana, com a eclosão provável de uma guerra civil. A outra coisa não pode conduzir uma “paz” conseguida à custa da dignidade e da negação dos direitos dos palestinianos, da liquidação da OLP, das divisões na base da Fatah, da fragmentação política das organizações palestinianas, do aprofundamento da separação entre as diferentes Palestinas, fazendo tábua rasa da implantação do Hammas, do milhão e meio de palestinianos que vivem em Gaza e dos milhões forçados a viver na emigração.