“A mesma criação dum comitê para rebaixar os preços é um sintoma eloquente e demolidor da maneira na que uma política que desconhece o significado das regelações planificadas e operativas cai pola força das suas próprias e inevitáveis consequências no propósito de dirigir os preços ao estilo do comunismo de guerra”[109]
O primeiro documento escrito pola Oposição de Esquerda é de 15 de Outubro de 1.923: o «Manifesto dos 46»[110]. Fala-se nele, em frente às carências evidentes da direção – a troika Kamenev, Estaline e Zinoviev — em matéria econômica, da necessidade de planificação e industrialização paralelas à questão, cada vez mais urgente, da democratização interna do Partido. Foi tal o reboliço que os triúnviros não tiveram mais remédio que fazer funcionar uma válvula de escape para aliviar a pressão. Assim, por ocasião do 6º aniversário da Revolução anunciaram a abertura dum «novo curso» que incitou uma ampla discussão sobre os temas postos ao lume polo manifesto, intervindo Trotski com uma série de artigos na Pravda sob o título Novo Curso; entre eles o VII: «O plano na economia» e o Anexo III: «Sobre a relação entre a cidade e o campo».
Para finais de 1925, no momento em que a sistematização de Estaline—Bukharine[111] sobre o «socialismo num só país» fazia-se-lhes insuportável[112], Kamenev e Zinoviev abandonam o Buró Político e propõem Trotski a constituição duma «Nova Oposição (de esquerda) Unificada». Em Julho de 1926 Trotski lê, no nome da nova oposição, a «Declaração dos 13» onde as medidas que se aconselham são:
· Acréscimo dos salários dos operários.
· Reforma fiscal que impusesse uma forte taxa aos kulaks e libertasse dela aos bedniaks (pequenos lavradores).
· Progressiva coletivização da agricultura.
Aceleramento da falência de industrialização: Queremos um plano qüinqüenal!, tal foi a palavra de ordem da Oposição Unificada durante o verão de 1.926.
De maneira empírica, a direção rejeita uma trás outra todas as propostas.
Em 7 de Novembro de 1927, no 10º aniversário da Revolução, a Oposição manifestou-se em Moscovo, em Leninegrado, em Kharkhov sob as suas próprias bandeiras: Abaixo o kulak, o nepman, o burocrata!.
O XV Congresso, previsto para últimos de 1.927, foi atrasado pola direção que daquela não pisa terra firme. A agravação da situação econômica e a derrota da revolução chinesa de 1925 -1927, que antevira a Oposição, supõe um duríssimo baque para a direção de Estaline—Bukharine que procura o momento para esmagar a Oposição. O XV Congresso olha a capitulação dos seguidores de Zinoviev em Leninegrado e milhares de militantes são deportados para a Sibéria e a Ásia Central aos poucos do Congresso. Uma feroz repressão abater-se-á logo sobre irrepreensíveis revolucionários[113].
A luita dos oposicionistas não cessa nem no cárcere, nem no exílio[114]. Durante os seis primeiros meses de 1928 a GPU reprime mais de 150 revoltas dos lavradores enfurecidos por não poderem aceder nem às ferramentas nem aos bens de consumo. No seio do Comitê Central os estalinistas e os bukharinistas enfrentam-se em divergência polas medidas para tomar. São partidários os bukharinistas de certas concessões, de recurso à força os estalinistas. Em Janeiro de 1929, o Buró Político adopta severas medidas contra os camponeses que se resistam à requisição. Em volta de meados de Fevereiro, ao não se produzir os resultados esperados polas ameaças, a Pravda lança uma campanha de imprensa com o título “Os Kulaks erguem de nova a cabeça”. Em Abril do mesmo ano, o Comitê Central decide tomar medidas de urgência. Eis a chamada “virada para a esquerda” que conduze à coletivização forçosa e ao Primeiro Plano Qüinqüenal. Sob estes parâmetros de repressão maciça, aonde “os fulgores de Outubro iam-se extinguindo nos sol - pores carcerários”[115], nascem alguns dos textos fundamentais da época: A Internacional Comunista após Lenine, de Trotski, Os perigos profissionais do poder[116] de Christian Rakovski e Rumo à outra chama[117] de Panait Istrati[118], primeira denúncia do estalinismo feita por um escritor de reputação internacional.
