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James Petras

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Em coluna

O regime Obama inventou uma "conspiração do terror" em defesa da polícia de estado

James Petras - Publicado: Segunda, 19 Agosto 2013 13:39

Democracias representativas e ditaduras autocráticas respondem a crises internas profundas de modos muito diferentes: as primeiras tentam justificar-se junto aos cidadãos, explicando causas, consequências e alternativas.


As ditaduras tentam aterrorizar, intimidar e distrair o público acenando com falsas ameaças externas, a fim de perpetuar e justificar a dominação por métodos de estado policial e evitar enfrentar as crises auto-infligidas.

Tal falsificação é evidente no presente anúncio do regime de Obama de uma iminente "ameaça terrorista" global [1] diante das múltiplas crises, fracassos políticos e derrotas por todo o Médio Oriente, África do Norte e Sudoeste da Ásia.

A tagarelice da Internet evoca uma conspiração global e ressuscita a guerra global ao terror

Toda a ofensiva de propaganda da conspiração do terror, lançada pelo regime Obama e disseminada pelos mass media, basea-se nas fontes mais frágeis que se possam imaginar e nos pretextos mais risíveis. Segundo fontes da Casa Branca, a National Security Agency, a CIA e outras agências de espionagem afirmaram ter monitorado e interceptado ameaças não especificadas da Al-Qaeda, conversações de duas figuras da Al Qaeda incluindo Ayman al-Zawahiri [2] .

Ainda pior: a alegação do regime Obama de uma ameaça global da Al-Qaeda, obrigando ao encerramento de 19 embaixadas e consulados e um alerta mundial a viajantes, choca-se claramente com afirmações públicas reiteradas ao longo dos últimos cinco anos de que Washington desferiu "golpes mortais" à organização terrorista que minou a sua capacidade operacional [3] com os "êxitos militares" dos EUA no Afeganistão e no Iraque, o assassinato de Bin Laden, os ataques de drones no Iémen, Paquistão, Somália e a invasão da Líbia apoiada pelos EUA. Ou o regime Obama estava a mentir no passado ou o seu presente alerta de terror é uma invenção. Se, como afirmam Obama e a NSA, a Al Qaeda reemergiu como uma ameaça terrorista global, então doze anos de guerra no Afeganistão e onze anos de guerra no Iraque, o gasto de US$1,46 milhão de milhões, a perde de mais de sete mil soldados estado-unidenses [4] e a mutilação física e psicológica de mais de uma centena de milhar de combatentes dos EUA foi um desastre total e absoluto e a assim chamada guerra ao terror é um fracasso.

A alegação de uma ameaça global de terror, baseada na vigilância da NSA de dois líderes da Al Qaeda com base no Iémen, é tão frívola quanto implausível. Todos os dias por todo o ciberespaço um ou outro indivíduo ou grupo terrorista islâmico discute tramas de terror, fantasias e planos sem grande consequência.

O regime Obama falhou em explicar porque, dentre milhares de "conversações" diárias na Internet, esta particular, neste momento particular, representa uma viável operação terrorista em curso. Não é preciso um milhão de espiões para recolher uma tagarelice jihadista acerca de "atacar Satã".

Durante mais de uma década, operacionais da Al Qaeda no Iémen têm estado empenhados numa guerra por procuração com regimes apoiados por Washington e durante o mesmo período de tempo o regime Obama tem estado empenhado em missões assassínio por drones e Forças Especiais contra militante iemenitas e figuras da oposição [5] . Por outras palavras, o regime Obama engrandeceu eventos que são habituais, relacionados com um conflito em andamento conhecido do público, numa nova ameaça terrorista global tal como revelado pelos seus espiões mestres devido à sua muita apregoada proeza de espionagem!

É mais do que óbvio que o regime Obama está empenhado numa falsificação global concebida para distrair a opinião pública mundial e, em particular, a maioria dos cidadãos dos EUA, da espionagem da polícia de estado e das violações de liberdades constitucionais básicas.

Ao acenar com uma falsa "ameaça terrorista" e a sua detecção pela NSA, Obama espera relegitimar o seu desacreditado aparelho de polícia estatal.

