Este se caracteriza por seu desprezo pela legalidade, o autoritarismo no exercício das atribuições presidenciais e a violação das regras do jogo e da cultura dialógica próprias da democracia. Também pela subordinação dos outros poderes do estado aos designios do poder central e a esterilização da vontade popular resultante da paralisia produzida no funcionamento do congresso.
Tudo isso motivado por uma ânsia incontrolável de cancelar algumas das mais importantes conquistas do kirchnerismo, para o qual não existem escrúpulos de nenhum tipo e se apela a uma torrente de decretos de necessidade e urgência, quando não existem nem uma nem outra.
Ou a “apertos” para destituir funcionários que gozam de uma designação vitalícia, como a procuradora-geral Alejandra Gils Carbó; ou cujo mandato legalmente estipulado ainda não havia expirado, como Alejandro Vanoli a frente do Banco Central. Ou recorrer a monstruosidades jurídicas e institucionais, como a dissolução de uma agência do estado como a AFSCA, estabelecida por uma lei do congresso que, também, havia sido declarada constitucional pela Corte Suprema.
Uma profunda restauração conservadora está em marcha, e quando finalmente comece o período ordinário de sessões do Congresso no próximo 1º de março a paisagem institucional e juridica da Argentina será quase completamente irreconhecível.
Se se trata de um regime por suas formas, por seu conteúdo classista é uma plutocracia que instaura um país “atendido por seus donos”, uma “CEOcracia” onde os gerentes das maiores companhias em diversos ramos da economia tomam por assalto as estruturas do estado e exercem – claro que por ora, já se verá por quanto tempo – um poder onímodo e em benefício da riqueza.
CEOcracia, também, que registra um número sem precedentes de indivíduos processados ou imputados em diferentes esferas judiciais. Um poder despido e carente das mediações resultantes das lutas democráticas, e completamente irresponsável ante o congresso (pelo menos durante os próximos dois meses) e ante a sociedade, atônita por um frenético despejo de prepotência institucional nunca visto desde a recuperação da democracia.
Não custa ser muito perspicaz para comprovar que este trânsito decadente é também uma impostura que contrasta escandalosamente com as mensagens de “paz e amor” que o hoje presidente propagava com estudada beatitude durante sua campanha assim como sua promessa de reconstruir a união da família argentina por meio do diálogo e o acordo político, intenção enfaticamente anunciada em sua mensagem inaugural ao congresso e grosseiramente desmentida na prática poucas horas depois.
Impostura, também, daqueles supostos vestais da república e da democracia que ontem vociferavam sem pausa desde todos os megafones da oligarquia midiática e que hoje, para sua irremediável desonra, guardam um cúmplice e indescritível silêncio diante da prepotência do regime.
Fonte: Cubadebate
Tradução: Diário Liberdade