É difícil saber o que pode acontecer a partir desse momento. Certamente, como afirma o artigo de Idilio Méndez que acompanha esta nota, a matança de Curuguaty foi uma armadilha montada por uma direita que, desde que Lugo assumiu o poder, estava esperando o momento propício para acabar com um regime que, apesar de não ter afetado seus interesses, abria um espaço para o protesto social e a organização popular incompatível com sua dominação de classe.
Apesar das múltiplas advertências de numerosos aliados dentro e fora de Paragua, Lugo não se deu ao labor de consolidar a multitudinária e heterogênea força social que com grande entusiasmo o elevou à presidência em agosto do 2008. Seu peso no Congresso era absolutamente mínima, um ou dois senadores ao máximo, e só a capacidade de mobilização que pudesse demonstrar nas ruas era o único que podia conferir governabilidade à sua gestão. Mas não o entendeu assim e ao longo de seu mandato sucederam-se múltiplas concessões à direita, ignorando que, por mais que a favorecesse, esta nunca iria aceitar sua presidência como legítima. Gestos concessivos para a direita o único que fazem é encorajá-la, não apaziguá-la.
Apesar destas concessões, Lugo sempre foi considerado como um intruso molesto, mesmo tendo promulgado em vez de vetado as leis antiterroristas que, a pedido da "Embaixada", aprovava o Congresso, o mais corrupto das Américas. Uma direita que, com certeza, sempre atuou fraternizada com Washington para impedir, entre outras coisas, a entrada da Venezuela no Mercosul. Tarde entendeu Lugo o "democrática" que era a institucionalidade do Estado capitalista, que o destitui em um tragicômico simulacro de julgamento político violando todas as normas do devido processo.
Uma lição para o povo paraguaio e para todos os povos da América Latina e o Caribe: só a MOBILIZAÇÃO e ORGANIZAÇÃO POPULAR sustenta governos que queiram impulsionar um projeto de transformação social, por mais moderado que for, como foi o caso de Lugo.
A oligarquia e o imperialismo jamais cessam de conspirar e atuar, e se parecer que estão resignados, esta aparência é inteiramente enganadora, como o acabamos de comprovar faz uns minutos em Asunción.