Introdução
O Irã presidiu, hospedou e conduziu o recentemente reativado Movimento dos Países Não-Alinhados (MNA), reunido em Teerã, com a participação de delegados de 120 países. Até mesmo o Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, porta-voz notório de Washington, sentiu-se obrigado a participar do fórum que contou com a participação de dois terços dos países-membros da ONU, apesar das objeções do Departamento de Estado e de Israel. Qualquer avaliação objetiva da reunião, o seu fórum, os frequentadores, as resoluções de impacto político, leva a uma conclusão fundamental: a reunião do MNA foi uma vitória diplomática estratégica para o Irã e uma grande derrota para os EUA, Israel e a União Europeia (UE). O esforço diplomático e de propaganda de EUA-Israel-UE para isolar e estigmatizar o Irã, especialmente na última década, foi recusado.
O Significado Político da participação na Reunião
A participação de representantes de 120 países demonstra que o Irã não é um "Estado pária", é um membro aceito na presença da comunidade internacional. A presença de 60 chefes de Estado e secretários estrangeiros demonstra que o Irã é considerado um ator político notável e significativo, não um "Estado terrorista" a ser isolado e evitado. Os procedimentos, debates e discussões em meio e entre os delegados e dirigentes iranianos convenceu os participantes que Teerã dá primazia ao diálogo razoável na resolução de conflitos internacionais.
Tanto em termos de forma como de conteúdo, a reunião do MNA destacou a superioridade da diplomacia do Irã sobre e contra a postura belicosa e as improvisadas táticas divisionistas de Washington. O fato de que a reunião teve lugar em Teerã, de que o Irã foi o anfitrião, de que uma parte importante da agenda do MNA e resoluções posteriores coincidiram com a política exterior democrática do Irã, destaca falhas nas políticas de Washington e seu isolamento em questões de grande importância para a comunidade internacional mais ampla. Apoiar a configuração de poder sionista teve um alto custo na esfera da política internacional.
Resoluções do MNA: Irã versus Washington-Israel
A peça central da política estratégica dos EUA e de Israel tem sido a alegação de que o programa nuclear do Irã, incluindo o enriquecimento de urânio, é uma ameaça para a paz mundial e, em particular, para Israel e os Estados do Golfo. A reunião do MNA repudiou essa posição, afirmando o direito do Irã de desenvolver um programa nuclear pacífico, incluindo o enriquecimento de urânio. O MNA rejeitou as sanções ocidentais contra o Irã e outros países. Na verdade, muitos dos principais membros, incluindo a Índia, trouxeram delegações de empresários em busca de novos contratos econômicos.
O MNA declarou seu apoio a um Oriente Médio livre de armas nucleares e pediu um Estado palestino independente baseado nas fronteiras de 1969, com Jerusalém como sua capital, em total repúdio ao apoio incondicional de Washington ao Estado nuclear-armado judaico.
O MNA rejeitou a proposta do primeiro-ministro egípcio Morsi para apoiar os mercenários armados apoiados pelo ocidente que invadem a Síria, o que significou um grande golpe para os esforços de Washington em obter apoio internacional para a mudança do regime. O MNA aprovou por unanimidade várias resoluções que afirmavam seus princípios anti-imperialistas em oposição direta às posições imperialistas dos EUA: ele rejeitou o bloqueio dos EUA a Cuba; afirmou a soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas (apelidadas de "Falklands" pelos peritos anglo-americanos); opôs-se ao golpe paraguaio; apoiou o Equador em sua disputa com a Grã-Bretanha na questão do asilo para Assange; selecionou a Venezuela como o local para a próxima reunião do MNA; rejeitou o terrorismo em todas as suas formas e modalidades, incluindo a variante patrocinada pelo Estado.
