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James Petras

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Em coluna

A Síria não é uma luta entre democratas e autoritários

James Petras - Publicado: Sábado, 17 Março 2012 01:00

James Petras na CX36 Radio Centenario, tradução do Diário Liberdade

12 de março de 2012. Efraín Chury Iribarne entrevista James Petras, que afirma que a Síria “não é uma luta entre democratas e autoritários, é uma luta entre duas variações de autoritarismo”.


Chury: Muito bem, e o que fazemos a partir deste momento é simplesmente te dar a palavra. Estou te escutando...

Petras: Comecemos com as eleições na Rússia onde o candidato Putin ganhou por 2/3 dos votos, com 65% da votação e com uma participação de 64% do eleitorado, que é 30% mais do que os que votam nas eleições americanas.

As acusações sempre refletem o esforço dos países ocidentais em demonizar Putin, porque Putin tem uma política independente. Tem relações com a Síria, tem relações com o Irã, com a Venezuela, com toda a América Latina. É uma política que não aceita a dominação norte-americana.

Se Putin conseguisse uma votação pior, por exemplo, se não alcançasse os 50%, eles, os meios de comunicação no ocidente, diriam que ele está desprestigiado. Quando ganha com 65% dizem que manipularam os resultados. Qualquer coisa que acontece com Putin sempre encontrarão uma crítica.

Putin ganhou porque está implementando uma política que melhora 100% o padrão de vida dos trabalhadores russos, e o país cresceu 8% ao ano na década de Putin. Essas são as explicações. Em vez de analisar as relações concretas, econômicas, sociais e políticas, eles buscam sempre algum pretexto para denunciar.

A verdadeira razão para que Putin consiga 65% é porque, frente aos governantes anteriores, ele é relativamente estável e honesto. Recordemos que na época de Yeltsin era uma pilhagem total, bilhões de dólares de empresas se venderam para oligarcas. Agora pelo menos as coisas são mais controladas, mais regulação, menos pilhagem, e agora a renda dos trabalhadores aumentaram cada ano entre 5 e 10%, e isso explica a grande votação que recebe Putin.

Mas como dizia, como é um governo independente (não é um governo socialista, infelizmente), se juntamos o voto de Putin que é de 65% com o voto do Partido Comunista que é 17%, chegamos a 82% dos votos. O que fica para os pró-ocidentais é 11%. Isso indica o desprestígio que têm os candidatos ocidentais. Podem encher uma praça em Moscou com 50 mil pessoas, mas é a nova burguesia que estão aglutinando. Há alguns institutos que a imprensa sempre cita que estão financiados pelo ocidente e seguem fazendo esta propaganda. Mas no final das contas, as eleições falam e Putin ganhou com 2/3 dos votos.

O segundo processo que devemos comentar é do Irã. Outra vez os reformistas pró-ocidentais chamaram para um boicote. E os eleitores no Irã votaram, 65% foram votar em repúdio total às chamadas ocidentais para um boicote. Foi um repúdio contundente.

Agora, dentro das eleições dividiram entre uns mais ou menos conservadores.

A crítica agora é que estão excluídos os verdadeiros opositores. Mas estão autoexcluídos em grande parte porque eles apostaram no boicote. E sofreram um grande golpe.

No voto poderíamos dizer que o eleitorado tinha opções de candidatos como nos Estados Unidos. Os candidatos nos EUA são todos capitalistas e a esquerda é totalmente marginalizada da participação. Por isso é falso dizer que há menor pluralidade no Irã do que nos EUA. Os iranianos tinham que eleger entre um e outro candidato islâmico, mas entre os islâmicos eram alguns mais liberais e outros menos liberais.

Nos EUA todos os candidatos que recebem atenção dos meios de comunicação são capitalistas, há alguns liberais e outros conservadores. Há pouca diferença na pluralidade de oferta do Irã. O mesmo acontece na Rússia. Dizem que Putin domina os meios de comunicação em 80%, mas aqui nos Estados Unidos os candidatos republicanos e democratas dominam 99% do tempo nos meios de comunicação.

As críticas que façam à Rússia e ao Irã caem com maior peso sobre os EUA. O controle dos meios de comunicação nos EUA é de 100% pelos grandes capitais republicanos e democratas.

No Irã a diferença entre os candidatos é igual ou menor do que nos EUA onde há uma direita e uma ultra direita.

E o terceiro ponto que queria comentar neste momento é sobre o que está acontecendo na Síria. Primeiro os meios de comunicação falaram de uma oposição pacífica e democrática. E, no final das contas, entre os mortos agora há 7.500, dos quais 2.500 são soldados e policiais. Como a oposição pode ser pacífica? Estão matando, recebem armas, metralhadoras, bazucas, mísseis de países ocidentais.

Segundo, dizem que são democratas. E quem está financiando as monarquias absolutistas do Golfo, Arábia Saudita e outros mais, que são pouco democráticos?

