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Democracy now!

Energia renovada para as energias renováveis

Amy Goodman - Publicado: Quinta, 28 Abril 2011 20:34

Amy Goodman

Na segunda semana de abril, mais de 10 mil pessoas reuniram-se em Washington D.C. para discutir, organizar, mobilizar e protestar em torno da questão da mudança climática.


Enquanto os veículos de comunicação destacavam algumas concentrações de centenas de pessoas em vários pontos do país, articuladas pelo movimento tea party em virtude do dia de declaração de impostos, o popular encontro Power Shift 2011 não foi coberto por nenhum média.

O encontro aconteceu na semana anterior ao Dia da Terra, data próxima do primeiro aniversário da explosão da plataforma petrolífera da British Petroleum (BP) e do 25º aniversário do desastre de Chernobyl, ao tempo em que a central nuclear de Fukushima continuava emitindo radioactividade no meio ambiente. Com este cenário de fundo, a força e a paixão renovadas do movimento contra a mudança climática garantem que este não poderá ser ignorado por muito tempo.

Bill McKibben, o ambientalista, ensaísta e fundador da 350.org (campanha internacional que visa criar um movimento para unir o mundo em torno de soluções para a crise climática) participou do gigantesco encontro. Lá disse-nos: “Esta cidade está tão contaminada como Beijing. Mas em lugar de fumo de carvão, está contaminada pelo dinheiro. O dinheiro perverte a nossa vida política e nubla a nossa visão. (...) Agora sabemos o que temos que fazer e o primeiro passo é construir um movimento. Nunca vamos ter tanto dinheiro como as empresas petrolíferas, de modo que precisamos de uma moeda diferente para trabalhar, precisamos organização, precisamos de criatividade, precisamos de energia”.

Os organizadores do Power Shift descrevem o evento como um campo de treino intensivo, que capacita uma nova geração de activistas de base com o objetivo de que regressem às suas comunidades e construam o movimento convocado por McKibben. Os activistas atuam em três campanhas: Catalizar a economia da energia limpa; A universidade e o desafio climático 2.0, e Para além das energias contaminantes. Estas campanhas atravessam os sectores mais importantes da sociedade norte-americana.

A iniciativa por uma economia de energia limpa conta com o apoio da Federação Norte-americana do Trabalho-Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO, sigla do seu nome em inglês), que vê um grande potencial nos novos tipos de energia para a geração de emprego, seja na construção de turbinas de vento e instalação de painéis solares, seja num dos sectores mais ecológico e frequentemente ignorado: a adaptação de edifícios já existentes para melhorar a eficiência energética através do isolamento térmico e da impermeabilização.

Na segunda-feira 18 de abril, dia da declaração de impostos nos Estados Unidos, milhares de pessoas realizaram uma manifestação chamada “Que os grandes contaminadores paguem”, contra as indústrias de combustíveis fósseis e energia não renovável. Os manifestantes reuniram-se em Lafayette Park, praça tradicionalmente utilizada para realizar manifestações, que se encontra entre a Casa Branca e a Câmara de Comércio Norte-Americano.

Como disse Bill McKibben, “Os irmãos Koch são altos picos de corrupção, mas a Câmara de Comércio dos Estados Unidos é o Monte Everest do dinheiro sujo. Vangloria-se no seu site de ser o maior lóbista de Washington, de facto gasta mais dinheiro em fazer lóbi do que os cinco lóbistas que lhe seguem em importância tomados em conjunto. Gastou mais dinheiro em política no ano passado que o Comité Nacional Republicano e o Comité Nacional Democrata juntos, e 94% desse dinheiro destinou- se a financiar sujeitos que renegam a mudança climática”.

Também houve protestos em frente aos escritórios da BP, pouco depois da petrolífera realizar uma assembleia de accionistas em Londres. No local, polícias impediram a entrada de uma delegação de quatro pescadores e pescadoras das zonas da Costa do Golfo de México nos estados de Luisiana e Texas que foram gravemente prejudicados pelo derrame de petróleo em 2010.

Diane Wilson, quarta geração de uma família de pescadores, foi presa por crime contra a ordem pública. “Levaram-me à força e prenderam-me. Fui acusada de alterar a ordem pública. Eu ri disso e falei ’Alterar a ordem pública da BP?’. Isso foi muito indignante. Eles alteram as nossas vidas, mas consideram que, apenas por aparecer na entrada da assembleia geral da BP, nós estamos a alterar a ordem pública”.

A maior parte dos que participaram do Power Shift 2011 não tinha nascido quando sucederam os desastres nucleares de Three Mile Island e Chernobyl. Estes jovens, que procuram um futuro energético sustentável e renovável, agora estão a entender o significado do que o Presidente Barack Obama denomina “renascimento nuclear”. A crise nuclear em Fukushima aumentou em gravidade até atingir o nível sete, o máximo de risco e o mesmo registado em Chernobyl. Os melhores prognósticos indicam que as fugas radioactivas persistirão por meses, com impactos na saúde e no meio ambiente impossíveis de adivinhar.

Será que Obama vai continuar com a ideia de repartir 80 mil milhões de dólares em garantias de empréstimos para construir mais centrais nucleares nos Estados Unidos? O presidente afirma estar na contra-mão da redução de impostos dos ricos, mas... O que dizer dos subsídios públicos ao petróleo, o gás, o carvão e a energia nuclear, que se destinam às indústrias mais ricas do planeta?

Recentemente, construímos novos estúdios para transmitir ao vivo as notícias do Democracy Now! em emissoras de televisão e rádio públicas dos Estados Unidos. As nossas instalações de TV/rádio/Internet são as mais ecológicas do país, e o Conselho da Construção Ecológica dos Estados Unidos outorgou-nos o reconhecimento de Liderança em Desenho Energético e Ambiental (LEIAM Platinum). O meio é a mensagem. Todos devemos fazer a nossa parte para contribuir na luta pela sustentabilidade.


Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Fernanda Gerpe para Democracy Now! em espanhol.

Texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisto por Bruno Lima Rocha para Estratégia & Análise.


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