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António Barata

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Em coluna

Não pagamos, os ricos que paguem a crise

António Barata - Publicado: Quarta, 01 Junho 2011 08:28

António Barata

Perante a falência do modelo de “desenvolvimento” abraçado pelas classes ricas e o patronato português com a adesão à União Europeia e ao Euro, que se traduziu no enriquecimento brutal de uns tantos e no empobrecimento da generalidade dos que trabalham, no endividamento galopante do país colocando-o à beira da insolvência, os trabalhadores e o povo português são colocados perante o dilema de aceitar o pacote de medidas draconianas do FMI e da União Europeia, aceite pelo PS, PSD e CDS, ou renegociar esse mesmo pacote, dilatando-lhe os prazos.


Esta chantagem, que nos é vendida como uma a única saída possível, é inaceitável por duas razões:

- os trabalhadores portugueses não são responsáveis pela destruição da capacidade produtiva do país nem pelo endividamento da sua classe dominante. Há 30 anos que os seus direitos, salários e regalias têm vindo a ser reduzidos em nome de um amanhã melhor que nunca chega, e que contrasta com rendimentos milionários e sempre em crescimento dos gestores e dos grandes patrões.

Não foram os trabalhadores que descapitalizaram as empresas e desviaram os lucros do sector produtivo para a especulação bolsista e imobiliária, traficou influências, levou bancos à falência, inventou as Parcerias Público Privadas, e por aí fora;

- não é possível pagar a dívida externa portuguesa. O país não tem uma economia capaz de gerar a riqueza suficiente para pagar juros próximo dos 6% (o exemplo grego, obrigado a pagar juros mais baixos, é elucidativo). O que significa que com a aplicação do pacote imposto pela troika o país caminha para uma espiral interminável e suicidária de pedidos de empréstimos sucessivos para pagar empréstimos mais os respectivos juros, e cujo único fim é o de garantir o pagamento das dívidas à banca europeia.

Para os trabalhadores e o povo português a única alternativa válida é a do não pagamento da dívida. Aceitar o pacote da troika ou renegociar a dívida é um beco sem saída. Em qualquer dos casos o resultado só pode ser o crescimento da miséria, do desemprego e a limitação das liberdades e dos direitos dos que pouco ou nada tem.

Sei que esta não é uma ideia popular. Que a sua imposição obriga a uma alteração da correlação de forças entre o capital e o trabalho, e que essa alteração só se pode alcançar pela luta, nas ruas. Que ela não virá pelo voto nem pela conciliação e concórdia nacional. Que é inútil andar a pregar moral ao patronato sobre os malefícios da especulação financeira e a dar-lhe conselhos sobre como hão-de regenerar o tecido produtivo – se fosse do seu interesse desenvolver a indústria, a agricultura e as pescas, há muito o teria feito.

E que, com o actual quadro político e social, dizer aos trabalhadores que a crise e o pacote do FMI podem ser rejeitados e combatidos por um “governo de esquerda”, ou por um governo “patriótico e de esquerda” como o fazem o BE e o PCP, respectivamente, a sair das eleições do próximo dia 5, é uma fraude, uma forma de engodar o povo e lhes sacar o voto acenando-lhes com uma miragem.

Não estamos condenados a suportar a canga que nos querem impor. É possível alterar este estado de coisas com a mobilização e a luta contra o pacote da troika, recusando os despedimentos e cortes nos salários, pensões e demais regalias; exigindo o aumento do salário mínimo e o reforço das ajudas sociais de combate à miséria e ao desemprego; recusando a precariedade, o trabalho sem direitos e a carestia de vida; exigindo o julgamento dos especuladores e dos corruptos, o fim das mafiosas negociatas com que o sector público financia o privado, o fim dos obscenos privilégios de administradores, políticos e outros detentores der altos cargos, públicos e privados, e das suas escandalosas reformas milionárias; pela redução das despesas militares e a não participação das forças armadas portuguesas nas aventuras imperiais da NATO e da União Europeia, ou ao serviço da ONU.


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