Esta chantagem, que nos é vendida como uma a única saída possível, é inaceitável por duas razões:
- os trabalhadores portugueses não são responsáveis pela destruição da capacidade produtiva do país nem pelo endividamento da sua classe dominante. Há 30 anos que os seus direitos, salários e regalias têm vindo a ser reduzidos em nome de um amanhã melhor que nunca chega, e que contrasta com rendimentos milionários e sempre em crescimento dos gestores e dos grandes patrões.
Não foram os trabalhadores que descapitalizaram as empresas e desviaram os lucros do sector produtivo para a especulação bolsista e imobiliária, traficou influências, levou bancos à falência, inventou as Parcerias Público Privadas, e por aí fora;
- não é possível pagar a dívida externa portuguesa. O país não tem uma economia capaz de gerar a riqueza suficiente para pagar juros próximo dos 6% (o exemplo grego, obrigado a pagar juros mais baixos, é elucidativo). O que significa que com a aplicação do pacote imposto pela troika o país caminha para uma espiral interminável e suicidária de pedidos de empréstimos sucessivos para pagar empréstimos mais os respectivos juros, e cujo único fim é o de garantir o pagamento das dívidas à banca europeia.
Para os trabalhadores e o povo português a única alternativa válida é a do não pagamento da dívida. Aceitar o pacote da troika ou renegociar a dívida é um beco sem saída. Em qualquer dos casos o resultado só pode ser o crescimento da miséria, do desemprego e a limitação das liberdades e dos direitos dos que pouco ou nada tem.
Sei que esta não é uma ideia popular. Que a sua imposição obriga a uma alteração da correlação de forças entre o capital e o trabalho, e que essa alteração só se pode alcançar pela luta, nas ruas. Que ela não virá pelo voto nem pela conciliação e concórdia nacional. Que é inútil andar a pregar moral ao patronato sobre os malefícios da especulação financeira e a dar-lhe conselhos sobre como hão-de regenerar o tecido produtivo – se fosse do seu interesse desenvolver a indústria, a agricultura e as pescas, há muito o teria feito.
E que, com o actual quadro político e social, dizer aos trabalhadores que a crise e o pacote do FMI podem ser rejeitados e combatidos por um “governo de esquerda”, ou por um governo “patriótico e de esquerda” como o fazem o BE e o PCP, respectivamente, a sair das eleições do próximo dia 5, é uma fraude, uma forma de engodar o povo e lhes sacar o voto acenando-lhes com uma miragem.
Não estamos condenados a suportar a canga que nos querem impor. É possível alterar este estado de coisas com a mobilização e a luta contra o pacote da troika, recusando os despedimentos e cortes nos salários, pensões e demais regalias; exigindo o aumento do salário mínimo e o reforço das ajudas sociais de combate à miséria e ao desemprego; recusando a precariedade, o trabalho sem direitos e a carestia de vida; exigindo o julgamento dos especuladores e dos corruptos, o fim das mafiosas negociatas com que o sector público financia o privado, o fim dos obscenos privilégios de administradores, políticos e outros detentores der altos cargos, públicos e privados, e das suas escandalosas reformas milionárias; pela redução das despesas militares e a não participação das forças armadas portuguesas nas aventuras imperiais da NATO e da União Europeia, ou ao serviço da ONU.