"Velho amigo, há anos não o vejo, como comentei, lê os três últimos que te enviei, a ideia continua sendo a geração do conflito pelo lado ocidental", leu Chávez do texto confidencial. "Os últimos acontecimentos confirmam, todos ou quase todos, o que estes discutiram em parte por aqui e outras informações que me chegaram desde cima", continuou.
"A fase de preparação da comunidade internacional, com a ajuda da Colômbia, está em plena execução", manifestou o texto, fazendo referência à sessão extraordinária na Organização dos Estados Americanos (OEA), na quinta-feira passada, durante a qual o governo da Colômbia acusou a Venezuela de apoiar "terroristas" e dar refúgio a "acampamentos terroristas" em território venezuelano.
O governo colombiano deu um "ultimato" de "30 dias" para que a Venezuela permita uma "intervenção internacional". O Departamento de Estado também apoiou a posição da Colômbia e instou a Venezuela a que "deve responder ante essa informação 'comprovada e confirmada'".
A carta continuou com mais detalhes: "Te mandei dizer que os eventos têm data limite no dia 26, porém, por alguma razão estão adiantando movimentos que eram para ser executados posteriormente".
"Nos Estados Unidos a fase de execução está sendo acelerada com uma força de contenção até a Costa Rica, com o pretexto da luta contra o narcotráfico". No passado 1º de julho, o governo da Costa Rica autorizou a entrada de 46 navios de guerra e 7 mil marines estadunidenses em seu território.
O documento destacou que o verdadeiro objetivo dessa mobilização militar é "apoiar operações militares" contra a Venezuela.
Assassinato e derrubada
"Existe um acordo entre a Colômbia e os Estados Unidos com dois objetivos: um é Mauricio e o outro é o governo", revelou o texto secreto. O presidente Chávez explicou que "Mauricio" é o pseudônimo utilizado nessas comunicações.
"A operação militar vai adiante", alertou o texto, e será realizada "pelos do Norte; porém, não querem entrar diretamente em Caracas (...) Estão caçando 'Mauricio' fora de Caracas; é muito importante, te repito, é muito importante".
O presidente Chávez revelou que havia recebido comunicações da mesma fonte em ocasiões anteriores, alertando-o sobre ameaças perigosas. Recebeu uma carta da fonte dias antes da captura de mais de cem paramilitares colombianos nas redondezas de Caracas, que eram parte de um plano de assassinato contra o chefe de Estado venezuelano.
Outra comunicação chegou até ele semanas antes do golpe de Estado, em abril de 2002. "A carta falou de francoatiradores e do golpe", explicou Chávez, "e tinha razão, a informação foi veraz; porém, não fomos capazes de atuar a tempo, para prevenir a situação".
Expansão militar dos EUA
Essa última revelação chega justamente depois da decisão de romper relações com a Colômbia, tomada pelo presidente Chávez, após o "show" da Colômbia na OEA. "Uribe é capaz de qualquer coisa", alertou Chávez, anunciando que o país está em alerta máxima e as fronteiras serão reforçadas.
Em outubro de 2009, a Colômbia e os Estados Unidos assinaram um polêmico acordo militar que autorizou Washington a ocupar sete bases militares e o uso de todo o território colombiano para executar suas missões militares. Uma das bases assinaladas no acordo -Palanquero- foi citada em um documento da Força Aérea dos Estados Unidos, em maio de 2009, como necessária para "conduzir operações militares de amplo espectro" por todo o continente para combater "a ameaça de governos anti-estadunidenses" na região.
Palanquero também foi considerada uma peça chave para a estratégia de mobilidade global do Pentágono, como foi destacado no Livro Branco: Estratégia de Mobilidade Global do Comando de Mobilidade Aéreo, publicado em fevereiro de 2009. "O Comando Sul identificou Palanquero, Colômbia (Base Germán Olano SKPQ) como um lugar de cooperação e segurança (CSL, por suas siglas em inglês). Desde esse lugar, quase a metade do continente pode ser alcançado por um C-17, sem necessidade de reabastecimento".
O orçamento de 2010 do Pentágono incluiu uma solicitação de 46 milhões de dólares para melhorar a instalação em Palanquero, para apoiar a "Estratégia de Postura de Teatro" do Comando Combatiente e "dar uma oportunidade única para operações de amplo espectro em uma subregião crítica de nosso hemisfério, onde a segurança e a estabilidade estão sob constante ameaça de insurgências terroristas, governos anti-estadunidenses, pobreza endêmica e frequentes desastres naturais".
O documento da Força Aérea, de maio de 2009, além disso, revelou que Palanquero seria utilizada para "incrementar nossas capacidade de conduzir operações de Inteligência, Reconhecimento e Espionagem (ISR, por suas siglas em inglês); melhorar o alcance global e aumentar a capacidade de guerra expedita".
Em fevereiro de 2010, a Direção Nacional de Inteligência dos Estados Unidos, em seu relatório anual de ameaças, classificou a Venezuela e o presidente Chávez como "Líder anti-estadunidense" na região.
Os Estados Unidos também mantêm duas bases de operações avançadas em Aruba e em Curaçao, a poucos quilômetros da costa venezuelana. Durante os últimos meses, o governo venezuelano denunciou a intromissão não autorizada de vários aviões não tripulados (drones) e outras aeronaves estrangeiras em território venezuelano.
Ao mesmo tempo, documentos oficiais dos Estados Unidos, recentemente desclassificados, revelam entre 40 e 50 milhões de dólares em financiamento a grupos e meios anti-Chávez, para alimentar o conflito dentro do país,executar ações de desestabilização e subversão interna e promover matrizes de opinião em âmbito internacional para justificar uma agressão contra a Venezuela.
Essas últimas revelações evidenciam que estão preparando um conflito sério, perigoso e não justificado contra a Venezuela, um país com uma democracia vibrante e as maiores reservas de petróleo do mundo.
Fonte: Adital.