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Carlos Serrano Ferreira

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Primeiro de Maio: a história combativa do dia internacional de luta dos trabalhadores

Carlos Serrano Ferreira - Publicado: Sábado, 30 Abril 2011 11:39

Carlos Serrano Ferreira

A burguesia em sua luta contra os trabalhadores e os revolucionários usa de duas táticas principais: a repressão e a cooptação.


A primeira, tanto se apresenta nas guerras que o imperialismo faz aos povos, como na repressão interna criminalizando seus movimentos, criando bandos armados, etc. A segunda se dá pela compra com privilégios de suas direções, burocratizando-as, ou distorcendo seus símbolos de lutas e rebeldias. A imagem de Che Guevara vira grife; a maconha e o movimento hippie, de expressões contestatórias transformam-se em negócio e instrumento de desvio das lutas mais avançadas; etc. Mas, alguns símbolos, por mais que tentem, nunca serão pervertidos. Se o Che com sua estratégia pequeno-burguesa guerrilheirista pode ser usado, Lênin será sempre maldito. Assim é com o primeiro de maio, o dia internacional dos trabalhadores: por mais que tentem, não conseguem pervertê-lo totalmente ou destruí-lo.

A sua história está ligada à luta da classe operária ainda em ascensão, que se organizava e crescia em forças. Suas organizações se transformavam de associações de apoios mútuos em sindicatos e federações sindicais. Sua luta, seu movimento, os faziam avançar a consciência: a necessidade de se juntarem; a percepção que a classe operária é internacional; a necessidade de organizarem partidos da classe; a luta contra o capitalismo; e, principalmente, a necessidade da mobilização contra as terríveis condições de trabalho. Em 1866, a I Internacional declarou a luta pelas 8 horas como a luta central dos operários. A primeira greve geral, no norte da Inglaterra, em 1842, já tinha esta como principal bandeira, e conseguiu já cinco anos depois, uma lei que limitava para dez horas a jornada de trabalho. Hoje, é uma luta que voltará cada vez mais à baila, pois os planos dos patrões e de suas entidades, como a União Europeia e o FMI, é se recuperarem da crise em que meteram a Humanidade, fazendo os trabalhadores voltarem às condições de vida e trabalho do século XIX: nessa época, as jornadas de trabalho podiam chegar à até 17 horas diárias, nas indústrias europeias e estadounidenses; não haviam férias, descanso semanal ou aposentadoria.

Em 1866, um Congresso Operário em Baltimore (EUA) assume essa batalha pela redução da jornada de trabalhos, como seu principal eixo, e decidem fazer greves até conquistá-la. Já em 1881, funda-se a Federação Americana do Trabalho (AFL em inglês), que em 1884 decide em congresso realizar uma greve geral por essa bandeira: redução da jornada de trabalho das 13 horas de então para as oito horas. Após dois anos de organização, começa no primeiro de maio de 1886: as fábricas ficam vazias, trabalhadores cruzam os braços. Param Cincinnati, Nova Iorque, Detroit e, principalmente, Chicago. É a gigantesca classe operária americana entrando em cena pela primeira vez naquele país que se tornará, já no século XX, a grande potência capitalista. Participam dessa greve 320 mil operários!

Os capitalistas americanos não podem e não querem, admitir ou permitir que sua classe operária se levante. Porém, esta se move, influenciada por anarquistas e marxistas. No dia 1° de maio reúne-se em Assembléia na Praça Haymarket, os trabalhadores de Chicago. A luta de classes converte-se em verdadeiras batalhas: no terceiro dia de greve, num piquete de madrugada em frente à marcenaria Mc Cormick Harvester, sete operários são assassinados pela polícia e os capangas da fábrica. Como protesto, decide-se fazer um grande comício de luta, aonde os mortos do dia anterior, chorados pelos seus camaradas, não abatem o movimento, mas servem de estímulo para que a luta continue. Seu sangue não tinha sido derramado em vão. No entanto, mais uma provocação dos patrões: quando chega a cavalaria para reprimir no fim da manifestação, uma bomba plantada pelo patronato explode em meio aos policiais. É a deixa para mais repressão: disparam diretamente contra os trabalhadores. Centenas tombam. Contam-se dezenas de mortos e centenas de feridos. Sete líderes são presos: August Spies, Sam Fielden, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Schwab, Louis Lingg e Georg Engel.