A Propaganda Midiática Ocidental: Distrações Úteis
Os sucessos diplomáticos retumbantes dos anfitriões iranianos na reunião do MNA foram manipulados por uma blitz da mídia de massa conduzida a desviar a atenção para eventos relativamente marginais. O Financial Times e o New York Times, a BBC e o jornal The Washington Post mostraram um discurso do primeiro-ministro egípcio Morsi pedindo pelo apoio do MNA aos mercenários armados e apoiados pelo ocidente na invasão da Síria. Os meios de comunicação omitiram a menção ao fato de que nenhuma delegação aderiu a esta proposta. O MNA não só ignorou Morsi como aprovou por unanimidade uma resolução contrária à intervenção ocidental, afirmando o direito à auto-determinação, claramente aplicável ao caso da Síria.
Enquanto o MNA defendeu o direito do Irã desenvolver seu programa nuclear pacífico, os meios de comunicação divulgaram um "relatório" duvidoso de autoria do favorito dos EUA, Yukiya Amano, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), questionando a conformidade do Irã com as suas diretivas. Não é de se surpreender que o relatório de Amano não teve nenhum peso nas deliberações dos 130 delegados, dada a sua notoriedade como um homem de frente da propaganda pró-guerra de Israel e dos EUA.
No geral, os meios de comunicação deliberadamente ignoraram ou minimizaram as resoluções, o diálogo e os procedimentos democráticos da reunião do MNA, em um esforço para encobrir o enorme abismo político entre os EUA, Israel, a UE e a grande maioria da comunidade internacional.
O Impacto Político da Conferência do MNA
O MNA abalou seriamente as imagens dos conflitos políticos do Oriente Médio que norte-americanos e seus acólitos na UE e dos Estados do Golfo projetavam: a realidade política, que saiu das reuniões enfatizou que são os EUA, Israel e a UE que estão fora da corrente dominante da comunidade internacional. São os EUA e a UE que não têm aliados políticos na busca por guerras coloniais.A ocupação israelense da Palestina e as políticas de Washington para "mudança de regime", na Síria e no Irã não têm aliados. É o programa nuclear pacífico do Irã que tem legitimidade, não o arsenal nuclear de Israel. A liderança iraniana ganhou prestígio através de sua abertura para o diálogo internacional. Em contraste, os seus adversários regionais do Golfo, que dependem da compra de vários bilhões de dólares em armas e de bases militares, foram maculados e desacreditados.
As propostas iranianas para reformar as Nações Unidas, para torná-la mais democrática e sensível aos países emergentes e menos uma ferramenta política a serviço dos EUA-UE, ressoaram durante a conferência. A ênfase no livre comércio foi expressa pelas delegações dos setores de negócios, ansiosas para assinar acordos, em desafio aberto às sanções impostas por EUA-Israel-UE.
Conclusão
Temporariamente a conferência do MNA pode ter diminuído a ameaça de um ataque militar contra o Irã, pelo menos por parte dos EUA e da UE – pelo que representaria o custo político de alienar dois terços da Assembléia da ONU. No entanto, demonstrando o isolamento total de Israel (um verdadeiro Estado pária na comunidade internacional), o MNA pode ter aumentado a paranóia patológica das lideranças israelenses e pode assim acelerar seu movimento em direção a uma guerra catastrófica.
O acompanhamento das resoluções do MNA requer uma organização permanente, um secretariado de coordenação mínima, para assegurar a conformidade e a rapidez de respostas às crises. Caso contrário, as boas intenções e os movimentos positivos em direção à paz através do diálogo serão inócuos.
A mobilização dos membros do MNA na Assembléia Geral da ONU é crucial para suportar a chantagem, o suborno, as ameaças e a corrupção que são utilizados pelas potências ocidentais para garantir maiorias nas votações cruciais a respeito de sanções dos EUA, golpes e intervenções militares. O boicote comercial, cultural e de investimentos contra Israel deve ser promovido e executado até que o Estado judeu encerre a ocupação da Palestina. Claramente, o Irã, como o líder recém-eleito do MNA, tem um papel importante a desempenhar para garantir que a reunião de Teerã de 2012 converta-se nas bases para uma revitalização do movimento. O Irã pode desempenhar um papel de liderança construtiva caso continue a promover um formato coletivo e plural baseado em princípios comuns anti-imperialistas.