A “virada para a esquerda” produze divisões nas fileiras da Oposição. Tomando de conta que a fracção estaliniana semelhava adotar as medidas que urgia a Oposição, alguns quadros, Preobrazhenski, Esmilga e Radek entre outros, enxergam o momento em que é de necessidade apoiar a fracção de Estaline.
A “virada para a direita” de Julho de 1928, tornando nulas todas as medidas contra o kulak, não é mais que um episódio na luita no seio do Comitê Central entre as fracções de Estaline e Bukharine. Há que aguardar em meados de 1.929, derrotadas as posições de direita bukharinistas, que Estaline pode adoptar de novo a “virada para esquerda”, desta volta se sustentado numa nova elite privilegiada selecionada no movimento estakhanovista.
Pensar que Estaline e o seu grupo estavam dispostos para aplicar o programa da Oposição é, contudo, uma conclusão ligeira de mais; não só porque a aplicação do programa tivesse acarretado menos sacrifícios, embora porque a conceição central era profundamente divergente tanto da dos direitistas bukharinistas como da dos centristas estalinianos. Roy A. Medvedev observa a este respeito que,
“a sua violência contra os campesinos, o capricho burocrático e o governo arbitrário, tanto no campo como na cidade, discordavam do leninismo muito mais do que pudera propor qualquer dos grupos da oposição”[119]
A única ferramenta que permite limitar dentro do possível no seio dum Estado operário as consequências que acarreta numa sociedade em transição a lei do valor é o plano, assumido como arma para articular cada sector da atividade econômica com o resto em função dos recursos que se possuam internamente no país e as possibilidades de exploração dos recursos naturais, mas também a articulação do país, como um todo, com o conjunto da economia universal. Tem de se considerar o plano como tarefa prioritária no desenvolvimento das forças produtivas no seu conjunto, o que implica antes de mais, um incessante ritmo de industrialização consciente e controlada polo próprio Estado. Por fim, mas não menos importante nem muito menos, garantindo a máxima presença dos sectores postos no esforço — operários e lavradores — para o que se faz indispensável a mais completa e profunda democracia que garanta que aqueles que estão dispostos para o esforço o façam voluntária e conscientemente. O proletariado necessita da democracia como forma política da sua ditadura no senso que explicitara Engels com assaz precisão:
“Está absolutamente além de qualquer dúvida que o nosso partido e a classe operária apenas podem chegar ao domínio sob a forma de república democrática. Até é esta última a forma específica da ditadura do proletariado, como o tem provado já a Grande Revolução francesa.”[120]
A política, então, não se poderá estabelecer na enganosa dicotomia entre a melhora do bem-estar do conjunto da população e o abastecimento global em bens de produção; daquela, a acumulação tem de ser a ótima em vez da máxima, isto é, pôr em primeiro plano o incremento do nível vital dos trabalhadores tanto da cidade quanto do campo, desde que qualquer diminuição do nível de vida da massa operária levará para um decrescimento relativo da produtividade do trabalho empecendo quaisquer esforços acumulativos, vindo abaixo o plano ao não poder dar rendimento os efeitos da medrança de estocagem de bens de produção. Vale dizer, para trançar o valor de troco há que quebrar a escassez de valores de uso, rompendo, por esses meios, todo esbanjamento do sobre-produto social para fins improdutivos (aparelhos de propaganda, policiais, gastos sumptuários...) Por isso não era uma bizantina discussão a briga levada pola Oposição contra a gestão burocrática, embora o cerne mesmo do combate pola construção do socialismo.