Ainda mais importante: ao levantar o espectro de uma ameaça terrorista global, o regime Obama procura encobrir as sua políticas mais vergonhosas, os desprezíveis "julgamentos espectáculo" e as duras condições de aprisionamento de denunciantes do governo, assim como derrotas e fracassos diplomáticos e militares que têm abalado o império no presente período.

O cronograma da falsificação da ameaça do terror global

Nos últimos anos o público do EUA cansou-se do custo e da natureza inconclusiva da "guerra global ao terror" (GWOT, na sigla em inglês). Inquéritos à opinião pública apoiam a retirada das tropas de guerras distantes assim como programas sociais internos ao invés de gastos militares e novas invasões. Mas o regime Obama, ajudado e em conivência com a configuração de poder pró Israel, dentro e fora do governo, empenha-se numa busca constante de políticas de guerra que miram o Irão, Síria, Líbano e qualquer outro país muçulmano que se oponha a que Israel apague do mapa a Palestina Árabe. Os "brilhantes" estrategas e conselheiros pró guerra no regime Obama têm seguido políticas militares e diplomáticas que levaram a desastres políticos, monstruosas violações de direitos humanos e o estripamento de protecções constitucionais garantidas aos cidadãos dos EUA. A fim de continuar na senda de repetidas políticas fracassadas, foi erguido um gargantuesco estado policial para espionar, controlar e reprimir cidadãos dos EUA e de outros países, tanto aliados como adversários.

A falsificada "ameaça do terror" ocorre num momento e como resposta ao aprofundamento da crise internacional e do impasse político enfrentado pelo regime Obama – um momento de profundo desencanto entre a opinião pública interna e externa e de crescente pressão dos que dão prioridade aos interesses de Israel ( Israel Firsters) no sentido do avanço da agenda militar.

A pancada mais devastadora para a construção do estado policial são os documentos tornados públicos pelo contratado da NSA Edward Snowden, os quais revelaram a vasta rede à escala mundial da espionagem da NSA com violação das liberdades constitucionais dos EUA e da soberania de países. As revelações desacreditaram o regime Obama, provocaram conflitos dentro e entre aliados, e fortaleceram a posição de adversários e críticos do Império estado-unidense.

Importantes organizações regionais, como o MERCOSUL na América Latina, atacaram o "ciber-imperialismo"; os países da UE questionaram a noção de "cooperação de inteligência". Mesmo dúzias de pessoas do Congresso dos EUA apelaram à reforma e a cortes no financiamento da NSA.

As "ameaças do terror" são sincronizadas por Obama para neutralizar as revelações de Snowden e justificar a agência de espionagem e suas vastas operações.

O "julgamento espectáculo" de Bradley Manning, no qual um soldado é torturado, muitas vezes com nudez forçada, em confinamento solitário durante quase um ano, aprisionado durante três anos antes do seu julgamento e publicamente pré-julgado pelo presidente Obama, por numerosos legisladores e pelos mass media (eliminando qualquer simulacro de "correcção"), por revelar crimes de guerra dos EUA contra civis iraquianos e afegãos, provocou protestos em massa por todo o mundo. A "ameaça do terror" de Obama é exibida para coincidir com a condenação pré determinada de Manning nesta farsa judicial desacreditada e para reforçar o argumento de que a sua revelação de brutais crimes de guerra dos EUA "serviu o inimigo" (ao invés de servir o público americano, o qual Manning reiteradamente disse ter o direito de conhecer as atrocidades cometidas em seu nome). Com o relançamento da "guerra ao terror" e a intimidação do público estado-unidense, o regime Obama está a tentar desacreditar heróicas revelações de Bradley Manning de crimes de guerra documentados no Iraque e no Afeganistão centrando-se em nebulosas ameaças de terror da Al Qaeda na Internet!

Na arena política internacional, Obama sofreu uma série de repetidas derrotas políticas e diplomáticas com implicações de extremo alcance para o seu projecto fanático de construção do império. A invasão mercenária apoiada por Obama e executada por islamistas da Al Qaeda da nação soberana da Síria sofreu uma série de derrotas militares e jihadistas, "combatentes da liberdade" por procuração, foram denunciados pelos mais prestigiosos grupos de direitos humanos devido aos seus massacres e limpezas étnicas de populações civis na Síria (especialmente cristãos, curdos, alevis e sírios laicos). A "aventura" síria de Obama saiu pela culatra e está claramente a desencadear uma nova geração de terroristas islâmicos, armados pelos Estados do Golfo – especialmente a Arábia Saudita e o Qatar, treinados pelos Serviços Especiais turcos e da NATO e agora disponível para "missões" terroristas globais contra estados clientes dos EUA, a Europa e os próprios EUA.

