Esta surgiu depois da Segunda Guerra Mundial como instrumento da Guerra Fria desencadeada pelo imperialismo contra a União Soviética, o país que pagou com dezenas de milhões de vidas e uma colossal destruição a vitória sobre o nazismo.
Contra a URSS, os Estados Unidos mobilizaram, junto a uma parte sadia da população europeia, à extrema direita e toda a escória nazifascista da Europa, cheia de ódio e disposta a tirar proveito dos erros cometidos pelos próprios dirigentes da URSS, depois da morte de Lênin.
O povo soviético, com enormes sacrifícios, foi capaz de manter a paridade nuclear e apoiar a luta de libertação nacional de numerosos povos contra os esforços dos Estados europeus por manter o sistema colonial imposto pela força ao longo de séculos; Estados que se aliaram no pós guerra ao império ianque, o qual assumiu o comando da contrarrevolução no mundo.
Em apenas 10 dias ?menos de duas semanas?, a opinião mundial recebeu três grandes e inesquecíveis lições: o G-20, a Apec e a Otan, em Seul, Yokohama e Lisboa, de modo que todas as pessoas honestas que saibam ler e escrever e cujas mentes não tenham sido mutiladas pelos reflexos condicionados do aparato midiático do imperialismo, possam ter uma idéia real dos problemas que afetam hoje a humanidade.
Em Lisboa não se pronunciou uma palavra capaz de transmitir esperanças a bilhões de pessoas que sofrem a pobreza, o subdesenvolvimento, a insuficiência de alimentos, habitação, saúde, educação e emprego. Pelo contrário, o vaidoso personagem que figura como chefe da máfia militar da Otan, Anders Fogh Rasmussen declarou em tom de pequeno führer nazista, que o "novo conceito estratégico" era para "atuar em qualquer lugar do mundo". Não foi à toa que o governo da Turquia esteve a ponto de vetar sua nomeação quando Fogh Rasmussen ?um neoliberal dinamarquês ? como primeiro ministro da Dinamarca, usando o pretexto da liberdade de imprensa, defendeu em abril de 2009 os autores de graves ofensas ao profeta Maomé, uma figura respeitada por todos os crentes muçulmanos.
Não poucas pessoas no mundo se recordam das estreitas relações de cooperação entre o governo da Dinamarca e os "invasores" nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
A Otan, ave de rapina encubada nas saias do império ianque, dotada inclusive de armas nucleares tácticas que podem ser até várias vezes mais destrutivas que a que fez desaparecer a cidade de Hiroshima, está comprometida pelos Estados Unidos na guerra genocida do Afeganistão, ainda mais complexa que a aventura no Kossovo e a guerra contra a Sérvia, onde massacraram a cidade de Belgrado e estiveram a ponto de sofrer um desastre se o governo daquele país se tivesse mantido firme, em vez de confiar nas instituições de justiça européia em Haia.
A inglória declaração de Lisboa, em um dos seus pontos afirma de forma vaga e abstrata:
"Apoio à estabilidade regional, aos valores democráticos, à segurança e à integração no espaço euro-atlântico nos Bálcãs."
"A missão em Kossovo se orienta a uma presença menor e mais flexível." Agora?
Tampouco a Rússia poderá esquecer tão facilmente: o fato real é que quando Yeltsin desintegrou a URSS, os Estados Unidos avançaram as fronteiras da Otan e suas bases de ataque nuclear para o coração da Rússia na Europa e na Ásia.
Essas novas instalações militares ameaçavam também a República Popular da China e a outros países asiáticos.
Quando aquilo ocorreu em 1991, centenas de SS-19, SS-20 e outras poderosas armas soviéticas podiam alcançar em questão de minutos as bases militares dos Estados Unidos e da Otan na Europa. Nenhum secretário geral da Otan se teria atrevido a falar com a arrogância de Rasmussen.
O primeiro acordo sobre limitação de armas nucleares foi assinado tão cedo como na data de 26 de maio de 1972, entre o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon e o secretário geral do Partido Comunista da União Soviética Leonid Brezhnev, com o objetivo de limitar o número de mísseis antibalísticos (Tratado ABM) e defender certos pontos contra mísseis com carga nuclear.
Brezhnev e Carter assinaram em Viena novos acordos conhecidos como SALT II em 1979, mas o Senado dos Estados Unidos se negou a ratificar tais acordos.
O novo rearmamento promovido por Reagan, com a Iniciativa de Defesa Estratégica, pôs fim aos acordos SALT.
O gasoduto da Sibéria já tinha sido explodido pela CIA.
Um novo acordo, ao contrário, foi assinado em 1991 entre Bush pai e Gorbachov, cinco meses antes do colapso da URSS. Ao produzir-se tal acontecimento, o campo socialista já não existia. Os países que o Exército Vermelho tinha libertado da ocupação nazista não foram capazes sequer de manter a independência. Governos direitistas que acederam ao poder se passaram com armas e bagagens para a Otan e caíram em mãos dos Estados Unidos. O da RDA, que sob a direção de Erich Honecker tinha realizado um grande esforço, não pôde vencer a ofensiva ideológica e consumista lançada desde a própria capital ocupada pelas tropas ocidentais.
Como dono virtual do mundo, os Estados Unidos incrementaram sua política aventureira e belicista.
Devido a um processo bem manipulado, a URSS se desintegrou. O golpe de misericórdia foi assestado por Boris Yeltsin em 8 de dezembro de 1991 quando, em sua condição de presidente da Federação Russa, declarou que a União Soviética tinha deixado de existir. No dia 25 desse mesmo mês e ano, a bandeira vermelha da foice e martelo foi arriada do Kremlin.
