Criada nos anos da "guerra fria" para conter a "ameaça comunista", a NATO ficou como que sem inimigo após a implosão do Bloco de Leste e a dissolução do Pacto de Varsóvia. De repente, ficaram sem préstimo, por falta de alvo, milhares e efectivos e meios militares dos mais sofisticados e mortíferos, mais o complexo industrial e de espionagem que lhes estava associado. E, como esteve fora de questão abrir mão de uma força militar das mais poderosas, sempre útil quando se trata de dar consistência aos planos geoestratégicos das grandes potências ocidentais, havia que desencantar um inimigo. Tem sido um ver-se-te-avias algo trapalhão e inconsistente. Com a "libertação" do Kuwait descobriu-se a "ameaça do Sul", em substituição da "ameaça do Leste", a que se seguiu a teoria do "choque de civilizações", do "terrorismo" e da "proliferação nuclear" (Irão, Iraque, Coreia do Norte). Pelo meio flutuam as "ameaças, desafios, incertezas, crises, riscos, mutações, interesses" em prol da democratização com origem nos "Estados falhados".
Agora, em tempo de crise económica e financeira nos grandes centros imperialistas ocidentais, chegou a altura de rever a estratégia de forma a assegurar a manutenção da hegemonia imperial pelo terror armado. Isto passa por abandonar definitivamente a ideia de um inimigo principal – agora ele está em todo o lado, até dentro de portas – e acautelará a emergência de novas potências regionais que, a prazo, possam pôr em perigo a hegemonia norte-americana e europeia do mundo.
Pelo que se vai sabendo, e tendo em conta as orientações estratégicas de defesa nacional da administração de Obama (porque os EUA continuam a ser o patrão), os novos conceitos estratégicos da NATO deverão andar em torno da ameaça terrorista, da utilização dos meios electrónicos, nomeadamente a internet, pelos inimigos das democracias, e o desenvolvimento das "armas inteligentes", dado que há uma cada vez maior oposição popular às aventuras guerreiras ocidentais e uma fraca tolerância relativamente a baixas militares – nada como fazer a guerra à distância, como um jogo devídeo, com escassos efectivos militares, mas grandes meios tecnológicos e financeiros, em que só morrem (anonimamente) os outros.