Por sua vez, a derrocada síria tem tido um grande impacto sobre a Turquia, aliada NATO de Obama, onde protestos em massa estão a desafiar o apoio militar do primeiro-ministro Erdogan a mercenários islamistas, que têm bases ao longo da fronteira turca com a Síria. A repressão selvagem de Erdogan a centenas de milhares de manifestantes pacíficos, a prisão arbitrária de milhares de activistas pró democracia e os seus próprios "julgamentos espectáculo" de centenas de jornalistas, oficiais militares, estudantes, intelectuais e sindicalistas certamente desacreditaram o principal aliado "islamista democrático" de Obama e minaram a tentativa de Washington de ancorar sua dominância a uma aliança triangular Israel, Turquia e monarquias do Golfo.

Novo descrédito da política externa de Obama de cooptar "regimes eleitorais" islamistas verificou-se no Egipto e está pendente na Tunísia. A política pós Mubarak de Obama procurava um arranjo de "partilha de poder" entre o democraticamente eleito presidente Morsi da Irmandade Muçulmana, os militares da era Mubarak e políticos neoliberais, como Mohamed El Baradei. Ao invés disso, o general Sistani tomou o poder à força através do exército, derrubando e aprisionando o civil presidente Morsi. O exército egípcio sob Sistani tem massacrado pacíficos muçulmanos pró democracia e expurgado o parlamento, a imprensa e vozes independentes.

Obrigado a escolher entre a ditadura militar constituída pelo homem do confiança do antigo ditador Mubarak e a Fraternidade Muçulmana com base de massa, o secretário de Estado John Kerry apoiou a tomada de poder militar como uma "transição para a democracia" (recusando-se firmemente a utilizar a expressão "golpe de estado"). Isto abriu uma porta ampla para um período de repressão em massa e resistência no Egipto e enfraqueceu gravemente uma ligação chave no "eixo de reacção" no Norte de África (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto).

A incapacidade de Obama para tratar das novas aberturas de paz do presidente Rouhani, recentemente eleito no Irão, foi evidente na capitulação da administração a um voto do Congresso (420 – 20) em favor de novas e mais severas sanções concebidas, segundo os autores AIPAC da lei, para "estrangular a economia petrolífera iraniana". A oferta do secretário de Estado Kerry de "negociar" com o Irão, sob sanções económicas e um bloqueio imposto pelos EUA, foi vista em Teerão, e pela maior parte dos observadores independente, como um gesto teatral vazio, de pouca consequência. O fracasso de Obama em restringir o controle total israelense-sionista sobre a política externa dos EUA em relação ao Irão e em concluir um acordo assegurando um Irão livre de armas nucleares, assegura que a região continuará a ser um barril de pólvora político e militar.

Nomeações por Obama de eminentes fanáticos sionistas para posições políticos estratégicas em relação ao Médio Oriente asseguram que os EUA e o regime Obama não tem opções para o Irão, Palestina, Síria ou Líbano – excepto seguir aquelas ditadas por Tel Aviv directamente aos seus agentes estado-unidenses, os 52 presidentes das Major American Jewish Organizations, os quais, juntamente com seus colaboradores sionistas internos, são co-autores do roteiro político do Congresso dos EUA e da Casa Branca.

As negociações da paz israelense-palestina do regime Obama são encaradas pela maior parte dos observadores como os esforços mais distorcidos e bizarros até à data naquela farsa cruel. Washington comprou os líderes da "Autoridade" Palestina com subornos de muitos milhões de dólares e abriu caminho para a acelerada tomada de terra de Israel na Cisjordânia ocupada e para construção de colonatos "só para judeus", bem como a expulsão em massa de 40 mil beduínos dentro do próprio Israel.

Para assegurar o resultado desejado – um fiasco total – Obama nomeou como seu "mediador" um dos mais fanáticos radicais pró Israel de Washington, o tri-nacional Martin Indyk, conhecido em círculos diplomáticos como "advogado de Israel" (e o primeiro embaixador dos EUA a ser despojado de permissão de segurança (security clearance) devido ao uso abusivo de documentos).