Em meio aos contínuos ataques da imprensa, acusando-os de "terroristas vermelhos", preguiçosos e canalhas, os trabalhadores são demitidos em massa e suas famílias sofrem ameaças. É a reação mostrando sua verdadeira face no "democrático" EUA. Monta-se uma farsa, que é chamada de julgamento, e com um júri de burgueses e seus representantes, todos são condenados sem provas: Spies, Engel, Fischer e Parsons são enforcados no dia 11 de novembro; no dia anterior, Lingg se mata e em sua carta diz que o faz para não deixar nenhum carrasco da burguesia encostá-lo com suas mãos imundas. Schwab e Fielden tem suas penas convertidas em prisão perpétua, e Oscar Neebe é condenado à quinze anos de prisão. A farsa é tão grande que até mesmo um burguês declara, num raro rasgo de honestidade, que "Eu não sei se os operários presos são culpados ou não, mas eu tenho certeza que eles devem ser enforcados. Eu não tenho medo dos anarquistas, eles são uns reformadores sociais exóticos, sonhadores, românticos, existiram em todas as épocas e sempre vão existir e são relativamente inofensivos, agora, o movimento operário tem que ser esmagado". Esse era o objectivo do julgamento: dar um exemplo aos lutadores que quem continuasse seria reprimido, com a pesada mão da lei dos ricos, da sua justiça cega para as injustiças sociais e com visão de águia para a defesa da propriedade privada e os privilégios capitalistas.

Avolumam-se as provas de fraudes e subornos de juízes e jurados, para acelerarem um processo que demoraria normalmente anos, quando envolve pena capital, para poucos meses. O movimento operário americano cria vários comitês pela revisão das condenações e a libertação dos ainda vivos. Novamente a luta mostra seu resultado: após seis anos, em 1892, o governador de Illinois anula o processo, considera os mortos inocentes e liberta Fielden, Schwab e Neeb

, que estavam presos. São acusados de infâmia tanto os jurados, as falsas testemunhas, bem como os juízes!

Contudo, a repressão não era só no novo mundo, mas mundial: o partido socialista, os sindicatos e a imprensa operária foram proibidos na Alemanha. A derrota nos EUA só foi superada de facto no início do século XX.

O Primeiro de maio vira uma data mundial da luta dos trabalhadores:

A AFL decide em 1888, junto com o movimento "Cavaleiros do Trabalho" preparar para 1890 uma nova manifestação no 1° de maio, que seria um dia para lembrar os mártires de Chicago da melhor forma possível para se honrar a memória de um revolucionário: continuando a luta.

Nesse ínterim, realiza-se em 1889, nas comemorações da Revolução Francesa em Paris, um Congresso de socialistas de vários países, para reorganizar os escombros da I Internacional, sucumbida pela actividade conspiratória dos bakuninistas: mais de 300 delegados, representando os socialistas marxistas da Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Hungria, Inglaterra, Itália, Noruega, Portugal, Rússia, Suíça e, de fora da Europa, do então mais desenvolvido país latino-americano, a Argentina. Funda-se uma nova Internacional, conhecida como II Internacional ou Internacional Socialista, que terá como principal referência o Partido Social-Democrata Alemão (SPD).

