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Guillermo Almeyra

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Europa gravemente ferida

Guillermo Almeyra - Publicado: Sexta, 18 Novembro 2011 14:41

Guillermo Almeyra

O socialista Georgios Papandreu não quis passar à história da Grécia como o homem que anulou a soberania nacional para salvar os banqueiros e aceitou um status semi-colonial para o seu país, com funcionários estrangeiros que controlariam a economia e a política.


Para salvar sua responsabilidade, pediu um voto de confiança no Parlamento e, sobretudo, convocou um referendo popular para dezembro para que a cidadania decidisse se aceitaria ou não o plano que, às custas dos gregos, permitiria aos grandes banqueiros sair da enrascada onde se meteram. Depois de perder a maioria absoluta no Parlamento e sob pressão franco-alemã anulou o referendo e formou um governo de unidade nacional com a direita, mais fraco e desprestigiado do que o anterior. A União Europeia (leia-se os capitais fraco-alemães e seus agentes governamentais), diante dessa crise, abandona a Grécia à sua própria sorte (que a levará, quase com certeza, à cessação dos pagamentos da dívida, à saída da zona do euro, à criação de uma moeda própria e à desvalorização da mesma - e, consequentemente, dos ingressos dos gregos - e que poderia levá-la, inclusive, a uma revolução).

Recordemos que os Estados Unidos salvaram o México, que tinha naquele momento menos de 100 milhões de habitantes, com 55 bilhões de dólares durante a crise chamada de Tequila. A Grécia, com cerca de 12 milhões de habitantes, não pôde ser salva agora com uma injeção de mais de 200 bilhões de euros (280 bilhões de dólares). O que vai acontecer então com os países europeus grandes e povoados, como a Itália e a Espanha, cujas economias fraquejam e às quais os respectivos governos aplicam gastos sem compensação que as deprimem cada vez mais? Se a União Europeia não tomar imediatamente medidas preventivas, a queda sucessiva da Itália, Espanha e Portugal, e o provável abandono do euro pelos italianos, como prevê Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, poderá ser fatal.

Por isso, a chanceler alemã afirma agora que o essencial é salvar a zona do euro, ou seja, as finanças europeias, porque a União da Europa não é uma união de países, nem de povos. Na verdade é uma aliança polêmica de capitais financeiros. Nem ao menos tem certeza de que possa conseguir isso. Porque, até agora, a União Europeia perdeu 280 bilhões de dólares, e mais outra quantia, como resultado da queda das bolsas por causa da crise grega. E nem assim pôde estabilizar os bancos, que são insaciáveis e exigem contínuas transferências dos ingressos da população às suas contas. Embora a China tenha interesse em que a União Europeia se mantenha, por ser um grande sócio comercial da mesma, acaba de oferecer um reforço de 80 bilhões de euros (120 bilhões de dólares); essa ajuda corre o risco de se evaporar como uma gota d'água sobre uma chapa quente.

Além disso, para "salvar" a União Europeia, a dupla Nocolas Sarkozy - Angela Merkel lançam um salva-vidas de chumbo: o da política recessiva e brutal da redução dos salários indiretos (mediante cortes na educação, saúde, assistência social e aumentos na idade de aposentadoria e de serviços e impostos) e até dos salários diretos, enquanto o capital financeiro especula com os preços das matérias-primas agrícolas. O poder aquisitivo dos consumidores - e sua expectativa de consumo - vai em decadência, enquanto o custo da alimentação e dos serviços aumentam. O resultado é um menor consumo interno na Europa, no momento em que a mesma deverá pagar o apoio chinês com concessões políticas - como o reconhecimento de que a China é uma economia de mercado, tal como exige Pequim - o que facilitará bastante as exportações chinesas à União Europeia.

Até agora, exceto na Grécia, onde as lutas são cada vez mais massivas e decididas e poderiam causar uma explosão social, os governos europeus não devem enfrentar uma oposição social de massas. Veem a oposição crescer ao máximo que, às vezes, é de centro-esquerda - como os sociais-liberais na Itália ou os sociais-democratas na França - e outras de direita, mas que em nenhum dos casos tem outra proposta econômica do que a continuidade dos planos do capital, apenas reformulados e, claro, nem se pensa em uma alternativa social. Se a crise econômica é profunda e gravíssima, a Europa é politicamente conservadora e socialmente recém começa a despertar com algumas greves, mobilizações e com o movimento dos indignados.

Portanto, com a falta de uma ameaça social ao poder capitalista, no Grupo do G-20 vão ser aprovadas medidas que aumentarão o nível dos sacrifícios dos trabalhadores europeus, ainda divididos horizontalmente entre nativos e imigrantes, e verticalmente pela competição entre os que pensam só na sua região ou no seu país, sem perceber a necessidade de encontrar uma solução comum anticapitalista e de impô-la coletivamente. O "cada um por si", o localismo, o nacionalismo, o racismo, o chauvinismo que prejudicam vastos setores dos trabalhadores europeus, são os principais alicerces de um capitalismo em crise, mas que conserva ainda a hegemonia cultural e ideológica, e pode, portanto, dominar suas vítimas desunidas.

Não adianta condenar o capitalismo como os indignados fazem, ou resistir com greves às suas políticas ou medidas como alguns sindicatos. É indispensável, além disso, organizar na Europa toda, além das fronteiras e unindo imigrantes e nativos, um programa anticapitalista alternativo de expropriação do capital financeiro, de modificação radical do sistema impositivo, de apoio aos consumos populares e planejamento comum de desenvolvimento industrial. Este programa deve partir do princípio de que a crise deve ser paga por aqueles que a causaram, de que os salários e condições de vida são intangíveis, de que o internacionalismo dos produtores deve se opôr ao internacionalismo das finanças e das transnacionais.


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