O efeito pretendido é socavar a solidariedade por parte dos restantes trabalhadores e preparar o terreno para reduzir estes benefícios. Esta campanha não é original. Paulo Portas e outros aprenderam-a com Margaret Thatcher e Blair, que sempre assumiram que os desempregados simplesmente não querem trabalhar.
O que na realidade acontece é que há extensas zonas do país em que não há mesmo trabalho de espécie alguma. Quanto à referência à "criação de emprego", é apenas retórica e ilusória, porque o que os patrões têm andado a fazer nestes últimos dois anos é diminuir a força de trabalho, para explorar com menos custos os seus assalariados, que assim passam a trabalhar mais.
Entretanto, todos os dias patrões, governantes e a direita nos enchem os ouvidos com o discurso sobre os malandros dos "desempregados que não querem trabalhar e só querem é viver à custa do subsídio de desemprego e do Rendimento Mínimo de Inserção". Aqui fica a história de um desses "malandros".
Iliassa Jaló, guineense, 61 anos, trabalhou até ser despedido, em Janeiro de 2009, na CUF- Adubos de Portugal, SA, em Alverca, nas limpezas. Desde que foi despedido, alimenta-se com uma refeição que vai buscar todos os dias à cozinha do IAC, Instituto de Apoio à Comunidade, no Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira. Viúvo, vive sozinho no Forte da Casa. Sofre de uma incapacidade de 15%, que com o tempo se vai agravando devido aos ferimentos sofridos em 1972 na guerra colonial ao serviço das forças armadas portuguesas e pela qual não recebe nada.
Em Janeiro deste ano deixou de receber os 486 euros de subsídio de desemprego com que pagava os 400 euros de renda mensal, mais a água e a luz. Agora corre o risco de ser despejado por não ter qualquer rendimento com que possa pagar a renda de casa.
Em desespero, recorreu ao GAI, Gabinete de Atendimento Integrado da Junta de Freguesia do Forte da Casa, que o remeteu para o IAC. Além da refeição diária, aquilo que conseguiu foi a promessa vaga de que iriam tentar que lhe fosse adiantado o Rendimento de Inserção Social, para poder pagar as rendas em atraso, e uma certeza: vai ser despejado. Está por saber se para a rua ou para uma dessas pensões manhosas onde a Segurança Social costuma "depositar" temporariamente os desalojados.
Desalentado, diz: "Só tenho a segunda classe e com a minha idade é muito difícil arranjar emprego. Eu não tenho medo de trabalhar. Sempre trabalhei. Não tenho para onde ir e não tenho como pagar a renda. Nem sequer tenho dinheiro para comer. Se me puserem na rua, vou para onde? Para baixo da ponte? De um momento para o outro fiquei sem nada."