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James Petras

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Bombas de Boston Detonador para mobilizar o aparelho de segurança dos EUA – Podem mudar o mundo para o pior!

James Petras - Publicado: Quinta, 09 Mai 2013 11:02

A relação entre os suspeitos bombistas da Maratona de Boston e o Federal Bureau of Investigation (FBI), a Polícia Estadual de Massachusetts (MSP) e a Polícia de Boston (BP) é um ponto de discórdia e de controvérsia.


O FBI, a princípio, afirmava nada saber sobre os suspeitos das bombas mas depois foi forçado a reconhecer que tinha recebido pelo menos dois relatórios de informações, um de funcionários russos e outro da CIA, identificando um dos suspeitos bombistas, Tamerlan Tsarnaev, como possível ameaça para a segurança – ligado a uma organização terrorista chechena.

O depoimento dos pais de Tsarnaev indica que o FBI se empenhou em seguir, importunar e interrogar o suspeito antes das bombas. Apesar das directivas gerais dos Departamentos americanos da Justiça e da Segurança Nacional, que impõem que a segurança dos EUA persiga agressivamente 'terroristas islâmicos', o FBI afirma não ter feito qualquer tentativa para verificar os alertas da segurança russa e da CIA, especialmente depois de Tamerlan Tsarnaev ter regressado do estado russo do Daguestão no ano passado onde alegadamente se encontrou seis vezes com um conhecido terrorista checheno, Gadzhimurad Dolgatov, numa mesquita fundamentalista salafita.

As versões oficiais do governo e dos principais meios de comunicação afirmam que o FBI pode ter 'minimizado' o risco de segurança apresentado por Tsarnaev. Os críticos do Congresso argumentam que o FBI foi 'negligente' por não seguir as pistas fornecidas pelos russos e pela CIA. Uma explicação mais provável é que o FBI estivesse activamente envolvido com Tsarnaev e tenha encorajado deliberadamente a conspiração com o fim de daí tirar proveito.

A hipótese mais simples é de que o FBI estava a usar Tsarnaev como um meio para se infiltrar e assegurar informações sobre outros possíveis 'terroristas'. Uma hipótese plausível é de que o gabinete do FBI de Boston tivesse montado uma operação com os dois irmãos a fim de reforçar as suas credenciais anti-terroristas – e que a 'operação' tenha fugido ao seu controlo – dado Tamarlan ter o seu próprio programa. A hipótese mais provável é de que o FBI facilitou as bombas a fim de avivar o destino enfraquecido da 'guerra contra o terrorismo' impingida a um público americano cansado da guerra e economicamente deprimido.

O FBI em Boston tem uma longa e conhecida história de trabalhar com certos líderes do crime organizado e de os proteger, em troca de informações sobre rivais escolhidos: O exemplo mais conhecido é a 'parceria' de 20 anos do FBI com um dos assassinos chefes de gang mais temidos de Boston, James 'Whitey' Bulger, em que o gangster gozava de protecção e de colaboração em troca das suas informações sobre uma família criminosa rival e sobre outros rivais. Em 2012, Bulger acabou por ser condenado por 19 assassínios, na sua maioria praticados sob a 'protecção' do FBI – embora um dos seus parceiros mais chegados afirme que ele assassinou 40 pessoas durante toda a vida.

As 'Bombas de Boston' serviram como detonador para mobilizar todo o aparelho de segurança dos EUA; levaram à suspensão das garantias constitucionais. Foram acompanhadas por uma intensa campanha de meios de comunicação que glorificaram as operações do estado policial e pela imposição de uma autêntica lei marcial na área metropolitana de Boston com mais de 4,5 milhões de habitantes. A operação militar policial e a campanha dos meios de comunicação desencadearam o medo e o terror entre o público. O psicodrama instantâneo produziu a adoração das massas pelos 'heróicos' polícias: foram retratados como tendo salvo o público de um número desconhecido de terroristas armados escondidos nos seus bairros.

A polícia, o FBI e todo o aparelho de segurança – foram 'homenageados' em espectáculos públicos, desportos e festas cívicas, elogiados como 'guardiões' e 'salvadores'. O papel sórdido do FBI na organização de operações armadilhadas nem sequer foi referido. As centenas de milhares de milhões desperdiçadas em fúteis 'guerras contra o terrorismo' esvaíram-se pelo buraco da memória. A oposição aos cortes de Washington nos programas sociais foi desviada quase de um dia para o outro para o apoio a um novo financiamento para a intervenção militar dos EUA na Síria e na Coreia do Norte, para um maior reforço de armamento em Israel e para a segurança interna.

As 'Bombas de Boston' coincidiram com a altura em que a Casa Branca impõe uma nova ronda de medidas estatais da polícia interna e o lançamento duma série de movimentos militares agressivos na Ásia, no Médio Oriente e na América latina. O Pentágono organizou os seus maiores e mais ameaçadores exercícios militares por ar, por mar e por terra mesmo junto às fronteiras da Coreia do Norte. A Casa Branca encorajou e fomentou a posição militar beligerante do Japão contra a China em relação às disputadas ilhas no Mar da China meridional. O secretário de Estado Kerry reforçou a ajuda militar aos terroristas sírios em pelo menos 130 milhões de dólares e enviou centenas de Forças Especiais para a Jordânia para treinar os mercenários jihadi contra o governo sírio. A Casa Branca engendrou acusações de que Damasco utilizou armas químicas contra os rebeldes, para justificar a intervenção militar directa dos EUA na Síria. Mais perto de casa, a Casa Branca deu apoio incondicional à violenta campanha pós-eleitoral da oposição venezuelana, destinada a provocar uma guerra civil – ao mesmo tempo que se recusou a reconhecer a vitória eleitoral certificada internacionalmente do Presidente Maduro.

É muito claro que o regime de Obama deseja atrasar o relógio uma década para recriar o terrível clima político de 2001-2002. Procura fabricar a sensação de uma iminente ameaça terrorista baseada nas 'Bombas de Boston' a fim de relançar outra campanha militar global. Em vez do Iraque – a 'ameaça' agora é a Síria, o Irão e o Líbano. Actualmente, a ameaça é a Coreia do Norte – amanhã poderá ser a China. Hoje é a Venezuela – a seguir poderá ser a Argentina, a Bolívia e o Equador... e todo o edifício da integração regional latino-americana.

As baixas e mortes civis resultantes das 'Bombas de Boston', ligadas ao apoio e protecção dos EUA aos terroristas chechenos, são um preço baixo para Washington pagar se resultar na escalada de guerras globais e numa maior impunidade para o Estado Policial Nacional.

A maior prioridade é relançar uma nova e mais virulenta versão da construção do império global militarizado. Os países visados têm um significado global: a Venezuela e o Irão são gigantescos produtores de petróleo, a espinha dorsal da OPEP e adversários de Israel. A China é a segunda maior economia do mundo e o principal rival ao domínio económico dos EUA. Amedrontar e confundir milhões de americanos influenciáveis é uma forma de enfraquecer o principal obstáculo interno para cortes maiores e mais abrangentes aos programas sociais a fim de financiar as guerras globais.

Na verdade, as "'Bombas de Boston' têm maiores consequências políticas e económicas; criam as condições para uma nova ronda de guerras no exterior e mudanças regressivas (e repressivas) internamente.

Tradução de Margarida Ferreira


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