Vamos ter Orçamento de Estado? Como vão reagir os mercados, a banca internacional e a União Europeia se ele não for aprovado? E claro, há opiniões para todos os gostos. Mas, como já se tornou habitual no nosso país, nada disto é verdadeiramente importante, nem para levar a sério. O Orçamento de Estado vai passar e a crise política não passará de mais uma tempestade em copo de água, alimentada por umas tantas altercações parlamentares e declarações partidárias, artificial e convenientemente ampliadas pela comunicação social e debatidas até mais não pelos "comentadores" de serviço.
Que o Orçamento de Estado vai ser aprovado, que o seu conteúdo tem de estar de acordo com o PEC2 e com as mais recentes determinações impostas pela Alemanha, só indo a votação na Assembleia da República após obter luz verde do ECOFIN, são factos incontornáveis e do conhecimento de todos. Este é ponto fundamental e a única coisa com que valeria a pena perder tempo, mas a que tanto a esquerda como a direita parlamentar não se referem. Portanto aquilo que está em causa não é saber se o Orçamento de Estado poderia ser outro, menos penalizador para o povo português. Ele vai ser aquilo que quem manda na União Europeia entender que deve ser tendo em vista a redução do défice para os tais 3% até 2013, a salvação do Euro - nos termos ditados pela Alemanha -, e a existências de garantias seguras de pagamento dos juros relativos à divida externa portuguesa. Preocupação comunitária motivada por algo de que os partidos parlamentares evitam falar seriamente e com verdade, que é do estado de pré-falência da economia portuguesa e dos níveis do desemprego no nosso país – mais de 700 mil desempregos, 11% da população activa e a sua incapacidade para criar riqueza.
Segundo números mais recentes do Banco de Portugal, Eurostat e INE, entre 2004 e 2009, enquanto o PIB crescia 19.608 mil milhões de euros, a dívida crescia 72.484 mil milhões, passando de 64% para 100,6% do PIB. Em Março de 2009 a dívida externa atingia os 421.520 milhões de euros, 2,8 vezes mais o valor do PIB previsto para esse ano. Como nenhuma destas preocupações (a situação da dívida externa e o desemprego) foi invocada pelo PSD para justificar a ruptura das conversações e se sabe que por "imperativo patriótico" não irá votar contra, mas abster-se, permitindo assim que o Orçamento de Estado seja aprovado unicamente com os votos do PS (PCP e BE já disseram que votam contra) tudo indica que na verdadeira razão da zanga estejam prosaicos cálculos eleitorais. Ao sacudir responsabilidades na feitura do Orçamento de Estado, ainda que ele seja a tradução do PEC2 acordado pelo PS e o PSD na Primavera, aquilo que Passos Coelho pretende com a ruptura é garantir boas condições para ser eleito nas próximas legislativas e cavar tão fundo quanto possível a derrota do PS. Ao fazer cair unicamente sobre este partido a responsabilidade pelas duríssimas medidas de austeridade que se perfilam a partir de Janeiro, com novo aumento de impostos, nomeadamente do IVA, cortes no investimento público e nos apoios sociais, com mais falências e desemprego, o que o PSD pretende pôr-se a salvo da contestação popular, evitando encontrar-se numa situação semelhante àquela com que se deparou após a o acordo do PEC2, em que viu inverter-se a tendência de subida nas sondagens, perdendo a vantagem, que já começava a ser confortável, sobre Sócrates.