Assim e tudo, moldurar tão só dentro dos fechados marcos econômicos a discussão é deturpar toda a luita polo socialismo. Tem de estar um muito distante do espírito de 1.917 para argumentar que a abordagem da construção do socialismo pode esquecer a relação de forças entre o impulso da planificação sob formas de propriedade colectiva num determinado espaço geográfico e o capitalismo mundial como um conjunto, não se tem de traçar desde o plano político. O particular finca-pé de Trotski neste ponto, e precedentemente toda a tradição marxista que vai de Marx e Engels até Lenine, da mais ampla democracia no movimento operário, endenta-se com o conjunto de elementos orgânicos no Estado conquistado polos operários, isto é, a planificação - que não é já um mecanismo imposto à economia como a “programação” nos países capitalistas - e a tarefa “esquecida” por Estaline e os seus: a imperiosa necessidade de alargamento da revolução para o plano internacional. Rosa Luxemburgo deixou-o gravado em frases joalheiras:
Este é o aspecto essencial e perene da política dos bolcheviques, aos que corresponde o mérito histórico imperecedoiro de mostrar o caminho ao proletariado mundial no relativo à conquista do poder político e os temas práticos da realização do socialismo, assim como ter empuxado poderosamente o enfrentamento entre o capital e o trabalho em todo o mundo. O único que tinha cabimento fazer na Rússia era traçar o problema, sem resolvê-lo. Neste sentido, o futuro pertence em toda a parte ao bolchevismo.[121]
Mas ao fim e ao cabo, Estaline era um político excessivamente empírico para chegar a tais conclusões[122]. Como na fábula bíblica, a burocracia procurou um homem à sua imagem e semelhança e achou Estaline. A classe dos operários esgotada pola Guerra Mundial, a Revolução, a Guerra Civil, desmoralizada pola frustração da revolução na Europa, desejava paz, tranquilidade. Os funcionários, que receavam do internacionalismo bolchevique, queriam “ordem” para as suas tarefas administrativas e temiam a intromissão dos focinhos operários e campesinos nos seus “delicados” assuntos. O proletariado podia dizer com Bertolt Brecht: “comesto vivo fui polas mediocridades”[123]. Rodolfo Llopis[124], perspicaz observador, reparou:
A burocracia obstaculiza os avanços rápidos. O obreiro funcionário faz-se, dia por dia, mais funcionário e menos operário. A sua mentalidade foi mudando. Sofre uma desviarão perigosa..[125]
A ambigüidade que se instalara como um tumor maligno entre Estado dos Sovietes e socialismo, haveria servir para uma maliciosa sagração do Estado por cima dos proletários e campesinos e dum modelo do “socialismo” pola malta de Estaline, bem longe da construção do socialismo que postularam Marx e Engels:
“uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos”[126].
Notas:
[108] O “Compendio de Historia del Partido Comunista de la Unión Soviética”, obra dirigida por Boris Ponomariov, membro destacado da direção do P.C.U.S., despacha o assunto com a seguinte nota: “Cada vez que o País dos Sovietes se encontrava em condições especialmente difíceis, Trotski recomeçava os seus ataques contra o partido e tentava dividi-lo. No outono de 1.923 surgiram dificuldades na venda de artigos industriais, o que suscitou algum descontentamento no povo. Trotski aproveitou-se das referidas dificuldades, e que Lenine estava doente, para acusar o Comitê Central do partido, do que fazia membro, de conduzir o país para a catástrofe” [pág. 202]. A pergunta que nos sugere tudo isto é: Que aconteceu, quais foram as causas para que o país se achasse “em condições especialmente difíceis”? Como era que “no outono de 1.923 surgiram dificuldades na venda de artigos industriais”? Irromperam tal qual ou houve outra ou outras causas? Os autores não foram quem de desvendar tais “profundos mistérios” porque se torna impossível dizer algo desde o seu encadeamento de ideias.
[109] Citado segundo E.H.Carr, El Interregno, pág. 115.
[110] O texto pode-se ler no livro de E.H.Carr, El Interregno (1923-1924), págs. 364-369.
