Há os que acreditam que a China não é capitalista. Impossível concordar. E há os que dizem que se trata de outra forma de gerenciar o capitalismo. Talvez, tenham razão. Vejamos alguns dados publicados na revista CartaCapital de 06/07:
De 1999 a 2009, a participação do Estado na produção industrial em termos de valor caiu de 49% para 27% (...). Em 1999, as firmas controladas pelo governo detinham 67% do capital industrial; uma década depois, sua participação caiu para 41%. (...)
Mas:
O governo chinês tem apertado o controle sobre algumas indústrias que considera "estratégicas", de petróleo e carvão às telecomunicações e equipamentos de transporte. O governo tem elaborado regras de acesso ao mercado que favorecem as estatais. (...)
Das 42 companhias da China Continental presentes na lista das 500 maiores empresas do mundo da revista Fortune em 2010 apenas três não são de propriedade do governo. (...). Em 2010, (...) das cem maiores firmas chinesas com capital aberto, 75 eram monitoradas pelo governo.
Ou seja, diferente do modelo neoliberal, há um forte controle estatal da economia. Mas, a produção está voltada para o mercado externo. Se este fraquejar, abala a economia chinesa. Uma desaceleração na China, por sua vez, afetará toda a economia mundial.
É por isso que Jin Canrong, professor da Universidade do Povo de Pequim, declarou recentemente: "A China não quer alcançar alguma coisa. Quer evitar coisas ruins. Somos potência do status quo (Folha de S. Paulo - 19/07)".
Mas, se pode haver dúvidas sobre o caráter do capitalismo chinês, não é o caso quanto ao papel da classe trabalhadora nele. Vejamos o que diz a socióloga chinesa Pun Ngai sobre o sistema de fábrica na China:
É um sistema de controle totalitário da produção e da reprodução. A área onde foram construídas as instalações da Foxconn na China ocidental é um enorme parque industrial. Foram destruídos mais de 100 vilarejos para construir essa área. Os agricultores perderam a terra e as casas, mas a Foxconn não os contrata, porque quer operárias e operários jovens, nunca acima dos 30, 35 anos, enquanto os agricultores são de meia-idade (leia mais aqui).
A socióloga também avisa que multiplicam-se as greves e revoltas operárias. Diz que são comuns fábricas com mais de 100 mil trabalhadores.
O gigante asiático não é alternativa ao capitalismo. É seu complemento baseado no máximo de exploração. Pode provocar reações dos explorados na mesma proporção.