No ano passado a Audiência Nacional andava a buscar a três criminosas das SS. Podiam ter perguntado por eles a Francisco Boix, fotógrafo do campo, comunista catalám, cujo testemunho e fotografias guardadas pola sua vida condenárom Kaltenbrunner e Speer. Ele morreria em 51 no exílio de Paris. Me se vivesse, se calhar, quem sabe?, nom quereria colaborar com a anomalia jurídica que se chama Audiência Nacional, filha e herdeira do antigo T. O. P.. Como dixo alguém, um julgado com umha esquadra policial em cima.
O franquismo, sabemo-lo bem, ganhou a guerra. Voltou a ganhar a paz com aquela campanha dos vinte e cinco anos do nosso Dom Manuel. Trouxo a democracia ao Reino de Espanha, com o seu sacrifício numha Transacçom, tutelada polo exército e restantes corpos armados neutrais e apolíticos. A Constituiçom nom foi chamada Carta Outorgada, e ainda bem, que nom devíamos ter queixa. A democracia para os neofranquistas, nom confundir com os nostálgicos da actual Falange, é como o galego para Feijoo e companhia; para andar pola casa, mas sem ir longe de mais.
A Audiência Nacional com o inefável funcionário Garzón em vanguarda, andou a dar liçons polo mundo, preferentemente às nossas repúblicas americanas irmás, algo menores sempre, no pensar ibérico. Amnistia Internacional, entretanto afirma nos seus relatórios anuais que no Reino de Espanha se tortura, denúncias corroboradas polo relatório da ONU sobre o particular. Agora essas irmás, maiores do que pensamos, igual nos ajudam, como já figeram, a propósito, no fim da guerra. Algumhas, como o México, ao ponto de que reconhecêrom como governo legítimo o republicano até bem além do que alguns dos que andam agora com a bandeira tricolor pola rua. Até chegamos a ver-nos impelidos mentalmente a utilizar o termo cunhado por Pierre Nora no seu Lês Lieux de memória, memória histórica. Nós na realidade queríamos dizer, julgamento do franquismo, ilegalidade dos seus actos, reparaçom das vítimas, julgamento dos responsáveis. Pierre Nora, historiador francês que se negou a traduzir Hosbawn, o grande historiador británico, por ser revolucionário. Para Nora a memória histórica é a identidade francesa e ponto. Bom, mas ninguém é dono das palavras.
Nós vamos exercitar a nossa parcial memória para lembrar que os nossos co-cidadaos defendêrom a República espanhola, participando no limiar da II Guerra Mundial na Europa, a Guerra Civil espanhola. Sós quase sem ajuda, quase abandonados. Fôrom derrotados e elas mais ainda. Alguns como os do maquis francês, como os aviadores na frente do Leste, como os de Mathausen, continuárom até o fim e ganhárom a guerra com os Aliados ou ficárom no caminho. A guerra ficou sem limiar, mudou a a memória e os soviéticos fôrom o novo mal. Gestos, condenaçom na ONU, abandono da guerrilha e bases militares. Franco já era mais um aliado.
Depois, fôrom estas potências que pola segunda vez nos abandonárom, como muito bem escreveu Sartre. Pido-lhes encarecidamente quem nom o fagam umha terceira.
A formaçom de um Tribunal Internacional, herdeiro da derrota do fascismo, será capaz de julgar o franquismo. De momento só isto oferece confiança. Temos ainda muitas vítimas e testemunhas. Este mesmo que escreve, com 48 anos, pode lembrar muitos delitos, chamem-nos. Necessitamos um Nuremberg ou, vejam que moderado, se isto nom for possível, ao menos um Tribunal Russell. Olhem, senhores aliados, como estám aqui as cousas que nem enterrar os nossos mortos com dignidade nos deixam.
Marcelino Pardal Pouso, Antonio Cendán, Manuel Fernandez García, José Pereira, Carlos Romero Rebón, Francisco Gómes Iglesias, Manuel Ponte Palmeiro, José Andrés Pena Losada, e Manuel Peña Martínez, republicanos galegos nascidos na nossa comarca, presos em Mathausen. Algures, algum dia faremos umha placa a falar de vós e do muito que o mundo vos deve.