Não pensava escrever nada sobre o mundial, basicamente por falta de tempo, a página não nos deixa quase nunca um minuto de descanso, o ritmo é esgotador e imparável. Mas ao final ontem, ante tanta vehemencia absurda por parte de alguns leitores (uma minoria isso se) me animei a replicar a meu amigo e colega de Kaosenlared, Anibal.
E não tanto a ele, como aos que parecem obviar com toda tranqüilidade, as critica fundadas que aqui em Kaos publicamos sobre o Mundial de Futebol da África do Sul 2010 ou o que ele significa, em países como o México ou o que foi na Argentina do criminoso Videla e dos militares assassinos e fascistas. Mas, o mais grave é que não reparam no custo da participação nele, pois é algo que tarde ou cedo se paga. [1]
Este artigo obrigou-me a responder ao longo do dia enquanto fazia outras coisas para sobreviver, (como trabalhar), ir respondendo a pessoas que se denominam anticapitalistas e que defendiam e apoiavam não sei que seleção do continente asiático, enquanto outros igualmente comunistas diziam preferir a espanhola, que para maior cinismo chamam a Vermelha (La Roja) por serem, dizem, espanhóis. Em definitivo, um debate absurdo, mas que exemplifica bem como para alguns a militância política se converteu numa espécie de hooliganismo e não numa análise sensata e reflexivo da realidade. E, claro, da para ser veemente, enérgico, claro, rotundo, mas após pensar e refletir, não antes; quer dizer, como quando dizemos que não queremos socialismos autoritarios ou burocráticos. Mas, claro, dizemos isso, após explicar claramente a que nos referimos e dar os exemplos correspondentes e não antes.
Muitos dos comentadores chamavam-nos ao realismo (não socialista) e precisamente a nós que somos basicamente realistas e que justamente por isso defendemos a utopia. O realismo destes colegas consistia em engolirmos os princípios e aceitarmos o mundial de futebol capitalista, e todo o que implica e claro a resposta foi contundente: negativa rotunda.
Por isso, companheiros/as, antes que mais, sejamos o que somos: anticapitalistas e, portanto, não participemos em seus negócios milionários, nem sejamos compartícipes de suas farsas e roubos econômicos. E o mundial é mais um. Ao invés, lutemos contra eles e suas mentiras alienantes.
Este mundial faz-se sobre a miséria de milhões de pessoas neste planeta, este mundial não é mais que uma fumaça para ocultar as duras e miseráveis condições de vida dos e as trabalhadoras sul-africanos e de todos os países participantes. Esquecer que estão pagando e vivendo a nosssa crise financeira, as vossas miseráveis condições de vida. Inclusive nas favelas do Rio podem ser membros deste mundo livre e capitalista; não se passa nada, o futebol torna todos irmãos: os ricos e os pobres.
Não, nós dizemos que não, que não participemos, não sigamos o jogo ao capitalismo. Justamente seguir as pegadas do capitalismo foi um dos fatores que deram ao fracasso com os socialismos burocráticos e de quartel nos países do Leste de Europa nos anos oitenta-noventa. E esta frase não é minha, é de Gregor Gysi, militante do SEDE e um dos que ficou no partido depois da queda do muro, em 1989, enquanto os desenvergonhados que ocuparam altos cargos (incluída a Stasi) fugiram como ratazanas.
Nós os anticapitalistas e as esquerdas alternativas devemos criar modelos participativos e democráticos (Olimpíadas antifascistas do ano 1937 em Barcelona), afastados do lixo capitalista, modelos de desporto solidários junto a países e povos que queiram se afastar das formas de fazer do capitalismo. Muitos poderiam ser seus participantes, entre eles a RPD da Coréia, Cuba, Venezuela, Irã, Bolívia, Equador, Palestina, Irlanda do Norte... ou Catalunha, Euskal Herria, Galiza...
Concorrer é saudável, tentar ser melhor é estupendo, mas de forma humana, sem estridências e concorrendo sempre e fundamentalmente um próprio.
As normas do capitalismo não são essas e quem as segue ou participa delas já sabe a onde vai: ser servo dos criminosos que dominam o mundo e mantêm na miséria quase 80% da população mundial.
Que metam seu mundial onde lhes couber e que metam seu capitalismo no mesmo lugar.
Por isso a esquerda anticapitalista não vai seguir este mundial de e para capitalistas ainda que lamentavelmente sim o farão os milhões de alienados e outros otários e inconsequentes...
Colaborar com o capitalismo não é realismo, é outra coisa que não direi eu, criar empresas mistas é outra coisa que não direi eu e esperar que obtenha algo um país ou um grupo humano por participar nesse mundial ou qualquer evento capitalista é muito grave.... é pensar que o capitalismo nos dá uma hipótese... Que pouco se conhece o capitalismo!
Sinceramente, se um país precisar exibir-se para demonstrar, não se sabe bem diante de quê e de quem, esse país tem muito que se lhe diga. Uma sociedade que se baseia em líderes omnipresentes e infalíveis e em heróis da pátria de cartão e não num povo em marcha... não direi eu como deve ser considerada...
O Che, um herói da pátria (como Fidel hoje em retiro digno e exemplar) dizia que o socialismo é a ciência do exemplo e aí está sua vida para o demonstrar. Então, o exemplo que devemos dar milhões de trabalhadores é que temos outro mundo no coração que levamos um vida nova e que construiremos entre todos e todas (de forma democrática em liberdade) um mundo digno para todos e todas. Não este lixo competitivo, criminoso, individualista, egoísta e sem sentido que é a sociedade capitalista em que vivemos submetidos aos ditados do capital.
Em definitivo, o realismo pode acabar facilmente em algo que eu não direi dia mas que todos já o vimos em capitalismo nu e cru...
Avante os amigos do capital, vocês têm as portas abertas para o paraíso da alienação e o submetimento, isso sim, com um realismo muito limitado pois o único real é que uns quantos enchem os bolsos e a maioria paga a festa... quer dizer, como está acontecendo com a atual crise capitalista.
São vocês que decidem, mas essa atitude parece mais própria de hooligans do que de marxistas, anarquistas ou anticapitalistas!!
Os que se chamam comunistas (ou anticapitalistas) e brigam nestas discussões sem terem em conta o que significa um mundial de futebol ou o que quer que seja, mas capitalista, os que o tratam com tal banalidade, que se lembrem dos trabalhadores dos países participantes (alguns ditaduras), ou dos meninos que cosen a bola, ou dos deslocados de suas casas para que não se veja a pobreza de África do Sul, mas bom isso, é pedir demasiado a quem, mais que capacidade de reflexão, só a tem de repetição... pois só seguem o catecismo. E assim lhes vai e assim nos vai!!
Ao inimigo capitalista, nem água e, como diria meu amigo cubano... nem uma pitadinha assim !!
Nós ao nosso: à justiça e a liberdade para todos e todas!!
[1] Joan Canela i Barrul: Los perdedores del Mundial. La otra cara del evento deportivo; Manuel Freytas: Sudáfrica 2010, Alienación y Mundial de los Negocios Capitalistas y Medianoche: México en el mundial de fútbol de Sudáfrica 2010: tácticas represivas.