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John Pilger

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É oficial: a Austrália foi invadida

John Pilger - Publicado: Sábado, 06 Agosto 2011 01:27

John Pilger

A cidade de Sydney votou pela substituição, em sua história oficial, das palavras "chegada dos europeus" por "invasão". A prefeita, Marcelle Hoff, diz que é intelectualmente desonesto utilizar qualquer outra palavra para descrever como a Austrália aborígene foi despojada pelos ingleses.


"Fomos invadidos", disse Paul Morris, um assessor indígena do Conselho. "É a verdade e não devemos diminuí-la, assim como não podemos pedir aos judeus que aceitem uma versão suavizada do Holocausto."

Em 2008, o então primeiro-ministro, Kevin Rudd, pediu desculpas formalmente aos aborígenes separados de suas famílias quando crianças sob uma política inspirada na teoria criptofascista da eugenia. Afirmava-se que a Austrália branca estava conseguindo aceitar seu passado e presente rapinantes. Sério?

Um editorial do jornal Sydney Morning Herald observou que o governo de Rudd "atuou rapidamente para apagar essas manchas de seu passado político de um modo que atenda a algumas das necessidades emocionais de seus seguidores; mas isso não muda nada. É uma simples manobra".

A decisão da cidade de Sydney é um gesto muito diferente, e admirável, porque não reflete uma "campanha de lamentações" liberal e limitada, em busca de uma "reconciliação" que os faça sentir-se bem em vez de procurar a justiça, mas sim reage a um covarde movimento de revisão histórica no qual um grupo de políticos, jornalistas e acadêmicos menores de extrema direita afirmava que não havia ocorrido nenhuma invasão, nenhum genocídio, nem uma geração roubada, nem racismo.

A plataforma para esses negadores do Holocausto é a imprensa de Murdoch, que mantém sua própria e insidiosa campanha contra a população indígena, apresentando-a como vítima de si mesma ou como nobres selvagens que requerem mão dura: a teoria dos eugenistas. Alguns "líderes" negros que dizem à elite branca o que esta quer ouvir, enquanto culpam seu próprio povo por sua pobreza, oferecendo cobertura a um racismo que frequentemente causa impacto para os visitantes estrangeiros.

Hoje, os primeiros australianos têm uma das expectativas de vida mais baixas do mundo e são cinco vezes mais propensos a ser presos do que os negros na África do Sul do apartheid. No deserto australiano, há crianças australianas cegadas pelo tracoma, uma doença bíblica, totalmente evitável e erradicada nos países do terceiro mundo, mas não na rica Austrália. Os povos aborígenes são, por um lado, o segredo obscuro da Austrália, e, por outro, o distintivo mais surpreendente da nação: a sociedade mais antiga do mundo.

Por meio deste rechaço transcedental da propaganda histórica, Sydney, a maior e mais antiga cidade do país, reconhece a "resistência cultural" da Austrália negra e, sem dizê-lo diretamente, fala de uma crescente resistência a um escândalo conhecido como "a intervenção": em 2007, John Howard enviou o exército à Austrália aborígene para "proteger as crianças" que, segundo seu ministro de assuntos indígenas, sofriam abusos em "números inimagináveis". Chama a atenção a maneira como a incestuosa elite política e midiática da Austrália frequentemente se concentra em uma pequena minoria negra com todo o fervor dos culpados, sem saber talvez que a mitologia e a psique nacionais continuam sendo prejudicadas, enquanto a nação, que foi uma vez roubada, não retorna a seus habitantes originais.

Os jornalistas aceitaram a justificativa oferecida pelo governo de Howard para "intervir" e saíram à caça do mórbido. Um programa de televisão nacional usou um "jovem trabalhador anônimo" que denunciava cartéis de "escravidão sexual" entre o povo Mutitjulu. Ele foi exposto mais tarde como um funcionário do governo federal e suas "provas" foram desacreditadas. De 7.433 crianças aborígenes examinadas pelos médicos, apenas quatro foram identificadas como possíveis vítimas de abuso. Não havia um "número inimaginável" - o índice identificado era similar ao do abuso de crianças brancas. A diferença é que não há soldados invadindo os subúrbios litorâneos, nem pais brancos postos de lado, seus salários reduzidos e seu bem-estar colocado "em quarentena". Tudo resultava ser uma farsa, mas com um propósito sério.

Os governos trabalhistas que sucederam Howard reforçaram os novos poderes de controle sobre as terras ancestrais de origem negra: especialmente a rigorosa Julia Gillard, uma primeira-ministra que dá aulas a seus compatriotas sobre as virtudes das guerras coloniais que "nos fazem ser quem somos hoje" e encarcera indefinidamente os refugiados dessas guerras, incluindo as crianças, em uma ilha em alto-mar que não é considerada Austrália, embora o seja.

No Território do Norte, o governo de Gillard de fato está conduzindo as comunidades aborígenes a verdadeiras zonas de apartheid, onde possam ser "economicamente viáveis". A razão declarada é que o Território do Norte é a única parte da Austrália onde os aborígenes têm direitos abrangentes sobre a terra, e que ali se encontram algumas das maiores reservas mundiais de urânio e outros minérios. A força política mais poderosa da Austrália é a multimilionária indústria da mineração.

Canberra quer explorar e vender esses recursos e os "malditos negros" estão no caminho de novo. Mas desta vez eles se organizaram, estão articulados, são militantes, uma resistência de consciência e cultura. Sabem que se trata de uma segunda invasão. Tendo finalmente pronunciado a palavra proibida, os australianos brancos devem ficar de seu lado.

Tradução do Opera Mundi


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