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Séchu Sende

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Língua, profes e desenhos animados

Séchu Sende - Publicado: Sexta, 15 Abril 2011 02:00

Séchu Sende

Penso que, entre outras muitas cousas, hoje falo galego por culpa dos Pitufos. Explico-me. Em 1985 começarom a emitir-se Os Pitufos na TVG.


Eram aqueles tempos nos que todo o país descobria umha televisiom que falava galego. O meu ídolo, nunca o esquecerei, nom era o Pitufo Mangalhom nem o Pitufo Sabido nem a Pitufinha, nom, o meu ídolo era o Pitufo Zoupom. O Pitufo Zoupom era, em segredo, o meu héroi.

Nos desenhos animados do televisor havia carteiros, médicos, científicos, heroínas, nenas pijas, nenas prodígio e milheiros, si, milheiros de personages mais que falavam galego. Naquel país multicolor a nossa língua era umha língua normal. Aquaman, Hixitus, o Carteiro Pat, Doutor Slump e Arale, Son Ghoanda...

Recordo ter enveja, si, enveja, do galego com gheada de Crilim. Recordo escoitar a Candy Candy e pensar: Que bem lhe queda o galego a esta nena pija! Recordo o galego do chefe de Pedro Picapedra e nom estranhar-me de que esse empresário com traxe e gravata falasse galego. Héroes e viláns, adultos e nenas, bons e maus, mutantes, homes e mulheres, nenos e nenas... Todo o mundo falava galego, com normalidade. Todo o mundo...agás, diante do ecram, eu.

Eu nom falava galego. Era o que havia. A ver, falar falava-o daquela maneira, fatal e mal que bem. Aínda que, iso si, recordo que nunca fixem público o meu déficit com frases do tipo: Es que no me sale. Es que me queda mal. Yo en gallego no me veo. Guardava a minha insuficiéncia com discreçom.

Mas a vida real nom era a televisiom e a maioria dos adultos nom me falavam galego. O carteiro Pat nom entregava as cartas no nosso buzom, Spiderman nom subia comigo no elevador, os meus vizinhos nom eram Olivia e Popeye...

O Pitufo Zoupom, com os seus tatejos e todo, falava um galego tam especial... A sua voz insegura, feble, mas intensa..., acordades-vos da sua voz? Era umha dessas vozes marabilhosas, inesquecíveis. Umha voz acolhedora. E tinha as vogais abertas e fechadas mais nítidas que nunca escoitara.

Até o dia que comecei segundo de bacharelato.

Recordo aquel professor como se estivesse vivindo outra vez aqueles momentos. De veras. Nom é um recurso retórico. Recordo-o presentar-se. Olá, chamo-me Bernardo. A sua voz está dentro de mim. Recordo o seu interesse por conhecer os nossos nomes. E os nossos apelidos. A sua primeira aula foi um dos primeiros espectáculos de erudiçom que presenciei ao vivo. Porque aquel professor de língua galega começou a explicar que significavam os nossos apelidos. E naqueles 50 minutos viajamos no tempo desde a época dos preceltas até os suevos, passando polos romanos. A mim dixo-me que o meu segundo apelido significava Caminho, e que vinha dum povo que chegara a Galiza logo dumha longa viagem. Recordo como se fosse hoje aquel professor a explicar a história da língua do nosso país a partir dos nossos apelidos com a sua voz tam particular, por vezes feble, por vezes insegura, mas intensa, inesquecível. E acolhedora.

Com toda seguridade foi o melhor professor que nunca tivera. Recordo que aquel ano comecei um caminho que já nunca abandonaria. O caminho da língua. Comecei a falar galego. Dei o passo.

E um dia que estudavamos o vocalismo dei-me conta, enquanto escoitava o professor. Aquela voz. Aquela voz, aqueles sons, aquelas vogais abertas e fechadas tam nítidas... Era a voz do Pitufo Zoupom! Bernardo, o nosso professor de língua, era o Pitufo Zoupom!

El mesmo tivo que reconhece-lo: Aquel era o seu primeiro ano como profe e antes estivera currando no que saía. E si, chegara a trabalhar para a TVG dobrando a voz do Pitufo Zoupom!

Hoje podo presumir com um sorriso nos lábios de que me deu aulas o Pitufo Zoupom. E de que hoje falo galego, entre outras muitas cousas, graças a el.

Bernardo, como outras boas professoras e professores que se cruzarom na minha vida, fornecerom-me de estímulos e mistérios, de seguridade e autoestima, de criatividade e vontade crítica e de muitos quilos dum material valiossísimo: curiosidade!

Por isso escrebo isto hoje, porque vivimos uns tempos nos que desde un sector da sociedade –radical e antigaleguista- se pretende desprestigiar e mesmo criminalizar o trabalho de muit@s profes que sabem que a base de educaçom nom é aprender-lhe á gente o que deve pensar senom... a pensar.

E escrebo isto porque eu, agora que som profe, e recordando a Bernardo, acabo de dar-me conta de que quando tinha 17 anos descobrim que o melhor professor é o que consegue que nos eduquemos a nós mesmos,a nós mesmas. Assi foi como começamos muitas rapazas e rapaces novos e castelám-falantes o caminho da língua galega.

Profes e alun@s, pais e mais, recordai a música: Coidado, tede cuidado, porque Gargamel quer atrapar-vos...

Bernardo, um forte abraço, mestre: vinte anos despois continuo a aprender de ti!

Fonte: Galicia Confidencial.


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