Sócrates explica que não se tratava apenas de revolta contra a concentração obrigatória. Todas as decisões eram tomadas de forma coletiva e igualitária. Como diz Sócrates no filme:
Eu era o único jogador de seleção no Corinthians. Meu voto tinha o mesmo peso que o do terceiro goleiro, do cara que limpava minha chuteira e tinha o mesmo peso do que o do diretor do clube. Era um pra um.
Num ambiente autoritário como o do futebol, e ainda sob a ditadura militar, tratava-se de um posicionamento radical. Mas não só isso. Em uma das finais que disputou pelo campeonato paulista, o time entrou em campo com a seguinte faixa:
Ganhar ou perder, mas sempre com democracia.
Era um desafio à própria lógica competitiva. O sacrifício dos fins em nome da nobreza dos meios. Algo inadmissível não apenas no meio esportivo. Desafiava a própria lógica daquilo que Florestan Fernandes chamou de “ordem social competitiva”, ao se referir ao capitalismo.
Felizmente, a ousadia foi recompensada com dois títulos paulistas numa das campanhas mais bonitas do clube em sua história. Bonita também foi a participação de Sócrates e seus companheiros no movimento pelas eleições diretas para presidente, entre 83 e 84. Infelizmente, a democracia acabou derrotada em ambos os movimentos.
No documentário, Juca Kfouri lamenta a ausência de herdeiros para um movimento tão importante. Mas os elementos e contradições que permitiram seu surgimento continuam presentes no esporte e na vida. A eles devemos acrescentar a necessidade de resgatar as lições da democracia corintiana.
A se lamentar o grande desfalque de Sócrates no time dos lutadores.