[111] Numa carta dirigida a Pkóev, Estaline afirma: “sem o apoio dos operários do Ocidente, com muita dificuldade resistiríamos os inimigos que nos cercam. Bem estará se esse apoio desemboca depois numa revolução vitoriosa no Ocidente. Então, a vitória no nosso país será definitiva. Mas, e se esse apoio não desemboca na vitória da revolução em Ocidente? Podemos construir e levar ao cabo a edificação da sociedade socialista sem essa vitória no Ocidente? O Congresso dissera que podemos. De outra maneira, não se tinha porque ter tomado o Poder em Outubro de 1917” (Sobre a possibilidade de levar ao cabo a edificação do socialismo no nosso país. Contestação ao camarada Pokóev, em Obras de J. Stalin, Vol. VIII, pág. 103-104) e noutro lugar: “Nem Zinoviev nem Kamenev negam, nem têm negado nunca, que podamos começar a edificar o socialismo no nosso país, porque seria uma parvoíce negar o facto, evidente para todos, de que no nosso país está-se a edificar o socialismo. Mas negam resolutamente a tese de que podamos levar ao cabo a edificação do socialismo. A Zinoviev, Kamenev, Trotski, Esmilga e outros os ligam, nesta questão, a sua atitude negativa a respeito da tese de Lenine de que podamos levar ao cabo a edificação do socialismo, de que temos «todo o imprescindível para edificar a sociedade socialista completa74» Liga-os o estimar possível «edificar a sociedade socialista completa» só com a vitória da revolução socialista nos principais países da Europa. Por isso é completamente errôneo contrapor Trotski a Esmilga no problema da edificação completa do socialismo no nosso país”. Carta a Slepkov, em Obras de J. Stalin, Vol. VIII, págs. 219-220. ([a nota 74 inserida por Estaline com trapaceira referência a Lenine alude a: V. I. Lenine, Obras, t. 33, pág. 428, 4ª ed. Em russo].
[112] Giulano Procacci faz notar na introdução ao volume II de El gran debate, o achegamento relativo das teses sustentadas por Zinoviev no livro O Leninismo com as propostas de Trotski em Lições de Outubro. O historiador italiano observa que “As conclusões de Zinoviev... não podiam ser outras que a ideia que uma vitória “definitiva” do socialismo na Rússia não havia ser possível sem a vitória do mesmo numa série de países, isto é, uma nova lançadura duma política internacionalista. Retornava suscitar, deste modo, quase inadvertidamente, as instâncias e as ideias que o mesmo Zinoviev, mais do que nenhum outro, tinha ajudado a combater e dissipar. Os fundamentos para a aliança entre Trotski e o grupo opositor dirigido por Zinoviev e Kamenev que se concordou depois nas vésperas do XV Congresso (2-19 de Dezembro de 1927) hão de se procurar neste período.” (pág. 4).