Um terceiro acordo sobre armas estratégicas foi firmado então entre George H. W. Bush e Boris Yeltsin, em 3 de janeiro de 1993, que proibia o uso dos Mísseis Balísticos Intercontinentais (ICBM nas sigla em inglês) de múltiplas ogivas. Foi ratificado pelo Senado dos Estados Unidos em 26 de janeiro de 1993, com uma margem de votos de 87 a 4.
A Rússia herdava a ciência e a tecnologia da URSS ? que apesar da guerra e dos enormes sacrifícios foi capaz de equiparar seu poder com o imenso e rico império ianque ?, a vitória contra o fascismo, as tradições, a cultura, e as glórias do povo russo.
A guerra da Sérvia, um povo eslavo, tinha atingido duramente a segurança do povo russo, coisa que nenhum governo podia dar-se o luxo de ignorar.
A Duma russa ? indignada pela primeira guerra do Iraq e a do Kossovo na qual a Otan massacrou o povo sérvio -, se negou a ratificar o START II e não assinou tal acordo até o ano 2000, e nesse caso, para tratar de salvar o tratado ABM que nessa ocasião já não interessava aos ianques manter.
Os Estados Unidos tratam de utilizar seus enormes recursos midiáticos para manter, enganar e confundir a opinião pública mundial.
O governo desse país atravessa uma etapa difícil como consequência de suas aventuras bélicas. Na guerra do Afeganistão estão comprometidos os países da Otan sem exceção alguma, e vários outros do mundo, a cujos povos é odiosa e repugnante a carnificina em que estão envolvidos em maior ou menor grau países ricos e industrializados como Japão e Austrália, e outros do Terceiro Mundo.
Qual é a essência do acordo aprovado em abril deste ano pelos Estados Unidos e a Rússia? Ambas as partes se comprometem a reduzir o número de ogivas nucleares estratégicas a 1.550. Das ogivas nucleares da França, do Reino Unido e Israel, todas capazes de golpear a Rússia, não se diz uma palavra. Das armas nucleares tácticas, algumas delas com muito mais poder que a que fez desaparecer a cidade de Hiroshima, tampouco. Não se menciona a capacidade destrutiva e letal de numerosas armas convencionais, as rádio-elétricas e outros sistemas de armamentos aos quais os Estados Unidos dedicam seu crescente orçamento militar, superior aos de todas as demais nações do mundo juntas. Ambos os governos sabem, e talvez outros muitos dos que ali se reuniram, que uma terceira guerra mundial seria a última. Que tipo de ilusões podem semear os membros da Otan? Qual é a tranquilidade que dessa reunião deriva para a humanidade? Que beneficio para os países do Terceiro Mundo, e inclusive para a economia internacional, é possível esperar?
Não podem sequer oferecer a esperança de que a crise econômica mundial seja superada, nem quanto tempo duraria essa melhoria. A dívida pública total dos Estados Unidos, não só a do governo central, mas do resto das instituições públicas e privadas desse país, já se eleva a uma cifra que se iguala ao PIB mundial de 2009, que ascendia a 58 trilhões de dólares. Por acaso os que estavam reunidos em Lisboa se perguntaram de onde saíram esses fabulosos recursos? Simplesmente, da economia de todos os demais povos do mundo, aos quais os Estados Unidos entregaram papéis convertidos em divisas que ao longo de 40 anos, unilateralmente, deixaram de ter respaldo em ouro e agora o valor desse metal é 40 vezes superior. Esse país ainda dispõe de poder de veto no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Por que não se discutiu isso em Portugal?
A esperança de retirar do Afeganistão as tropas dos Estados Unidos, da Otan e de seus aliados é idílica. Terão que abandonar esse país antes de que, derrotados, entreguem o poder à resistência afegã. Os próprios aliados dos Estados Unidos já começam a reconhecer que poderiam transcorrer dezenas de anos antes de acabar essa guerra. Estaria a Otan disposta a permanecer ali esse tempo? Os próprios cidadãos de cada um dos governos ali reunidos o permitiriam? Não esquecer que um país de grande população, o Paquistão, compartilha uma fronteira de origem colonial com o Afeganistão e uma percentagem não desprezível de seus habitantes.
Não critico Medvedev, faz muito bem em tratar de diminuir o número de ogivas nucleares apontadas contra seu país. Barack Obama não pode inventar justificativa alguma. Seria risível imaginar que esse colossal e custoso deslocamento do escudo nuclear anti-mísseis é para proteger a Europa e a Rússia dos foguetes iranianos, procedentes de um país que não possui sequer um artefato nuclear táctico. Nem em um livrinho de histórias infantis se pode afirmar isso.
Obama já admitiu que sua promessa de retirar os soldados norte-americanos do Afeganistão poderia dilatar-se, e os impostos aos contribuintes mais ricos ser suspensos de imediato. Depois do Prêmio Nobel seria necessário conceder-lhe o prêmio de "maior encantador de serpentes" que jamais existiu.
Tomando em conta a autobiografia de George W. Bush, já convertida em "Best Sellers", que algum redator inteligente elaborou para ele, por que não lhe deram a honra de convidá-lo a Lisboa? Com certeza, a extrema direita, o "Tea Party" da Europa, ficaria feliz.
Fidel Castro Ruz
21 de novembro de 2010
20 h 36.
Fonte: CubaDebate
Tradução: Redação do Vermelho