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Amy Goodman

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Mulheres pela paz: Um século de luta

Amy Goodman - Publicado: Sábado, 09 Mai 2015 16:42

Há cem anos, mais de mil mulheres reuniram em Haia, Holanda, durante a Primeira Guerra Mundial, para exigir a paz.


A Grã-Bretanha negou-se a emitir passaportes a mais de 120 mulheres, impedindo-as de viajarem e puderem manifestar a sua dissidência pacífica. Hoje, um século mais tarde, nesta época de tanta violência, cerca de mil mulheres provenientes de África, Ásia, América Latina, Europa e América do Norte, reuniram na mesma cidade para se manifestarem contra as guerras atuais: do Iraque ao Afeganistão, passando pelos conflitos no Iémen e na Síria e a guerra social que se está a travar nas ruas dos Estados Unidos. Estas mulheres viajaram até Haia para comemorar o centenário da fundação da Liga Internacional de Mulheres pela Paz e pela Liberdade. A Dra. Aletta Jacobs, uma sufragista holandesa cofundadora do grupo, disse que o objetivo da primeira reunião celebrada em 1915 era empoderar as mulheres “para que protestem contra a guerra e sugiram medidas para impedir que haja mais guerras”.
 
Entre as mulheres que estiveram agora em Haia havia quatro vencedoras do Prémio Nobel. Shirin Ebadi recebeu o prémio em 2003 pela sua defesa dos direitos humanos das mulheres, das crianças e dos presos políticos do Irão. Foi a primeira mulher muçulmana, e a primeira iraniana, que recebeu o Nobel. Apesar disso, vive no exílio desde 2009 e viu o seu esposo apenas uma vez desde então. No seu discurso de abertura da conferência da Liga, celebrada esta semana, Ebadi disse: “Se em vez de bombas tivessem sido lançado livros às pessoas, aos talibã, e se tivessem construído escolas no Afeganistão – poder-se-iam ter construído 3.000 escolas em homenagem às 3.000 pessoas que morreram nos atentados do 11 de setembro – agora não existiria o EIIL1. Não esqueçamos que o EIIL surgiu dos talibã”. Ebadi estava juntamente com outras vencedoras do prémio Nobel: Leymah Gbowee, que ajudou a conseguir uma paz negociada durante as guerras civis da Libéria; Mairead Maguire, que ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1976, aos 32 anos, por promover o fim do conflito na Irlanda do Norte, de onde é originária; e Jody Williams, de Vermont, que liderou a campanha mundial para proibir as minas terrestres e agora está a organizar uma campanha para que sejam proibidos os chamados “robôs assassinos”, que são armas que matam automaticamente sem a participação de um ser humano que os controle.
 
Estas quatro célebres vencedoras do Prémio Nobel estiveram acompanhadas por ativistas da paz de todo o mundo. Madeleine Rees, secretária geral da Liga Internacional de Mulheres pela Paz e pela Liberdade, falou da primeira reunião celebrada em 1915 e como foi organizada: “Não teria sido possível sem o movimento pelo direito ao sufrágio feminino porque não se pode começar um movimento de massas a partir de nada. De facto, é necessário ter uma estrutura organizativa para consegui-lo. Isto tinha começado com o movimento das sufragistas. Todas essas mulheres que foram a Haia estavam a exigir o direito de votar. Viram, com razão, que a ausência das mulheres na tomada de decisões no governo implicava maiores probabilidades de desencadeamento de uma guerra”.
 
Kozue Akibayashi é a nova presidenta da Liga. Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos exigiram que a Constituição do Japão proibisse explicitamente que o país travasse uma guerra para resolver as suas divergências com outros países. “No Japão, a maioria das pessoas apoia os preceitos pacifistas da Constituição”, explicou Akibayashi. No entanto, o Presidente Barack Obama, tal como o Presidente George W. Bush antes dele, está a pressionar o governo japonês para que elimine o artigo pacifista da Constituição. Esta semana, Obama recebeu o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, na Casa Branca e felicitou Abe pelo seu trabalho para restaurar a capacidade ofensiva das forças armadas do país. Além de ser presidenta da Liga, Kozue Akibayashi é uma das milhares de ativistas que estão a protestar contra os planos de ampliar a presença militar dos Estados Unidos na ilha de Okinawa.
 
A ativista africana Hakima Abbas também esteve em Haia. Entrevistei-a umas horas depois de ser publicada a informação sobre as valas comuns na Nigéria, em que encontradas vítimas do grupo militante Boko Haram. A história de Boko Haram, disse-me, “é uma combinação de fundamentalismos islamistas violentos, fundamentalismo capitalista e militarização mundial. O fundamentalismo em África não começa nem termina com os fundamentalismos islâmicos. Temos sido testemunhas do fundamentalismo cristão no Uganda, onde se perseguem as pessoas gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais, queers e intersexuais”. A seguir, ligou tudo isto com os protestos ocorridos esta semana nas ruas de Baltimore: “No seu próprio país, o fundamentalismo que defende a supremacia branca e o fundamentalismo cristão de direita são exacerbados pela cultura das armas e pela promoção de uma força policial armada que está a matar mulheres e homens negros, pessoas transsexuais e crianças. De modo que os fundamentalismos são um problema que realmente devemos abordar a nível mundial”.
 
Perguntei a Shirin Ebadi se tinha alguma mensagem para nos dar. Respondeu-me com uma proposta singela, mas muito poderosa, para conseguir a paz, que constitui a base do trabalho da Liga Internacional de Mulheres pela Paz e pela Liberdade no começo do seu segundo século de vida: “Trata as pessoas do Afeganistão do mesmo modo que tratas o teu próprio povo. Olha as crianças iraquianas da mesma maneira que olhas para os teus próprios filhos. Só então verás que a solução está ali, ao alcance da mão”.
 
Artigo publicado em Truthdig em 29 de abril de 2015. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol para Democracy Now. Tradução para português de Carlos Santos/Esquerda.net

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