[113] O XV Congresso expulsou do Partido, como “dirigentes activos da oposição trotskista”: 1) Iv. Avéiev, 2) A. Alexándrov, 3) Ausem, 4) A. Batashov, 5) S. Baranov, 6) Iv. Bakáiev, 7) Budzínskaia, 8) M. Boguslavski, 9) Vaganiám, 10) I. Vardim, 11) I. Vrachov, 12) S. Guessem, 13) N. Gordón, 14) Ar. Guértik, 15) A. Guralski, 16) Drobnis, 17) T. Dimítriev, 18) G. Evdokímov, 19) S. Zorim, 20) P. Zalutski, 21) Ilim, 22) L. Kamenev, 23) S. Kavtaradze, 24) Kasperski, 25) M. Krasóvskaia, 26) Kovalevski, 27) A.S. Kuklim, 28) V. Kaspárova, 29) Komandir, 30) Kagalim, 31) Kostritski, 32) A. Konhkova, 33) I. N. Katalínov, 34) M. Lashévitch, 35) V. Levim, 36) G. Lubim, 37) P. Lelosol, 38) Lizdinh, 39) G. Lobánov, 40) N. Murálov, 41) A. Mínichev, 42) N. Nikoláev, 43) M. I. Natamsom, 44) I. Piatakov, 45) V. Ponomariov, 46) Pitashko, 47) A. Petersom, 48) I. Paulsop, 49) I. Reingold, 50) O. Rávitch, 51) K. Rádek, 52) Jr. Rakovski, 53) Rotskám, 54) R. Rafaíl, 55) V. Rumiántsev, 56) G. Safárov, 57) I. Esmilga, 58) Sokolov, 59) K. Soloviov, 60) L. Sosnovski, 61) I. N. Smirnov, 62) Z. Senkov, 63) Túzhikov, 64) F. Tartakóvskaia, 65) O. Tarkhánov, 66) I. I. Tarásov, 67) Ukonem, 68) Gr. Fiódorov, 69) Iv. Fortim, 70) Iv. Filíppov, 71) N. Kharitónov, 72) Chernov, 73) M. Shepsheliova, 74) E. Eshba, 75) Z. I. Lílina.
E do grupo de Saprónov “como evidentemente anti-revolucionario”: 1) N. Zavariám , 2) B. Emeliániov (Kalim), 3) M. N. Mino, 4) M. I. Minkov, 5) V. M. Smirnov, 6) T. Khárechko, 7) V. P. Oborim, 8) S. Shráiber, 9) M. Smirnov, 10) F. I. Pilipenko, 11) E. Duné, 12) A. L. Slidóvker, 13) L. Tíkhonov, 14) Ustímchik, 15) A. Bolshakov, 16) D. I. Kirílov, 17) P. P. Mikini, 18) M. V. Proniáev, 19) V. F. Várguzov, 20) P. L. Stróganov, 21) M. S. Penkó, 22) P. S. Chersánov, 23) D. G. Putilim. (Contra el Trotskismo, págs. 295-296).
O 19 de Janeiro de 1.928, a imprensa publicou a relação dos trinta membros da oposição que saíam deportados para a Sibéria.
[114] A Resolução dos Conselhos Operários do 11.º distrito de Budapeste, assinado em 12 de Novembro de 1956 e o Manifesto do Conselho Central Operário do Grão Budapeste de 14 de Novembro de 1.956, falam claramente de uma luita por voltar aos primórdios da Revolução de Outubro, como antes no levantamento operário de Berlim-Leste em 1953, como na Polônia em 1.956 e há acontecer depois na Checoslováquia em 1.968 e outra vez na Polônia em 1.970. Como bem dissera Rosa, “o futuro pertence por toda a parte ao «bolchevismo»”. Certamente o rescaldo, o remol bolchevique, nunca deixara de aquecer as ideias de liberação. Segundo relata Fernando Claudín no seu livro “La oposición en el «socialismo real»”, em 1956 um grupo encabeçado por Wolfgang Harich “apresenta a necessidade de enriquecer o «marxismo-leninismo» com os contributos de Trotski, Rosa Luxemburgo, Bukharine e mesmo Kautski. Proposta escandalosa na Alemanha de Ulbricht” (pág. 215). Na União Soviética em 1.978 um grupo dirigido polos estudantes de história Arkadi Surkov e Alexander Skobod, que fundaram um grupo opositor com o nome de Oposição de Esquerda ou Nova Esquerda discutiam de problemas políticos, filosóficos e artísticos, foi desmantelada. A polícia achou textos de Bakunine, livros proibidos dos anos vinte, obras de Trotski, traduções de Marcuse, etc... (pág. 96).
Consideravam os bolcheviques-leninistas o seu calvário de maneira nenhuma inútil? Pois não.
[115] Leopold Trepper, El gran juego, pág. 68.
[116] O texto pode-se ler no volume La oposición de izquierda en la U.R.S.S., págs. 181-201, Editorial Fontamara, Barcelona, 1977.
[117] Rusia al desnudo, Editorial Cenit, Madrid, 1930.