Essa aprova a proposta da AFL do acto, que combinou-se perfeitamente com uma ideia anterior de realizar acções mundiais num dia de luta pela jornada de oito horas. Em 1891, no norte da França, uma nova repressão policial resulta na morte de mais dez trabalhadores. Isto colaborará para reforçar a data. A II Internacional, no seu segundo congresso, em Bruxelas, institui assim o 1° de maio como o Dia Internacional do Proletariado, que deveria ser a grande manifestação internacional destes em defesa dos seus interesses ou, nas palavras da resolução: "um dia de festa dos trabalhadores de todos os países, durante o qual os trabalhadores devem manifestar os objectivos comuns de suas reivindicações, bem como sua solidariedade". O dia deveria ser um dia fixo, para que em todos os países os trabalhadores estivessem irmanados em sua luta. A regra acabou sendo flexibilizada para adaptar-se às conjunturas de cada país. Em alguns lugares realiza-se em outras datas, mas em geral adotou-se o 1° de maio.

Na década de 20, após quase cem anos de luta, a maioria dos países vai, um a um, adotando a jornada de trabalho de oito horas. Vitória da luta dos trabalhadores! Vitória do Primeiro de Maio!

O Primeiro de maio na história recente:

Esta se tornou uma das datas mais importantes nos eventos da luta de classes no século XX, desafiando ditaduras, repressão e patrões.

Em Portugal, um dos grandes testes iniciais para a Revolução dos Cravos foi a realização de uma comemoração gigantesca no primeiro de maio, poucos dias após a queda de Marcelo Caetano. Voltava-se a comemorar esta data, em meio ao processo revolucionário, após o tenebroso período de mais de quarenta anos do Estado Novo, quando esteve proibida comemorações da mesma. No Brasil, por exemplo, manifestações de primeiro de maio, como a de 1980, lideradas pelo operariado, chocaram-se com a ditadura cambaleante. Sob a mira de fuzis apontados de helicópteros, cem mil metalúrgicos impõem sua mobilização.

O mais chocante é que no país que deu origem ao 1° de maio, os EUA, ele não é comemorado. A elite americana, para separar a classe operária de seu país do resto do mundo, a partir do governo estabeleceu um dia distinto, a primeira segunda-feira de setembro. Chicago não lembra seus mártires.

A imposição do 1° de maio foi uma conquista dos trabalhadores, atacada cotidianamente, como os próprios trabalhadores o são. Em Portugal, por exemplo, quando os feitores de Belmiro de Azevedo pressionam contra a folga nesse dia nos mercados Continente e Modelo. Foi necessário o sindicato declarar greve nesse dia para garantir a participação dos trabalhadores nas comemorações.

No entanto, não é só pela repressão que a burguesia quer esvaziar o 1° de maio como dia de luta: com o auxílio da burocracia quer dar um carácter festivo ao dia, esvaziando-o, tornando mais um feriado, entre tantos. Um dos maiores exemplos é o Brasil: desde 1998, a Força Sindical, central sindical neoliberal, faz comemorações que se resumem a shows e sorteios de carros e prêmios, iniciativa em que foi seguida por quase todas as centrais, inclusive a CUT. A exceção tem sido a CSP-CONLUTAS que tem realizado eventos que mantém o carácter combativo do dia.

As lições do primeiro de maio não podem jamais serem esquecidas: a luta dos trabalhadores é uma luta internacional, pois a luta de classes é internacional; só com a luta organizada pode-se conquistar as vitórias necessárias, mas estas se perdem se não forem coroadas pela superação do sistema; e, por fim, temos que estar preparados para todas as táticas usadas pela burguesia contra nós, como a repressão policial, a burocratização do movimento e o esvaziamento dos espaços dos trabalhadores. É preciso lembrar dos mártires de Chicago! Por eles, e todos que tombaram lutando pelo proletariado, dizemos em alta voz: VIVA O DIA DO TRABALHADOR! VIVA O PRIMEIRO DE MAIO! VIVA A CLASSE TRABALHADORA! VIVA O SOCIALISMO!

"Meu Maio", de Vladimir Maiakovski

A todos

Que saíram às ruas

De corpo-máquina cansado,

A todos

Que imploram feriado

Às costas que a terra extenua –

Primeiro de Maio!

Meu mundo, em primaveras,

Derrete a neve com sol gaio.

Sou operário –

Este é o meu maio!

Sou camponês - Este é o meu mês.

Sou ferro –

Eis o maio que eu quero!

Sou terra –

O maio é minha era!


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