Terceiro, a Síria apresentou um referendo onde a maioria do eleitorado votou e a aprovação do referendo era majoritária. Esse referendo, que era uma oportunidade de votar, a oposição o rechaçou. E isso foi dito por Clinton, Cameron e Sarkozy. São golpistas, não são opositores pacíficos. E mais, todas as referências que temos indicam que a principal força envolvida agora na luta são os sauditas apoiados pelos extremistas fundamentalistas, os wajabis, os alafis, e outros grupos mais. Então, há que reformular o que está em jogo aqui.

Na primeira instância estão os autoritários, mercenários do ocidente armados e violentos. No outro lado é o governo soberano, secular e autoritário de Bashar al-Assad.

Então, há que se dizer que frente à intervenção ocidental, necessita-se reafirmar que Asad representa a soberania do país. Não é uma luta entre democratas e autoritários, é uma luta entre duas variações de autoritarismo. Uma apoiada pelo imperialismo, e a outra um governo soberano independente, aliado ao Irã, mas independente.

O que buscam os países a partir do ataque à Síria é um trampolim para atacar o Irã. E isso nos leva ao quarto tema, que é o Congresso, principal braço do governo israelita em Washington esta semana.

Hoje em dia, estão reunidos 13.000 fanáticos judeus sionistas em apoio incondicional a Netanyahu. Ontem estava Barack Obama submetendo-se a Israel e abraçando a política de agressão contra o Irã.

Esta organização que se chama “Comitê de Assuntos Públicos dos EUA e Israel” (AIPAC, na sigla inglesa) é uma organização que tem respaldo entre a maioria das organizações civis, religiosas e políticas de judeus. Inclui pessoas que apoiam uma saída militar. Tem apoio entre rabinos que defenderam que se atirassem bombas nucleares no Irã. Inclusive um rabino ortodoxo, principal líder da comunidade judaica. Também há membros que colocam uma cara mais civil, mas também são incondicionais em relação a Israel.

A característica do grupo é: qualquer coisa que faça Israel, quando mata palestinos em Gaza, quando está invadindo o Líbano, quando está ameaçando o Irã, o apoio deles é incondicional.

Agora, desde que Israel começou a ameaçar uma guerra contra o Irã, o preço do petróleo, somente nos dois meses e pouco deste ano, o preço subiu 15%. É o que eu chamo de imposto israelita, o imposto sionista que impuseram sobre o mundo.

Estas ameaças de Israel custam ao mundo centenas de bilhões de dólares em custo adicional. Porque frente à ameaça de guerra, os especuladores subiram o preço do petróleo em até 125 dólares por barril.

Israel, em outras palavras, a partir de sua política bélica, criou uma grande instabilidade no mercado do petróleo, porque esta guerra vai terminar com as exportações do Irã, que é o segundo maior exportador de petróleo.

Mas não importa aos sionistas que aqui nos EUA estejam esvaziando o bolso do cidadão que tem de colocar petróleo em seu carro ou caminhão. Não lhes importa o custo para o público, o tesouro, somente lhes interessa repetir como papagaios qualquer coisa que diz Shimon Pérez, que diz Netanyahu. Vivem nos EUA, mas são cidadãos de Israel e são incondicionais, não questionam este Congresso, não há nenhum debate, nenhuma crítica. Somente se levanta 40 vezes para aplaudir a Shimon Pérez e Netanyahu quando declara que não devem permitir que Irã desenvolva capacidade para uma bomba nuclear. É uma grande mudança.

Antes, a ameaça do Irã era por possuir uma bomba nuclear. Agora, este grupo de pressão declara que irá ao Congresso norte-americano e conseguirá um voto de 90% dos congressistas dizendo que a ameaça do Irã está na capacidade de fazer uma bomba.

O que significa isso? O Irã, assim como 125 países no mundo, está enriquecendo urânio. Para ter o uso de urânio para qualquer razão civil, médica, ou o que seja, há que enriquecê-lo... Mas também para fazer uma bomba.

Agora os sionistas nos EUA querem utilizar o fato de que o Irã enriquece urânio, como todo mundo, como pretexto para uma guerra. Isso é o que estão fazendo os sionistas. Eles têm um documento e a partir de quinta-feira (15 de março) irão com pelotões em marcha para visitar 435 congressistas e insistir que assinem um decreto de lei que diz que a capacidade iraniana é pretexto para uma guerra. Chegamos a este grau de subordinação.

Pela primeira vez em 200 e tantos anos, Washington está ocupado por um país estrangeiro a partir de seus porta-vozes, seus clientes sionistas dos EUA. É uma grande vergonha ver aqui o meu país humilhado por esses fanáticos, essa gente que tomou o controle da política norte-americana, que toma o controle do Congresso, subordina o presidente e dita a política para este país israelita, o quão diabólico e moralmente corrupto ele é.

Chury: Petras, estamos exatamente no tempo final. Te agradecemos enormemente a análise de todos os temas que colocam pontualmente uma série de informações que vão se acumulando. E nos resta te dizer que, bom, segue a promessa de nos encontrarmos na próxima segunda novamente para seguir em contato...

Um abraço Petras...

Petras: Um abraço, tchau.

Tradução para Diário Liberdade por Gabriela Blanco


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