[118] Quem fora saudado polo romancista valenciano Blasco Ibáñez como “um boêmio inspirado e genial, da mesma família que Gorki e Jack London” (Carta-prólogo em Kyra Kyralinae Os cardos do barregão, Ediciones Lux, Barcelona, 1920, 1925 e 1926), viajou à URSS em 1.928 convidado polo seu amigo Christian Rakovski em companhia do romancista grego Nikos Kazantzakis, a bela Bilili e Helena Sámios (La verdadera tragedia de Panait Istrati, Elena Samios, Ed. Ercilla, Santiago de Chile, 1938), onde olhou a degeneração da Grande Revolução de Outubro: “Eu não sou um teórico, mas entendo o socialismo de outra maneira” (Vitor Serge, Memorias de un revolucionario, Ed. El Caballito, México, 1973, p. 291). Vitor Serge relatará a valentia com que Istrati se enfrentara um paifoco burocrata que lhe argumentava: «“Panait, não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos”... Espetando-lhe a tergo: “Bom, bem vejo os ovos rompidos. Aonde vai a omelete?”» (Memorias de un revolucionario, Ed. El caballito, México, 1973, p. 302). A sua radical atitude há-lhe custar muito caro. Convertido pola propaganda oficial num traidor, morreu isolado e esquecido em Bucareste em 16 de Abril de 1.935.
[119] Que juzgue la historia, pág. 97.
[120]Contribuição à crítica do projecto de programa social democrata de 1891, em Obras Escogidas en tres tomos, Vol III, pág. 456, Editorial Progreso, Moscovo, 1981.
[121] La Revolución rusa, em Obras Escogidas, Vol. 2, pág. 148.
[122] Edward Hallet Carr faz dele uma fotografia de grande perfeição: “Um empirista inglês diria: «Deixemos à teoria que cuide de si, e sigamos com o nosso trabalho». Estaline, como marxista, tinha que envolver essa ideia com tediosos adornos doutrinais; mas no fundo vinha dizer o mesmo”. Estudios sobre la revolución, pág. 214.
[123] Aufgefressen wurde ich
Von den Miittelmäßigkeiten.
[124] Rodolfo Llopis (Callosa d´En Sarrià, 1895 – Albi, 1983) (militante do Partido Socialista Operário Espanhol - PSOE - desde 1917, Director Geral de Primeiro Ensino durante a IIª República e depois Presidente do Governo da República espanhola no exílio desde 1.947 até 1.976), a quem não se lhe devem atribuir veleidades comunistas, em finais dos anos vinte do século passado escrevera para o jornal madrileno El Sol uma coleção de dez artigos fruto de uma viagem pola Rússia revolucionária, recolhidos depois num livro sob o título Cómo se forja un pueblo, fornece-nos uma plástica impressão daqueles anos: “Durante o comunismo de guerra –dizia-me um trotskista- o país era um verdadeiro campamento. Não se discutia. Era o momento de agir. Terminada a guerra civil, no 21, chegou a NEP. Houve uma volta para a direita. Confiávamos sair daquela situação com a revolução mundial. As nossas esperanças cifravam-se na Alemanha. Claro é que a Polônia ficava atravessada no nosso caminho. Mas a Polônia não tinha senão eleger: Ou servia de ponte, ou servia de barreira. Tanto tinha. Chegou 1.923. O fracasso alemão repercutiu bastante na Rússia. As possibilidades da revolução mundial afastavam-se. Trotski já não queria quartel, embora democracia. Democracia proletária, desde logo. Então muito se falou da possibilidade de construir o socialismo num só país. Isso não o podem defender mais que os que têm mentalidade de pequeno-burguês”. Cómo se forja un pueblo. La Rusia que yo he visto, pág. 262, Editorial España, Madrid, 1929.
[125] Cómo se forja un pueblo, pág. 228.
[126] Manifesto Comunista, Abrente Editora, A Corunha, 1998, pág. 70.