Com ares de grande sensatez e moderação, apontam o dedo à "intolerável" violação do direito dos que, querendo trabalhar ou furar as greves, o não possam fazer. Pior ainda é que os piquetes de greve tenham a ousadia "antidemocrática" de tentar convencer os seus colegas de trabalho a aderir à greve ou fazer cumprir a vontade da maioria, impedindo a saída de viaturas, mercadorias, etc.
Curiosamente este tipo de parlapatice vem precisamente daqueles que, fora das alturas em que há greves, nunca se lembram que o trabalho é um direito e não uma benesse concedida pelo patronato. Gentinha que faz por muito democraticamente ignorar a violação dos direitos dos que, querendo fazer greve, o não fazem porque os seus salários são tão miseráveis que não se podem dar ao luxo de perder um dia de salário, dos que são precários e sabem que se fizerem greve são despedidos, dos que estão no desemprego, dos que são obrigados a furar as greves devido à imposição de serviços mínimos, etc. E que dia a dia se esquecem do direito ao trabalho dos precários, dos desempregados, dos que auferem salários e pensões miseráveis e do facto de cerca de dois terços dos portugueses viverem com rendimentos inferiores aos 500 euros. Coisas que, no seu avisado entender, são despiciendas, demagógicas e populistas e não merecem que se perca tempo com elas.
Depois vem a outra grande questão (mas, frisam, sem que com isso queiram contestar o direito à greve): a da oportunidade e utilidade da greve. E vá-se lá saber-se porquê, todos eles concordam que as greves nunca são oportunas ( "a greve é para ser usada com parcimónia porque é a última forma de luta a que os trabalhadores devem recorrer", "não tendo ainda sido esgotadas as outras formas de luta", a greve só pode ter objectivos obscuros) e não mudam nada. Pior, a greve só serve para afundar ainda mais a economia e fazer com que as agências de rating baixem a cotação de Portugal. E assim, com estas "habilidades" para enganar tolos, tentam responsabilizar as vítimas pela sua desgraça.