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Guillermo Almeyra

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Simplesmente, a lei do mais forte

Guillermo Almeyra - Publicado: Quinta, 07 Abril 2011 02:00

Guillermo Almeyra

Os bombardeios imperialistas contra a Líbia propõem diversos problemas. Misturam-se entre estes os relacionados com a legalidade internacional com os que se referem à obrigação ética de prestar ajuda humanitária a populações cujos governos são incapazes da garantir ou, pior ainda, exercem um poder ditatorial e podem cometer um genocídio.


Por exemplo, como Gilbert Achcar lembrou, não seria necessário intervir preventivamente no Ruanda e Burundi para impedir a carnificina de mais de meio milhão de hutus e tutsis que todos viam vir desde faz tempo? Tal intervenção humanitária, preventiva, não teria um custo infinitamente menor que o do genocídio que se produziu e que se teria podido evitar? Uma força estrangeira de interposição, sobretudo se pertencer a países que nunca foram colonialistas e que são da mesma região, talvez não pode criar as condições de pacificação necessárias para que o povo do país onde a rebelião popular mal armada se enfrenta a uma ditadura assassina possa encontrar uma solução política -uma assembleia constituinte, por exemplo- e exerça assim sua soberania, porque esta deve estar em suas mãos e não na dos governos?

O princípio mesmo da intervenção humanitária não pode ser discutido, porque é uma obrigação semelhante àquela que tem toda pessoa civilizada cuja intervenção pode evitar que uma besta humana maltrate uma mulher ou um menino, ou impedir um crime.

Mas então surge a pergunta: quem tem a legitimidade necessária para decidir se num país determinado existe ou não uma ditadura e se há ou não perigo de genocídio? Seguramente não as potências imperialistas e as ex potencia colonialistas, e menos ainda, ensangrentadas pelas guerras de agressão e de conquista do passado e por sua participação na brutal ocupação do Afeganistão e Iraque, e violadoras, como Estados Unidos, da legislação internacional com seu criminoso bloqueio a Cuba.

Os países que sustentam ditadores desde faz décadas, que sustentam a criminosa ação colonialista e genocida de Israel na Palestina, que são sócios da Arabia Saudita e dos reizinhos árabes, como se associaram até ontem com Muammar Kadafi, não podem falar de ajuda humanitária quando o que os move é o desejo de esmagar e controlar a rebelião dos povos árabes, que tem desestabilizado todo o dispositivo imperialista na região, a luta pela distribuição do poder geopolítico na zona e a ânsia de sacar uma quantidade maior da riqueza petrolífera líbia, e não a preocupação -que não têm nem nunca tiveram- pela sorte do povo libio.

Este é que deve decidir sobre seu próprio destino e escolher sua forma de governo e quem serão seus governantes. É verdade que os rebeldes mal armados e desorganizados, que corriam o risco de ser esmagados pelo poderío técnico da ditadura, podem ver com alívio a intervenção militar imperialista que salva suas vidas. Mas o único que poderia lhes garantir ao mesmo tempo essas vidas e a liberdade, seria uma mediação de outros países árabes e africanos, com um passado comum de vítimas do colonialismo e do imperialismo, que negocie uma solução pacífica e crie uma força militar de interposição entre os combatentes, abrindo assim o caminho para a preparação pacífica e democrática de eleições para uma assembleia constituinte, de maneira que circulem as informações, as ideias, as propostas; separar, no campo kadafista, os cúmplices da ditadura dos que apoiam o ditador por temor a uma recolonização do país e, no campo rebelde, quem são agentes do imperialismo ou kadafistas reciclados a última hora dos que, em troca, querem um país independente, livre, soberano, democrático e com todo o que nunca teve (sindicatos, imprensa livre, livre expressão política das diversas comunidades).

Idealizar Kadafi em nome do anti-imperialismo, só porque este, como ratazana encurralada, se defende de seus sócios e aliados de ontem, é errôneo. Qualificar de humanitária a atitude imperialista de Washington, que quer derrocar Kadafi e para isso bombardeia, e a hipocrisia e selvajaria dos governos de Sarkozy e Berlusconi, não só também é errôneo, como também criminoso.

O imperialismo, como na época do pirata Drake, impõe em escala mundial a lei dos canhões e espezinha toda legalidade internacional. Se Kadafi não tem legitimidade, menos têm ainda o governo de Washington e seu presidente, filho de um africano que acha que pode decidir pelos africanos que convém a estes. Não há outra saída legítima que uma comissão de mediação, uma força regional ou latino-americana de interposição entre os combatentes e a abertura de um processo de consulta democrática ao povo da Líbia. A intervenção imperialista faz com que o mundo retroceda séculos. Essa barbarie deve cessar de imediato.

Fonte: La Jornada.

Tradução: Diário Liberdade.


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