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Amy Goodman

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Democracy now!

Rupert Murdoch, corrupção e gastos em publicidade na campanha eleitoral

Amy Goodman - Publicado: Terça, 15 Mai 2012 20:12

Que têm em comum o 1º de Maio, Murdoch e o assassinato de Milly Dowler com as eleições presidenciais de 2012 nos Estados Unidos?


As eleições deste ano serão, sem dúvida, as mais caras da história do país; algumas projeções calculam que superarão os 5.000 milhões de dólares. Mas não aumentaram só as despesas: a natureza das mesmas também aumentou após o fracasso de 2010 do Supremo Tribunal dos Estados Unidos no caso Citizens United, que permite o gasto ilimitado de empresas, sindicatos e dos denominados super PACs (ou comités de ação política) na campanha eleitoral, tudo sob o lema da "liberdade de expressão". Esta campanha eleitoral vai-se desenvolver no meio do ressurgimento do movimento Occupy Wall Street, que foi relançado a nível mundial no 1º de Maio, no mesmo dia em que o Parlamento britânico publicou um informe sobre o império mediático de Rupert Murdoch, no qual ele é acusado de não ser "uma pessoa idónea para dirigir uma grande empresa multinacional". Agora, mais do que nunca, as pessoas deveriam seguir o conselho do Garganta Funda, a famosa fonte do caso Watergate: "Segue o rasto do dinheiro".

A maior parte do dinheiro das eleições vai para os cofres dos canais de televisão, que emitem os anúncios de campanha. Segundo Robert McChesney e John Nichols, da revista Monthly Review, os gastos com propaganda política na televisão estão a disparar, tanto que "tendo em conta a inflação. Na campanha eleitoral de 1972 gastou-se menos de 3% do que se gastará em publicidade política na televisão na campanha de 2012".

Por ocasião de uma disputa eleitoral relativamente pequena, a recente eleição primária democrata na Pensilvânia para definir candidatos ao Congresso, o jornalista Ken Knelly fez uma análise exaustiva da cobertura das eleições nos noticiários da televisão local e da quantidade de publicidade política que foi transmitida nos mesmos canais de televisão. O título do artigo de Knelly diz tudo: "28 horas de anúncios políticos (e alguns poucos minutos de notícias)". Os canais que transmitem neste estado predominantemente democrata emitiram durante a campanha mais de 3.300 anúncios publicitários políticos. Knelly diz que "de vez em quando aparecia nos noticiários informação sobre a campanha", que ficava perdida entre horas de publicidade e afirma que o conteúdo da informação deixava muito a desejar.

O modo como Knelly conseguiu investigar estes dados é fundamental. A Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) exige aos canais de televisão que disponham de um arquivo de consulta pública acessível a qualquer cidadão. Parte da informação contida no arquivo são os detalhes da venda de espaço publicitário para a campanha política, o montante pago e a entidade que o comprou. Recentemente tentou-se obrigar estas emissoras, que obtêm enormes lucros com a publicidade política, a publicarem estes arquivos na Internet. Os canais opuseram-se firmemente a estas tentativas e, apesar de habitualmente saírem vitoriosos das disputas que travam nos salões da amigável FCC, perderam esta batalha. Na sexta feira 27 de abril, a FCC decidiu por dois votos a favor e um contra exigir aos canais de televisão que, num período não superior a dois anos, deixem de levar o arquivo em papel e comecem a publicá-lo na Internet. O jornalista da ProPublica Justin Elliot assinalou que os arquivos não ficarão em formato padrão e provavelmente não conterão a opção "procurar".

A ProPublica lançou uma campanha denominada "Libertem os arquivos", que é coordenada por Justin Elliot: "Os meus companheiros da ProPublica estão a pedir às pessoas, a outros jornalistas, a estudantes de jornalismo e aos leitores que vão aos canais, especialmente quando esta norma entrar em vigor, que está previsto que seja mais tarde durante a campanha. No início a norma só se aplicará aos canais dos cinquenta mercados principais. Então, pede-se-lhes que vão aos canais, não é necessário ter senha prévia, e solicitem o arquivo político, que façam cópias, digitalizem-nas, as enviem para nós, que as publicaremos na Internet no site ProPublica.org".

A maioria das grandes cadeias de televisão norte-americanas fizeram lóbi contra as novas normas de divulgação de informação, entre elas a cadeia Fox, uma das joias mais apreciadas da empresa News Corp, o império mediático de Rupert Murdoch. Murdoch recebeu um duro golpe nesta semana, após a publicação de um informe do parlamento britânico sobre o escândalo das escutas telefónicas que abalou os seus jornais na Grã-Bretanha. O escândalo explodiu em 2011 quando o jornal "The Guardian" noticiou que jornalistas do jornal sensacionalista "News of the World" tinham invadido, em 2002, a caixa de mensagens de voz do telemóvel de Milly Dowler, uma vítima de homicídio de 13 anos. Enquanto Dowler estava desaparecida, os jornalistas apagaram algumas das suas mensagens de voz, o que deu aos familiares da jovem a falsa esperança de que podia estar viva.

Os jornalistas, juntamente com uma investigação judicial e audiências no parlamento, revelaram uma cultura de criminalidade por detrás da fachada de recolha de informações do agora defunto "News of the World". A comissão parlamentar publicou o informe esta semana. O deputado britânico Tom Watson declarou: "Gente com muito poder esteve envolvida no encobrimento e ainda não assumiram a responsabilidade. Esta gente corrompeu o nosso país, envergonhou as nossas forças policiais e o nosso parlamento. Utilizou mentiras e enganos, chantagem e intimidação e todos deveríamos envergonhar-nos ao pensar como nos acobardámos perante eles durante tanto tempo. Se na verdade queremos pôr fim a isto, são precisos mais do que castigos simbólicos. São necessárias acusações concludentes. O pilar da justiça consiste justamente em que os culpados sejam responsabilizados".

O escândalo também levou a que se descobrisse que oficiais de polícia britânicos tinham sido subornados, delito que, devido a que a News Corp é uma empresa norte-americana, poderia ser investigado no quadro da lei federal norte-americana de Práticas Corruptas no Estrangeiro, que proíbe que as empresas norte-americanas cometam suborno no estrangeiro. Em resposta a isto, o grupo independente "Citizens for Responsability and Ethics in Washington" (Cidadãos pela Responsabilidade e a Ética em Washington) solicitou à FCC que revogue as 27 licenças de emissão televisiva que Murdoch controla nos Estados Unidos.

Se é um delito subornar um oficial de polícia em Londres, é perfeitamente legal que se gastem 5.000 milhões de dólares para influenciar o curso das eleições norte-americanas e que os canais poderosos obtenham, em consequência, enormes lucros. Há que aplaudir a FCC pelas suas novas regras de transparência. Em última instância, os candidatos políticos deveriam ter tempo grátis nos média para apresentar o seu programa aos eleitores. Até que isso suceda será tarefa dos jornalistas, dos ativistas e dos cidadãos comuns seguir o rasto do dinheiro.

Artigo publicado em "Democracy Now" em 3 de maio de 2012. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol. Texto em espanhol traduzido para português por Carlos Santos para Esquerda.net


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