Tony Cliff abordou a questão do ponto de vista marxista. Adotou o conceito de “economia armamentista permanente”. Como se sabe, a principal origem das crises capitalistas é sua incapacidade de consumir tudo o que produz. Os gastos em guerras seriam uma das saídas para esse problema.
Despesas com armas e tecnologia militar destroem capital e força de trabalho excedente. Literalmente. Não à toa, a pior crise econômica do século 20 desembocou no maior conflito bélico da história.
Também não deve ser casual que as guerras tenham triplicado no mundo em 2011. É o que dizem dados do Instituto de Heidelberg de Pesquisa Internacional de Conflitos, divulgados em fevereiro passado. Combina com o fato de estarmos em plena crise mundial.
Porém, o mecanismo citado por Orwell não tem efeitos apenas econômicos. Claro que guerras são ótimos pretextos para cortes em orçamentos sociais, por exemplo. Mas também para medidas conservadoras. Em nome da defesa da pátria, podem ser restringidos direitos como o de greve e os protestos contra governos.
Em sua visita recente ao Brasil, o marxista inglês David Harvey abordou o problema das dívidas públicas. E citou a questão bélica:
Os EUA gastam o dobro dos países do resto do mundo em armas e aparatos bélicos. Corte o orçamento militar pela metade e não haverá mais dívidas. É fácil, a dívida desapareceria. Mas não é possível fazer algo assim, politicamente (Caros Amigos - Edição 179).
O pagamento das dívidas públicas parece ter se tornado tema tão sagrado quanto a luta contra um inimigo externo. Mas, em ambos os fronts, os inimigos de fora contam com poderosos aliados aqui dentro. Estão nos palácios e na direção das grandes empresas.