A ruptura das negociações já está prevista. Obama, capturado na teia das suas próprias antigas alianças e lealdades reaccionárias e obcecado com soluções militares, desenvolveu um talento especial para se empenhar em prolongadas guerras perdedoras, multiplicar inimigos e alienar aliados.

Conclusão

O resultado de prolongadas guerras impopulares de agressão tem sido a construção maciça de uma monstruosa polícia interna de estado, espionando generalizadamente todo o mundo e o cometimento de chocantes violações da Constituição dos EUA. Isto, por sua vez, tem levado a "conspirações de terror" grosseiramente cozinhadas a fim de encobrir os repetidos fracassos de política externa, assim como difamar e perseguir corajosos denunciantes e ameaçar outros patriotas americanos decentes.

A recente declaração de mais uma "conspiração de terror", a qual serviu para justificar as actividades ilegais das agências de espionagem dos EUA e "unificar o Congresso", provocou uma histeria que perdurou menos de uma semana. A seguir, começam a pingar informações mesmo nos obedientes mass media dos EUA, desacreditando as bases da alegada conspiração global de terror. Segundo uma reportagem, a muito propagandeada "conspiração Al Qaeda" verificou-se ser um esforço falhado para explodir um terminal petrolífero e um oleoduto no Iémen. Segundo observadores regionais: "Quase toda semana são atacados oleodutos no Iémen" [6] . E assim um ataque jihadista sem êxito contra um oleoduto numa parte marginal do mais pobre estado árabe transmutou-se no anúncio ofegante do presidente Obama da dita ameaça terrorista global!

Uma pilhéria ultrajante foi encenada pelo presidente, sua administração e seus seguidores no Congresso. Mas durante esta grande "pilhéria" orquestrada, Obama desencadeou uma dúzia de ataques de drones assassinos contra alvos humanos da sua própria escolha, matando dúzias de cidadãos iemenitas, incluindo muitos transeuntes inocentes.

O que é ainda menos jocoso é que Obama, o Mestre do Engano, simplesmente avança nesse rumo. Suas "reformas" propostas dizem-se destinadas a restringir actividades da NSA; mas ele insiste em continuar a "colecta em massa" (centenas de milhões) de comunicações telefónicas de cidadãos dos EUA (FT 8/12/13 p2). Ele mantém intacto o aparelho de espionagem da polícia estatal, mantém seus decisores políticos pró Israel em posições estratégicas, reafirma sua política de confrontação com o Irão e escala tensões com a Rússia, China e Venezuela. Obama abraça uma nova onda de ditaduras militares, a começar, mas não a terminar, pela do Egipto.

Face ao apoio interno e externo decrescente e ao declínio da credibilidade das suas grosseiras ameaças de "terror", pode-se perguntar se o sempre activo aparelho clandestino realmente encenaria na vida real o seu próprio sangrento acto de terror, um bombardeamento "false flag" apoiado por um estado secreto, para convencer um público cada vez mais desencantado e céptico. Isto seria um acto desesperado para o Estado, mas estes são tempos desesperados que confrontam uma administração fracassada, a perseguir guerras perdidas nas quais os Mestres da Derrota só podem confiar nos Mestres do Engano.

O regime Obama está infestado com a "política tóxica do terrorismo" e este vício tem-no conduzido a perseguir, torturar e aprisionar aqueles que buscam a verdade, denunciantes [de crimes] e verdadeiros patriotas que se esforçam (e continuarão a se esforçar) por acordar o gigante adormecido, na esperança de que o povo da América se levante outra vez.

Notas

[1] BBC News 8/16/13; Al Jazeera 9/16/13
[2] La Jornada (Mexico City) 8/16/13, p. 22; Financial Times 8/10-11/13"T he exact threat to US missions has yet to be made public.."
[3] Financial Times 8/8/13, p. 2 e Financial Times 8/10-11 2013 p 2; McClatchy Washington Bureau 8/5/13
[4] Information Clearing House Web Page
[5] Financial Times, 8/8/13, p. 2.
[6] Financial Times, 8/8/13, p. 2.


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