Mas para ganhar o favoritismo na campanha atual, contou-se também com os erros da direita, de que esta campanha é uma demonstração cabal. Antes de tudo a direita – que conta, sobretudo com o monopólio dos meios de comunicação como sua maior força – seguiu acreditando em um poder que se revela cada vez mais declinante.
A campanha contra o governo em 2005 e a utilização pesada desse monopólio no primeiro turno das eleições de 2006 – em que tiveram peso determinante, com suas manipulações, para a passagem ao segundo turno – lhes deram uma sensação de onipotência, de falar em nome do país da opinião pública. Ficaram com a impressão de um poder que já era declinante e que perdeu aceleradamente força conforme o apoio ao governo se consolidou.
Mas os maiores equívocos vieram da assunção dos valores neoliberais a fundo, acreditando que a população seria solidária com essas posições, confundindo seus interesses com os do país – como é típico da mídia conservadora. Passaram a acreditar que a população brasileira não gosta do Estado, que tudo o que vem do Estado lhe aparece como negativo e que, por conseqüência, o que vem do mercado aparece como positivo à população.
Criticam qualquer gasto governamental, sem nunca discriminar sua destinação, como se à população qualquer ação estatal aparecesse como negativa. Não discriminam se se trata de contratar burocratas ineficientes – o clichê que tem do funcionário público – e não professores, enfermeiras, médicos, para atender a massa da população.
As críticas de FHC e do Serra sobre o “corporativismo” (?) do governo Lula não fazem nenhum sentido para a população, que nem entende o que significa, nem considera que seja um dos problemas essenciais do Brasil. A própria revista conservadora britânica The Economist considera que o povo brasileiro gosta do Estado, que lhe garante direitos. Como esta problemática não está incluída na ótica neoliberal – a dos direitos –, a direita brasileira é vitima dos seus próprios preconceitos e fica na contramão da opinião dos brasileiros.
Da mesma forma, consideram que a participação do movimento sindical e dos partidos seja considerada negativamente pelo povo, assim como julgam que qualquer critério ideológico seja desvirtuador dos objetivos do Estado. O povo prefere um governo que tenha afinidades com os sindicatos – que personificam reivindicações para grandes contingentes da população a um governo, como o de FHC, que criminaliza os sindicatos e nega suas reivindicações.
No plano internacional, a direita carrega a concepção tradicional de relações privilegiadas (de subordinação) com os EUA e com a Europa. Acreditava que o dinamismo econômico externo continuasse a vir desses eixos e propugna o privilegio de relações com eles. A crise atual demonstrou exatamente o contrário. Os países do centro do capitalismo não saem da crise, enquanto que os que optamos pela integração regional, saímos, ao lado do conjunto dos países do sul do mundo.
A direita acredita nas mentiras que propaga. Por exemplo, a de que há um empate técnico, de que os candidatos começam o horário eleitoral numa situação de equilíbrio. É vitima do seu próprio veneno.
O erro mais importante, no entanto, do qual paga um preço caro, é o governo FHC, que acreditou que com a simples estabilidade monetária poderia conquistar apoio popular para perpetuar o projeto do bloco tucano-demista no poder. Sacrificou as políticas sociais, o desenvolvimento econômico, a soberania nacional, o papel ativo do Estado, a regulação econômica, os direitos da massa da população – em função do ajuste fiscal e da hegemonia do capital financeiro.
FHC escolheu como tema central para atacar, a estabilidade monetária, os dados inflacionários aos salários, o ajuste fiscal como remédio para todos os males. Lula escolheu a injustiça social, com o crescimento e a distribuição de renda como antídotos. Fica claro que tem razão e quem triunfou. Com os méritos da esquerda e os erros da direita.