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Adolfo Pérez Esquivel

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Em coluna

Israel e Palestina, e o direito dos povos à sua autodeterminação e soberania

Adolfo Pérez Esquivel - Publicado: Terça, 29 Julho 2014 11:37

Em janeiro de 2009 publiquei uma nota sobre os ataques de Israel de 27 de dezembro de 2008, que começava dizendo: “Tocou o telefone às 3:45 da madrugada, um amigo israelita ligava desde Jerusalém preocupado e lastimoso se perguntava o que a comunidade internacional poderia fazer diante da invasão e dos bombardeios de Israel sobre a Faixa de Gaza”. De fato, essa invasão ocorreu depois que uma pesquisa mostrava que mais de 70% da população de Israel e a da Palestina estava de acordo com a existência de dois estados convivendo pacificamente.


No entanto, os interesses do Estado de Israel e seus aliados impediaram sistematicamente a constituição do Estado Palestino, tal como foi estabelecido pela ONU em 1948, arrancando-lhes o território, oprimindo-os e construindo um muro da infâmia para separar, aprisionar e perseguir o povo palestino.

Israel tenta justificar seus atos reivindicando o direito de se autodefender, mas de acordo com o princípio básico do direito internacional, ex injuria non oritur ius , um direito legal não pode surgir de um ato ilícito. Os fatos estão debaixo dos nossos olhos e são inquestionáveis, se um Estado viola o direito internacional e as advertências da ONU para cometer atrocidades contra outros povos, se transforma em um Estado terrorista.

O grande pecado dos palestinos é que não estão dispostos a se render e dão a vida lutando por sua liberdade. Israel é o país invasor que conta com mais recursos militares, financeiros e midiáticos, para dispor de escudos antimísseis e drones, e comprar um suficiente consenso como para que não os chamem de “terroristas” apesar de bombardear com armas químicas, torturar crianças palestinas e usá-las como escudos humanos.

Isto já não é um problema político apenas, é um problema humanitário. A ONU ontem aprovou uma resolução para a proteção da Palestina e para investigar a operação de Israel por possíveis crimes contra a humanidade. A resposta de Israel foi bombardear, poucas horas depois, escolas que o máximo organismo internacional possui em Gaza, matando e ferindo a muitos dos 1500 civis que buscavam abrigo e salvar suas vidas.

O primeiro-ministro israelense disse bem claro que: “não cederemos à pressão internacional”, e os Estados Unidos apoiam esta postura porque já o fizeram em outras oportunidades e porque querem seguir fazendo. No entanto Israel é reconhecido como um Estado pleno na ONU e a Palestina não, porque os EUA se negam. A primeira e a oitava potência militar do mundo estão se convertendo cada dia mais em uma ameaça à humanidade. Algo muito diferente ao que busca a Palestina destruída e bloqueada comercialmente, que é sobreviver e conseguir se constituir em um Estado pleno.

Houve muitas tentativas para poder se alcançar uma solução, todas frustradas, a mais recente foi a do Papa Francisco, que viajou à Terra Santa e convidou o presidente de Israel, Simon Peres, e o presidente palestino Mahmoud Habbas para irem ao Vaticano orarem juntos e alcançar um novo caminho de diálogo que derrube os muros da intolerância e possam alcançar a paz entre os povos.

Os povos de Israel e Palestina precisam viver em paz. Para isso a comunidade internacional deve impor limites a Israel.

Por isso reivindicamos:

Enviar uma missão para deter os bombardeios e a ofensiva militar terrestre de Israel

Bloquear o comércio militar com Israel, como resolveu a ONU em 1975 [1]

Aplicar sanções econômicas obrigatórias pela ONU, como ocorreu com o Apartheid na África do Sul.

Enviar ajuda humanitária ao povo palestino, e reconhecer a Palestina como um Estado soberano, independente e livre no território que lhe corresponde.

 

[1] Resolução 3414 (1975) da Assembleia Geral das Nações Unidas: “ [a AGNU] solicita a todos os estados que desistam de prover Israel de qualquer ajuda militar e econômica enquanto continue ocupando territórios e negando o inalienável direito nacional do povo palestino”.


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