Até quatro vezes vimos Fraga em top-less em Palomares. Uma das poucas vezes que falou, já velho, foi para contar que ainda tinha o calção de Palomares, que guardava para os convidados muito gordos. Não havia perguntas mais interessantes?
Nenhuma imagem de Franco e Fraga juntos e só uma ou duas com o rei dos espanhóis. Inaugurando e premindo botões. Com o seu fato de "abertura" Príncipe de Gales e a imagem de uma antena e a «abertura» e bafarada de ar fresco que trouxe na «liberdade de imprensa» a passagem de Fraga pela ditadura.
Nem um subtil comentário sobre as penas de morte assinadas por ele e pelo governo do ditador.
Se calhar, as palavras e imagens referidas à Galiza são as que melhor delatam a personagem. Os mil gaiteiros da sua tomada de posse que na Cidade da Cultura poderiam ser 10.000, a "guayabera" castanha em Habana, fazendo uma queimada a Fidel, as autoestradas e o corolário de uma vida entregue a Espanha: berrando no Senado em espanhol ao senador do BNG, Pérez Bouza, que a ele ninguém ia ensinar-lhe nem dar-lhe lições de galeguismo e que era contra do uso das outras línguas oficiais em tão digna câmara.
Fraga é o exemplo do que não deve ser um galego que se autodefina como tal. Durante a sua andaina como ministro e embaixador de Franco, o único vínculo do excelentíssimo senhor dom Manuel Fraga com as suas origens foi a sua certidão de nascimento.
Durante a democracia, a sua ideia de Espanha era a de Madrid e satélites, e Galiza não esteve nas suas aspirações até que bateu várias vezes com a negativa das urnas e com o seu passado franquista na seu intuito de ser presidente de Governo de Espanha.
A Galiza não deixou de ser um retiro dourado na periferia da periferia. Com a enchente dos fundos europeus assinou quanta obra pública e autoestrada pôde, sem descuidar um interior sem comunicações, uma desastrosa rede ferroviária e uma política exterior de polvo e e empadas. Congelou a aplicação da Lei de Normalização Linguística de forma tal que nunca se aplicasse, e falou galego em público de forma tal que não sabíamos se falava ou desfalava.
Quando o corpo e a Galiza não lhe davam para mais (para ele e os seus interesses), ele, que era tão galego, não duvidou em ir embora para Madrid, à sua casa, porque a de Perbes é casa de señorito da capital que vêem passar os calores do Verão, não apta para viver nem digna de receber tal nome.
Ali morreu, no centro do centro... em Espanha, onde sempre quis ser e estar.