A Conferência de Paris, graças à paciente diplomacia de Laurent Fabius e François Hollande, permitiu a adoção unânime de um documento que reconhece a necessidade de se tomar medidas para evitar que o aquecimento global seja superior a 2 graus.
Laurent Fabius reconheceu que, no fim, ficaremos abaixo de um grau e meio. Todos os governos do planeta aceitaram fazer propostas de redução voluntária das suas emissões de CO2.
Diante de tamanha demonstração de boa vontade, de tão maravilhosa unanimidade planetária, de tão grandiosa convergência de todos os países, grandes e pequenos, não é para ficarmos felizes? Para os que podem, é hora de abrir a garrafa de champanhe e comemorar esse extraordinário sucesso da governança climática internacional.
Só tem um detalhe que ameaça estragar a festa. É um detalhe pequeno, mas não é um detalhe insignificante. Qual?
Se todos os governos cumprirem as suas promessas, os seus compromissos voluntários – o que, infelizmente, é pouco provável, considerando-se a ausência de um acordo obrigatório, a ausência de sanções e a ausência de controlo – se todos reduzirem efetivamente as suas emissões, conforme as suas declarações de intenção, nesse caso idílico – infelizmente, muito infelizmente, improvável – o que irá acontecer?
Segundo os cálculos científicos, nesse caso o aquecimento global vai aumentar, em algumas décadas, 3 ou talvez até 4 graus. O que significa o rompimento do ponto de não retorno e o desenvolvimento de um processo irreversível de mudança climática, conduzindo – num prazo imprevisível, mas, sem dúvida, como reconhecem os cientistas, bem mais curto do que as previsões atuais – a uma série de catástrofes nunca vistas na história da humanidade: inundação das principais cidades da civilização humana (de Londres e Amesterdão a Rio de Janeiro e Hong Kong), desertificação em grande escala, redução dramática de água potável, queima das últimas florestas existentes etc. A que temperatura a vida humana seria insuportável neste planeta?
A montanha COP-21 pariu um rato. Se quisermos evitar a catástrofe, temos de ir além da conversa e atacar as verdadeiras raízes do problema: a oligarquia fóssil e, em última análise, o atual sistema económico e social, o capitalismo.
“Mudemos o sistema, não o clima!” A palavra de ordem de milhares de manifestantes presentes no Champ de Mars foi a única palavra de futuro pronunciada em Paris em 12 de dezembro de 2015.
Tradução de Mariana Echalar
Fonte: Blog da Boitempo.