E é apenas disso que se trata, de dizer que discordamos, e de forma ordeira. Nada de copiar os gregos, com ocupações de ministérios, paralisar o país com greves gerais (o "mau exemplo" já chegou ao Metro de Madrid), de sequestrar patrões até ver os direitos satisfeitos, com têm feito com êxito os trabalhadores franceses e chineses.
Depois da gigantesca manifestação de dia 29, quando era expectável que se endurecessem as formas de luta e as reivindicações, se começasse a mobilizar para uma greve geral nacional e pelo derrube do governo e da coligação não declarada que o sustenta e mantém refém, os nossos bonzos sindicais resolveram-se por uma jornada de luta, que não se sabe bem para que servirá. Dirão que é a cobardia típica dos reformistas e burocratas traidores. Nós dizemos que é uma lógica de classe que impera e que quem anda enganado são os que ainda confiam na possibilidade de um dia os dirigentes do PCP, do BE e dos sindicatos caírem em si e dizerem basta. Não é por acaso que o PCP não cessa de dizer que "o país precisa de uma política patriótica e de esquerda" e de se manifestar "em defesa da produção, da justiça social e da soberania nacional". É como se não existissem classes, mas só portugueses, os bons e os honrados e os que o não são. Eleva-se a moral, rebaixa-se a política e elimina-se a consciência de classe. Por isso não surpreende que agora a grande moda da classe política nacional – da direita à esquerda – seja invocar o "patriotismo", depois de terem feito o seu percurso a "democracia e mercado", o "imperativo" e o "interesse nacional" e a "ética republicana". Num momento em que a conflitualidade social se acentua, não deixa de ser estranho que a nossa esquerda ordeira actue à margem dos conflitos de classe, como se tudo pudesse ser resolvido através da harmoniosa negociação entre os que beneficiam com a crise e as suas vítimas.